IML de Maceió não retira balas, e corpo de modelo assassinado terá de ser exumado
A Justiça de Alagoas determinou nesta quinta-feira (5) que o corpo do modelo Eric Alexandre Ferraz --assassinado durante uma festa de Réveillon na cidade de Viçosa, a 87 km de Maceió-- seja exumado a fim de garantir o andamento das investigações. O pedido foi feito pelo delegado Belmiro Cavalcante, que percebeu a falta de “pequenos” detalhes para concluir as investigações: as balas usadas no crime não foram retiradas do corpo da vítima.
A determinação da exumação do corpo do modelo foi dada pelo juiz Luciano Andrade de Souza, da comarca de Viçosa. Sem os projéteis, a polícia não tem como fazer o exame de balística necessário para identificar a arma do crime. Ainda não foi definida a data da exumação do corpo do modelo, sepultado no cemitério da cidade de Marechal Deodoro, na região metropolitana de Maceió.
Segundo o IML (Instituto Médico Legal) de Maceió, para onde o corpo foi levado para necropsia, não é comum ocorrer a liberação de corpos sem a retirada de projéteis, como aconteceu no caso do corpo do modelo Eric Ferraz. A direção do órgão informou ao UOL Notícias que já solicitou um justificativa do médico legista que realizou a necropsia no corpo para analisar se será aberta uma sindicância administrativa contra o perito.
De acordo com o assessor de imprensa do IML, Aarão José da Silva, os médicos estão alegando que não retiraram os projéteis devido a falta de um aparelho de raio-X para a localização de balas em corpos assassinados a tiros. “Mas isso não justifica a não retirada das balas, pois existem técnicas na medicina legal para extração sem o aparelho de raio-X. O aparelho apenas facilitaria a localização, pois os médicos têm como retirar balas sem esse auxílio, apenas usando essas técnicas”, informou. O IML de Maceió e o de Arapiraca contam com dois médicos legistas por plantão cada um.
Caso é "absurdo", diz MP
Para o promotor da comarca de Viçosa e responsável pelo caso, Anderson Cláudio Barbosa, o fato de o IML não ter retirado as três balas do corpo do modelo foi erro grave e “não se justifica” pela falta de um equipamento. “É lamentável que um exame de corpo de delito não tenha sido feito da maneira correta e, em razão da falha, o corpo de uma vítima terá que ser exumado. Com esses projéteis é que vamos saber qual foi arma do crime, e se foi apenas uma arma usada. O exame de corpo de delito é fundamental para a propositura da ação penal, que tem o MP [Ministério Público] como autor”, disse.
O promotor disse que o trabalho de acusação criminal em Alagoas é dificultado pela falta de estrutura de investigação e cobrou investimentos por parte do governo do Estado. “É absurdo, mas isso decorreu também pela falta de um equipamento de raio-X parta detectar a bala no corpo. Também ajudou, no caso, o grande número de homicídios no Estado --me parece que eram mais de 20 corpos para periciar no dia em que Eric estava lá. Mas é um absurdo o IML não ter um equipamento desses. Cabe ao governo equipar o nosso instituto de criminalística, nossa polícia científica. Hoje, os crimes são apurados somente por provas testemunhais, e quem mais sofre com isso é o MP, que tem que provar o autor do crime”, afirmou.
Apesar da deficiência do exame de corpo de delito, o promotor disse que as investigações estão caminhando. “Independente do laudo pericial, as investigações estão sendo feitas, as provas estão sendo colhidas e buscas foram realizadas. E pode ter certeza que o MP irá fornecer denúncia contra os autores do crime”, finalizou.
O caso
O assassinato do modelo teve grande repercussão em Alagoas, principalmente após o pai da vítima, Edglenes Santos, se acorrentar em praça pública, no centro de Maceió. Ele fez greve de fome e exigiu uma audiência com o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), que garantiu a ele que a polícia está investigando o caso.
O principal acusado do crime é o comerciante Judarley Leite de Oliveira, que está foragido, e seu irmão, o policial civil Jaysley Oliveira, que está preso. Nesta quarta-feira (4), a polícia prendeu o caseiro João Alfredo dos Santos Silva, que trabalha para o filho de Judarley. Ele estava com uma pistola, que pode ter sido usada no crime. Segundo a polícia, antes de fugir, Judarley teria pedido a familiares para esconder os objetos. Duas armas já foram apreendidas e a polícia espera os projéteis para saber se foram delas que saíram os disparos que mataram o modelo.
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