Com média de três processos por município, Alagoas ganha força-tarefa para julgar casos de improbidade
Conhecido pelos escândalos políticos, o Estado de Alagoas terá um força-tarefa para analisar ações de improbidade administrativa que tramitam no judiciário envolvendo gestores públicos. Segundo o TJ-AL (Tribunal de Justiça de Alagoas), existem 343 processos em trâmite, o que dá uma média superior a três processos para cada um dos 102 municípios alagoanos.
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Para analisar os casos, foi criado um grupo composto por cinco juízes que vão atuar como auxiliares nos processos que tramitam nas Varas da Fazenda Pública da capital e nas Varas do interior. Os nomes do magistrados escolhidos foram publicados em portaria no Diário Oficial da Justiça desta quinta-feira (8), que oficializou a criação da força-tarefa. Os magistrados contam com a ajuda de técnicos fazendários da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda.
“É um número gigantesco de processos. Se pudéssemos somar os recursos desviados que estão nessa ações, chegaríamos a uma cifra astronômica, que tiraria Alagoas da pobreza em que está”, afirmou o coordenador em Alagoas do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), advogado Adriano Argolo.
Somente as duas maiores ações que tramitam na Justiça acusam gestores e empresas por desvios na ordem de R$ 500 milhões. A primeira é referente à Operação Taturana, desencadeada pela Polícia Federal, em 2007, que investigou ex e atuais deputados em um esquema de desvio da Assembleia Legislativa na ordem de R$ 300 milhões. Já a denúncia do MP (Ministério Público Estadual) contra a chamada “máfia do lixo” acusa o prefeito de Maceió, Cícero Almeida (PP), e mais 15 pessoas, por um suposto esquema fraudulento de R$ 200 milhões, desviados dos recursos da coleta do lixo urbano da capital alagoana.
No último domingo, o UOL revelou que as duas empresas acusadas de participação no suposto esquema em Maceió, e que ainda sequer foram citadas no processo enviado à Justiça em novembro de 2010, venceram a licitação e vão coletar o lixo nos próximos cinco anos em Maceió. Para isso, vão receber R$ 493 milhões.
“Ficamos de mãos atadas, pois não posso impedir [a contratação]. Legalmente, nem rés no processo essas empresas são ainda. Isso é grave e é o malefício que a impunidade causa. Se houvesse o julgamento e fossem absolvidas, ninguém estaria falando nada. Mas esse estado de dúvida é ainda pior. Se elas fossem condenadas, como pedimos, não estariam sendo recontratadas”, disse o promotor Marcus Rômulo, autor da ação de improbidade adminsitrativa.
A atuação do grupo
Os juízes escolhidos pelo TJ-AL foram selecionados pela atuação na área fazendária e por serem responsáveis por varas com poucos processos pendentes. Assim, a ideia é que os magistrados se dediquem às causas que envolvam desvio de recursos. Para isso, eles terão sala própria.
Segundo o presidente do tribunal, Sebastião Costa Filho, a criação o grupo foi recomendado pela corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), ministra Eliana Calmon, que teria criticado a demora na apreciação de ações contra gestores. Ele explica que a falta de técnicos que analisem contas públicas é um dos calos do judiciário local, que terá agora apoio de instituições fazendárias. “Escolhemos magistrados com larga experiência em processos administrativos e que vão contribuir para o julgamento célere destas ações. Eles também terão apoio de especialistas de órgãos como a Receita Federal e Secretaria da Fazenda, por exemplo, para melhor embasar suas decisões”, disse.
Costa Filho explicou que, apesar do colegiado para analisar as causas, a decisão dos processos respeitará a lei da magistratura e será assinada pelo juiz titular da vara onde tramita. “No futuro, a depender do resultado desse trabalho, poderemos estudar ter uma vara especial para os casos de improbidade”, afirmou.
Decisão elogiada
A criação da força-tarefa foi elogiada pelas entidades representativas e que lutam contra a corrupção em Alagoas. Para o presidente da OAB-AL (Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas), Omar Coelho de Melo, o grupo vem em boa hora, já que as regras eleitorais passam por mudanças com a aprovação da Lei da Ficha Limpa, aprovada pelo Congresso Nacional e validada, no mês passado, pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
“A situação dos processos em Alagoas, de um modo geral, é de lentidão. A gente vê com muita satisfação a vontade do tribunal em fazer com que os processos andem. São as decisões que vão gerar o ficha limpa. É uma contribuição inestimável que o judiciário local dá, fazendo com que os processos andem, para saber afinal quem é 'ficha limpa'. Hoje, como vamos saber se os processos não são julgados?”, questionou.
O cordenador do MCCE em Alagoas também elogiou a iniciativa, mas fez uma ressalva no que se refere à Lei da Ficha Limpa. “Esperamos que surja efeito prático desse grupo, que é louvável. Você ter um um grupo de juízes trabalhando em diversos processos é melhor que uma vara. Mas é importante o TJ-AL julgar as causas, já em segunda instância, que também se acumulam. As decisões em primeira instância não são alcançadas pela Lei da Ficha Limpa. Por isso é importante o TJ-AL agilizar os seus processos”, afirmou Adriano Argolo.
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