Topo

Postos continuam sem combustível em São Paulo; normalização do serviço pode demorar até uma semana

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

07/03/2012 16h21Atualizada em 07/03/2012 18h04

O presidente do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), Alísio Vaz, afirmou em entrevista coletiva no final da tarde desta quarta-feira (7) que os postos de combustível de São Paulo estão totalmente sem gasolina. “Os postos não têm mais gasolina, alguns têm apenas estoque de álcool, mas isso acabará em breve”, afirmou.

Os caminhoneiros autônomos que abastecem São Paulo paralisaram os trabalhos na última segunda-feira em protesto à proibição de circular na marginal Tietê. O Sindicam (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens do Estado) acatou a decisão da Justiça que determinou ontem a retomada da distribuição, mas a decisão final deve ser tomada em assembleia

"100% dos cerca de 2.100 postos da Grande São Paulo estão com o estoque de gasolina zerado e devem zerar ainda hoje o estoque de álcool e diesel", completou José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro (sindicato dos postos de combustível). Cidades do interior também começam a registrar problemas.

Segundo Vaz, 2 milhões de litros de combustível saíram hoje das bases das distribuidoras em 84 caminhões escoltados pela polícia, até as 14h, mas a demanda para a Grande São Paulo é de 30 a 40 milhões por dia, ou seja, apenas entre 5% e 6% da demanda foi atendida. Os caminhões que saíram, contudo, estão se dirigindo a serviços essenciais, como polícias, bombeiros e saúde. "Apenas cerca de 10% das entregas vão para postos. Os comboios estão com escolta, mas não há possibilidade de escoltar todos", afirmou o presidente.

A reportagem do UOL visitou 12 postos nesta quarta-feira (7), entre 13h e 16h. Apenas três tinham combustível para oferecer. Um deles, na avenida Francisco Matarazzo, região oeste de São Paulo, contava apenas com etanol, a custo de 1,79 o litro. Com o movimento intenso, o funcionário Márcio Araújo acreditava que o estoque não duraria mais do que duas horas.

Outro posto, na avenida Ermano Marchetti, também na zona oeste, não enfrentava problemas de abastecimento pois conta com um caminhão-tanque próprio. Contudo, o preço do litro da gasolina e do etanol aumentou em R$ 0,20.  O proprietário, Paulo Kazuo, explica que passou a buscar combustível na cidade de Paulínia ao invés de Barueri. Ele alega que por ter que percorrer uma distância maior, não houve como não repassar o custo ao consumidor.

Um terceiro posto, no alto de Pinheiros, tinha gasolina e cobrava R$ 2,59 o litro.

Normalização do serviço

Os sindicatos afirmam que estão tentando negociar com a Prefeitura de São Paulo e com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) um meio de liberar os caminhões durante a restrição apenas para facilitar o restabelecimento de São Paulo. Ainda não há uma posição oficial da prefeitura.

Pelos cálculos do sindicato, caso não haja flexibilização da prefeitura, a normalização do serviço deve demorar de sete a oito dias --aberta a exceção, o serviço pode voltar em três ou quatro. Os sindicatos ressaltam que os cálculos são baseados na hipótese de os trabalhadores voltarem ao trabalho ainda hoje, respeitando a decisão judicial. Se, na assembleia ficar decidido que o movimento continua, novas medidas judiciais devem ser estudadas.

Gouveia classificou o impasse como uma "briga onde quem paga a conta é o consumidor" e atribuiu parte da solução do problema ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). "Ele tem que ceder. Concordamos com a restrição, todos quereremos uma marginal Tietê melhor, mas a logística tem que ser repensada."


Escoltas

A Polícia Militar de São Paulo retomou hoje (7) às 9h30 as escoltas a caminhões-tanque que não aderiram à paralisação. Segundo o chefe de comunicação da PM, major Marcel Lacerda Soffner, a retomada das escoltas foi necessária devido a um incidente registrado próximo a uma base de distribuição da avenida Presidente Wilson, no Ipiranga (zona sul), quase na divisa com São Caetano do Sul (ABC). Lá, um piquete de grevistas teria ameaçado barrar dois caminhões da distribuidora Shell.

“Hoje de manhã, a situação era de normalidade. Mas com o incidente das 9h30 tivemos de retomar as escoltas, e isso fez com que se retomasse o status de ontem”, disse o major.

O gabinete de crise foi montado ontem pela PM e as principais distribuidoras de combustíveis para impedir que grevistas barrassem os caminhões de combustível que não estivessem participando da greve.

Preços abusivos

Até o final da tarde desta quarta (7), ao menos quatro gerentes de postos haviam sido detidos pelos preços abusivos cobrados nos postos de combustíveis de São Paulo.

A Fundação Procon-SP está recebendo denúncias sobre os abusos e, até o momento, 42 casos foram registrados apenas na capital. O órgão esclarece que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, é considerada como prática abusiva “elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”.

“É muito importante que o consumidor exija a nota fiscal e denuncie. Na capital a denúncia pode ser feita pelo telefone 151”, afirma o Procon. O diretor executivo, Paulo Arthur Góes, informa que as denúncias serão investigadas pelo órgão e “se confirmada a conduta, o posto será multado e o caso encaminhado ao Ministério Público, para análise da questão criminal”. O valor da multa varia entre R$ 400 a R$ 6 milhões.

Consumidores reclamam das filas e dos preços abusivos. "Falei com meu pai agora e ele me disse para abastecer porque está faltando combustível. Só que o primeiro posto em que eu parei me cobrou R$ 3,60 o litro da gasolina aditivada, porque não tinha a comum", reclamou o empresário Ricardo Nascimento, que costuma pagar R$ 2,90 o litro.

(Com agências Estado e Valor)