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MPF denuncia seis fazendeiros de Mato Grosso do Sul por assassinato de guaranis em 2009

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL Notícias, em Ponta Porã (MS)

18/11/2011 12h41

O Ministério Público Federal em Ponta Porã (346 km de Campo Grande) apresentou à Justiça denúncia contra seis fazendeiros do município de Paranhos (477 km de Campo Grande) pelo assassinato dos professores guaranis Givanildo Vera e Rolindo Vera, ocorrido em outubro de 2009, crime que teve repercussão internacional. 

Os denunciados são o presidente do sindicato rural de Paranhos, Moacir João Macedo, os irmãos Rui, Evaldo e Fermino Escobar Filho, da fazenda São Luiz, Joanelse Tavares Pinheiro, da fazenda Taquarey, e Antônio Pereira. A Justiça ainda não decidiu se acata o pedido do MPF. Os três da família Escobar negaram as acusações. Os demais não foram localizados.

Givanildo foi morto com um tiro nas costas. O corpo de Rolindo nunca foi encontrado. Os dois eram ativistas na luta por terras de seus ancestrais da etnia guarani-kaiowá. A ONG Anistia Internacional usava o crime dos professores como exemplo de impunidade da violência contra os guaranis. Ela fez campanha no exterior pedindo apuração do caso e cobrando do governo a demarcação das terras deles. 

O inquérito da Polícia Federal demorou dois anos. Segundo a denúncia do MPF, os seis fazendeiros saíam ao anoitecer em seus veículos para perseguir índios na beira das estradas. Eles atacavam mascarados e usando armas de diversos calibres. Entre as provas, os peritos apresentaram cartuchos recolhidos que combinaram com armas apreendidas nas fazendas.

O motivo seria evitar a demarcação de terras da aldeia Y’poi, nascida de uma invasão em 2009 e encravada na fazenda São Luiz, a 15 km da sede do município, na fronteira com o Paraguai. A aldeia ocupa 80 dos 2.000 hectares da fazenda, propriedade de Fermino Aurélio Escobar, 79, pai de três dos fazendeiros denunciados. Ele pediu à Justiça a expulsão dos índios da Y’poi, alegando que sua família tem a posse da área desde 1886.

"Índios atacam empregados da fazenda"

Na ocasião da invasão, Escobar deu queixa na delegacia de Paranhos. Em seguida, jagunços desmancharam o acampamento. A Justiça interveio e manteve os guaranis no terreno onde estão hoje – um estudo da Funai indicou que a área pertenceu aos ancestrais guaranis, o que daria direitos aos indígenas sobre ela.

Com a disputa, os índios da Y'poi são impedidos de passar pelas terras da família Escobar. Só podem acessar a aldeia na escuridão ou por um desvio de quatro quilômetros por território paraguaio. Os fazendeiros exigem ordem judicial até para entrega de cestas básicas do governo – o grupo tem cerca de 40 famílias.

Escobar disse que desde a invasão índios armados vêm atacando os empregados dele e que a que a polícia nada faz para protegê-los. "Eles bebem, invadem nossas terras, brigam, se matam entre si e jogam a culpa nos outros, depois aparecem na imprensa como coitadinhos", disse Escobar.

Além da aldeia Y'poi, a Funai tenta desde 2007 demarcar 30 áreas indígenas em Mato Grosso do Sul.  Ações judiciais impedem o trabalho. Cerca de 5.000 índios aguardam terra na região. Segundo dados do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), da CNBB), de 38 índios assassinados no Brasil em 2011, 27 foram em Mato Grosso do Sul.

Em outubro, um enviado do Presidência da República, Paulo Maldos, da Secretaria de Articulação Social,  visitou a aldeia Y'poi, ainda palco de intensa disputa - lá, em setembro, um terceiro indígena, Teodoro Recalde, primo dos professores, também foi assassinado. Maldos prometeu aos caciques "um plano de pacificação", anunciando ações para novembro.

Uma força-tarefa da PF investiga o último assassinato. Neste caso, testemunhas acusaram um jagunço conhecido na área como "Negão". O delegado Guilherme Santana ainda não está convencido. Ele disse que já viu "muitos casos (de assassinato de índios) que parecem coisa de jagunços, mas não são, e outros que parecem coisas dos próprios índios, mas que são de jagunços".