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Abandonada, Cidade das Crianças em Queimados (RJ) voltará a ser uma estrada

Fabíola Ortiz<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>No Rio de Janeiro

27/07/2011 07h03

Em plenas férias escolares de julho, o pequeno Ronaldo da Conceição, 12, é um dos poucos que ainda frequenta a Cidade das Crianças, no centro de Queimados, na Baixada Fluminense. Na tarde da última segunda-feira (25), ele era um dos únicos a brincar na praça –a maioria dos pedestres que circula pela área de lazer usa o local apenas como  corredor de passagem para cortar caminho.

Não é para menos: na Cidade das Crianças não há brinquedos, nem escorregador ou pula-pula. Há apenas vestígios de um dia ter havido quiosques para vender lanches e ter sido ocupada por crianças.

Inaugurada no final de 2008, ano de eleições municipais, a Cidade das Crianças está completamente abandonada, apesar de ser uma das poucas áreas de lazer na pequena cidade que fica a 50 quilômetros do Rio de Janeiro e que tem 130 mil habitantes.

No local há apenas matagal, entulho dos quiosques que já foram demolidos, uma rampa de skate pichada sem uso, uma quadra esportiva abandonada, lixo e muros pichados.

“Aqui não tem nada para brincar, só dá para soltar pipa. Às vezes tem gente que joga bola lá na quadra. De noite aqui é muito perigoso, tem ladrão. Meu colega já foi assaltado e tem gente ‘fumando’ droga”, afirma o pequeno Ronaldo. Seu amigo Caio Almeida, 13, se juntou a Ronaldo para empinar a pipa, mas diz que não gosta de ir à praça. “Eu não gosto de vir aqui, não tem o que fazer e fica perigoso.”

Ronaldo lembra que a praça costumava ficar cheia antigamente, há cerca de um ano. “Aqui já teve pula-pula, tinha também barraquinha de pipoca.”

O bancário Valci Santana, 52 anos e que vive há dez próximo à praça, lamenta o estado da área de lazer. “O prefeito anterior resolveu fazer uma praça aqui. Foi muito bom no início, mas não conseguiu se reeleger e entrou um outro prefeito, que não deu continuidade ao serviço. Ficou abandonada, começou a ter roubo e depredaram”, disse ao UOL Notícias. “Em Queimados, falta lazer. Tem que ir para Nova Iguaçu [município vizinho], são 15 quilômetros de carro. Aqui mesmo não tem nada.”

Local deveria ser estrada, diz prefeitura

Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Queimados, a Cidade das Crianças foi construída em “um local onde deveria ser uma estrada: a Estrada de Queimados”. Era uma via vicinal que ligava o centro de Queimados ao bairro de Engenheiro Pedreira, no município vizinho de Japeri.

Por isso, o local está sendo “desmontado” e todo o material retirado do espaço foi catalogado e realocado para outras áreas da cidade. A demolição da praça começou a ser feita no início do ano.

Em comunicado divulgado à reportagem, a obra realizada na época, pela gestão municipal anterior –e que custou em torno de R$ 1 milhão–, não obedeceu a regras necessárias de infraestrutura para construir um praça pública com “drenagem, cerca para crianças, arborização e estrutura de guarda municipal para garantir a segurança do local”.

A antiga estrada vicinal será retomada no local, mas a prefeitura afirma que tem um projeto para construir uma nova praça para os moradores. Num período de 60 a 90 dias, as obras devem começar. A nova praça, segundo a prefeitura, chamará “Alegria” e terá “quadra poliesportiva coberta, playground para as crianças, espaço de convivência para idosos, será arborizada, terá drenagem e segurança para a população”.

De acordo com a assessoria, o processo licitatório para as obras já começou há cerca de dois meses.

Entre os moradores ouvidos pelo UOL Notícias, entretanto, há falta de informação sobre os novos projetos da prefeitura. As informações, alega a assessoria, só serão efetivamente divulgadas após a conclusão do processo licitatório.

Vizinhos relatam descaso em praça

Marcos Paulo Mendes, 37, que tem uma filha de 3 anos, disse que não deixa a menina frequentar a praça atual. “Lógico que teria medo. Tem pessoas fumando, eu passei e já vi. De noite eu não passo por aqui não, a iluminação é precária também.”

Mãe de três filhos, a dona de casa Lilian de Jesus, 32, afirma passar raramente pela praça. “Tenho medo porque agora ficou esquisito, não é mais aquela pracinha que a gente enchia os olhos. Até ano passado tinha muito movimento, agora não tem ninguém. Funcionava legal, tinha vendedor de pipoca. Eu vinha com meus filhos”, relembra.

Lilian lembra que, antes da praça, havia uma rua com muito fluxo de ônibus. “Eu preferia deixar a praça para as crianças. Aqui em Queimados quase não tem nada para as crianças se divertirem”, finaliza.