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No Piauí, estiagem já é considerada a pior dos últimos 15 anos; há 52 municípios em emergência

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

29/03/2012 16h57

A estiagem desde o início do ano já está sendo considerada a maior enfrentada nos últimos 15 anos pelos moradores do semiárido do Piauí. Segundo a Defesa Civil estadual, o principal período chuvoso da região --que deveria ter começado em fevereiro e seguir até abril-- está com precipitações muito abaixo da média, o que levou 52 municípios a terem a situação de emergência reconhecida pelo governo federal.

Nesta quinta-feira (29), 50 decretos foram reconhecidos pela Secretaria Nacional de Defesa Civil e publicados no Diário Oficial da União. Outras duas cidades já haviam tido a situação reconhecida anteriormente. A partir de agora, a Defesa Civil piauiense terá 30 dias para apresentar um plano de trabalho, mostrar os problemas e pedir apoio federal nas ações de redução dos efeitos causados pela falta de chuva.

Segundo o diretor da unidade da Defesa do Piauí, Jerry Herbert, a estiagem arrasou plantações e está matando animais de sede por toda a região central do Estado. A produção de mel já foi bastante afetada, e em muitas cidades não há sequer mananciais com água para que carros-pipa sejam abastecidos. Para se ter ideia do problema, no ano passado eram apenas dois municípios em situação de emergência por conta da estiagem.

“Essa é, sem dúvida, a maior seca dos últimos 15 anos. É uma situação atípica. Aqui, o período que mais chove vai de fevereiro a abril, e tivemos chuvas ocasionais e temos pouca perspectivas para o resto do período. Hoje mesmo estivemos na Fetag [Federação dos Trabalhadores da Agricultura], e as pessoas estão procurando saber que medidas estão sendo adotadas, porque há uma aflição. Nós já fizemos uma solicitação oficial, que foi atendida, e o Estado decretou todos os municípios, o que facilitou a situação lá em Brasília. Agora, vamos em busca dos recursos federais”, disse, afirmando que o número real de pessoas afetadas está sendo contabilizado pelas autoridades.

Segundo Herbert, a principal reivindicação é a ampliação imediata da quantidade de caminhões-pipa para atender a população e animais e a entrega de cestas básicas. “A situação é crítica, pois se não chegarmos logo, vai morrer gente de fome. A lavoura está toda perdida. O sertanejo perdeu tudo, pois as chuvas ocasionais não servem para a lavoura. A situação só não é pior por conta de obras preventivas que foram feitas, quando entregamos, no início do ano, mais de 150 km de adutoras. Elas levam água a muito desses municípios, que passam a ter um chafariz”, afirmou.

Além das ações emergenciais, o Estado também vai pedir ao governo federal investimentos a médio e longo prazos. “Queremos a construção de barragens, cisternas e perfuração de poços. Estamos fazendo um plano de trabalho, para apresentarmos nos próximos 30 dias em Brasília”, adiantou.

Para os criadores de gado do sul do Piauí, os animais estão ameaçados de morte. Na região, a pecuária é a principal atividade econômica. A estiagem também afetou a produção de mel: segundo informou a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileira, a estimativa é que a produção tenha caído em torno de 50%.

Outros Estados

A situação de estiagem também é crítica em outros Estados nordestinos. Segundo levantamento realizado pelo UOL nesta segunda-feira (26), pelo menos 250 municípios decretaram situação de emergência por conta da falta de chuvas. Há uma semana, esse número era de 140. Muitos municípios que não decretaram emergência também estão sofrendo com a estiagem, que já é considerada uma das mais severas dos últimos anos.

O maior número de municípios atingidos está na Bahia, onde 169 prefeituras já decretaram emergência. No maior Estado nordestino, cerca de 2,2 milhões de pessoas estão sendo atingidas. Segundo a Defesa Civil Estadual, a situação nos semiárido baiano é grave, já que o verão foi marcado por pouquíssimas chuvas. “A situação só vem piorando porque não chove. E pior: nós não temos qualquer perspectiva de chuva para os próximos 120 dias. Estamos nos encaminhando para a pior seca dos últimos 30 anos, pelo menos que se tem de registro”, disse o coordenador-executivo da Defesa Civil Estadual, Salvador Brito.

Já em Sergipe, segundo a Defesa Civil Estadual, 14 municípios estão com decretos de emergência em vigor. Nessas cidades, 87 mil pessoas estão sendo afetadas. Em Pernambuco, 11 municípios estão com decretos, entre eles Petrolina, que é a cidade mais populosa do semiárido nordestino, com 300 mil habitantes.

Em Alagoas, onde apenas uma cidade decretou emergência, a situação também é considerada grave pela AMA (Associação dos Municípios Alagoanos). Segundo a entidade, 18 municípios dos 33 do semiárido estão sem água desde o início do mês, quando uma bomba da Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas) apresentou problema e deixou mais de 300 mil pessoas sem abastecimento com os carros-pipa.

Já os Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba tinham um município, cada, em situação de emergência –nenhum deles ainda reconhecido pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. Ceará e Maranhão não informaram nenhum caso e não possuem municípios com portarias em análise para reconhecimento em Brasília.