Empresária põe nome de ex-marido em lista de desaparecidos para poder receber seguro
Uma trama classificada como digna de filmes pela polícia civil mineira está sendo investigada na cidade de Teófilo Otoni (468 km de Belo Horizonte). Segundo a polícia, a empresária Marcella Souza Pimenta é suspeita de ter elaborado a morte do marido, cujo corpo foi encontrado no início de 2011 em zona rural da cidade.
Marcella chegou a reconhecer como sendo do marido o corpo de uma vítima de enchente localizada na cidade de Governador Valadares (329 km de Belo Horizonte). “Paralelamente a isso, ela colocou o nome dele na lista de desaparecidos das chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro, mais precisamente em Teresópolis”, disse o delegado João Augusto Ferraz.
A motivação para o crime seria um seguro de vida de R$ 700 mil feito em nome de Antônio Evaldo Rodrigues Freire, tendo como única beneficiária a esposa. De acordo com o delegado, à época do crime a investigação apontava para um suposto suicídio, já que o tiro foi disparado na boca do homem.
No entanto, segundo o policial, iniciou-se nessa época um périplo dos supostos autores do crime para tentar “mudar” a causa da morte do homem, porque no contrato do seguro havia cláusula que desobrigava a seguradora a indenizar a beneficiária se a morte fosse por suicídio. “A gente acredita que ela só soube dessa cláusula depois que ele morreu, e aí tentou dar uma outra causa para a morte", disse.
O delegado informou ter alertado o Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a fraude. Conforme o promotor Pedro Borges Mourão, coordenador do Plid (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos) do Ministério Público do Rio de Janeiro, a comunicação sobre o suposto desaparecimento de Freire foi feita pela mulher por meio eletrônico.
“A partir da comunicação online foi gerado um registro no banco de dados, e a gente passou a publicar aquele desaparecido na região serrana”, disse Mourão, para acrescentar ter recebido fotos do homem com a informação de que ele estaria diferente delas por ter cortado o cabelo. “A explicação dada na comunicação foi a de que ele estava, no momento das chuvas, em companhia de amigos, em Teresópolis.”
O promotor afirmou ter se surpreendido com o contato feito pela polícia de Teófilo Otoni. “A gente ficou muito perplexo não entendendo como a chuva teria levado o corpo morro acima, para Minas Gerais. Mas logo foi explicado que se tratava de uma falsa comunicação de desaparecimento e que a vítima teria sido alvo de homicídio. Para nós, o caso foi encerrado, e só restou o folclore de alguém ter pensado em algo tão maquiavélico”, disse.
Suspeita cumpre pena por roubo
O delegado Ferraz disse que a empresária Marcella Souza Pimenta está confinada em presídio de Governador Valadares (MG), onde cumpre pena de nove anos pela participação em um assalto supostamente planejado por ela em fevereiro de 2011 no prédio em que morava. Segundo o investigador, o alvo era um morador que havia retornado dos Estados Unidos com grande quantia de dinheiro e mercadorias importadas.
“Ela, inicialmente, passou-se por uma das vítimas desse assalto, mas isso me causou uma desconfiança muito grande. Descobrimos que ela mantinha contato com os suspeitos que assaltaram o prédio, inclusive apontando o apartamento da vítima”, disse.
Para tanto, ele afirmou ter conseguido autorização da Justiça para a quebra do sigilo telefônico da empresária. “Passamos a acompanhar de perto os laudos das interceptações e descobrimos que esse roubo foi uma armação até relativamente bem feita. Mas conseguimos provar que, no espaço de um mês, ela fez 400 ligações para um dos envolvidos no assalto”, afirmou.
Ferraz declarou ainda que suspeitos presos pela participação no assalto apontaram a empresária como a mentora do crime. Um das provas mais contundentes contra a empresária, segundo a polícia, seria a comprovação de que a arma usada na morte do marido teria sido comprada por um dos comparsas dela.
O UOL não conseguiu entrar em contato com advogados da mulher.
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