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Camelôs prometem protestos diários se continuarem proibidos no Brás

Débora Melo<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

26/10/2011 12h06

O presidente do Sindicato Independente dos Camelôs do Estado de São Paulo, Leandro Dantas, disse nesta quarta-feira (26) que os ambulantes vão trabalhar na Feira da Madrugada do Brás todos os dias, mesmo com a fiscalização que os impede de montar suas barracas. Se forem impedidos, afirma Dantas, os camelôs resistirão a sair do local, como têm feito desde o início desta semana.

O dirigente afirma que os protestos serão pacíficos e que casos de vandalismo são "isolados". Ele diz ainda que os camelôs foram avisados há apenas 15 dias que teriam de deixar a Feira da Madrugada.

"A gente trabalha dez meses sem vender absolutamente nada, e quando chegam os dois melhores meses do ano, [os fiscais] querem nos tirar  daqui", diz. Segundo Dantas, os ambulantes concordariam em sair da região e ir para shoppings populares que a prefeitura oferecesse, mas não antes de janeiro.

Sobre os comerciantes que hesitam em abrir suas lojas nesta quarta-feira por receio de invasões e depredação, o dirigente diz que "os lojistas concordaram em fechar as lojas por uma hora, em apoio aos camelôs". Dantas afirma também que os camelôs são contra a intimidação de lojistas e depredação de estabelecimentos -mais cedo, duas pessoas foram presas por vandalismo, após os protestos.

Dia de fúria

Após protestos e confrontos na madrugada desta quarta-feira, os camelôs que trabalham na Brás, no centro de São Paulo, estão dispersos pela região. Mais cedo, dois deles foram presos por depredação. Alguns comerciantes estão com as portas entreabertas, prontos para fechar caso recomecem as manifestações violentas.

Desde ontem (25) os ambulantes protestam contra a fiscalização na Feira da Madrugada. Os camelôs afirmam que foram pegos de surpresa com o anúncio do fim da feira, já que as faixas informando a proibição foram colocadas nas ruas da região somente no último domingo. A Polícia Militar, porém, afirma que avisou os ambulantes sobre o fim da feira há um mês.

As lojas da rua Barão de Ladário e Oriente estão fechadas, e todos os funcionários na rua. Alguns comerciantes disseram ao UOL Notícias que são solidários aos camelôs, apesar dos prejuízos. Para Felipe Benevenuto Gonçalves, 30, dono de um comércio na rua Monsenhor Andrade, a prefeitura deveria deixar os camelôs trabalharem.

“Foi o comércio ambulante que alavancou o comércio na região”, afirma. Ele relativiza o prejuízo, dizendo que mesmo que abrisse hoje, não teria lucro, devido aos confrontos entre camelôs e a polícia. Outro comerciante, Hani Ihlal, 28, considera a concorrência com os ambulantes "desleal", já que os comerciantes regulares pagam impostos. "Mas acho que todo mundo tem o direito de trabalhar."

Ocupação

Segundo o major Wanderley Barbosa Filho, a Polícia Militar ficará na região por tempo indeterminado. O efetivo atual, reforçado, é de 800 PMs por dia (divididos em dois turnos), 52 carros de polícia e um helicóptero. Esse efetivo atuará 24 horas, segundo o major, para impedir bloqueios no trânsito como o da madrugada de hoje.

Mais cedo, os PMs usaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os ambulantes que bloqueavam a avenida do Estado junto à rua São Caetano, por volta das 7h. Antes disso, os camelôs e a PM já haviam entrado em confronto na rua Oriente, onde, por volta das 5h45, balas de borracha e bombas de efeito moral foram utilizadas pelos policiais para dispersar os manifestantes.

Confronto e quebra-quebra

Um grupo de camelôs depredou lojas que estavam abertas. Alguns manifestantes atiraram pedras contra vitrines e levaram roupas que estavam expostas. Um ônibus que passava pelo local também foi apedrejado e teve um vidro quebrado. As pedras atingiram também um PM que acompanhava o protesto, por volta das 9h40.

A avenida do Estado, que chegou a ser interditada pelos camelôs por duas vezes na manhã de hoje, já está liberada para o tráfego. Por conta das manifestações, o sentido Ipiranga da avenida do Estado apresentava tráfego lento entre as ruas Mercúrio e João Teodoro. A Feira da Madrugada funcionava normalmente, mas algumas lojas da região estavam com as portas fechadas ou entreabertas.  Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), os manifestantes passavam pela rua Monsenhor de Andrade, onde está uma das entradas para a Feira da Madrugada, e pelas ruas João Teodoro e João Jacinto.

*Com informações da Agência Estado