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Indiciados por morte no Hopi Hari foram "omissos e imprudentes", diz delegado

Janaina Garcia

Do UOL, em Vinhedo (SP)

17/04/2012 18h06Atualizada em 17/04/2012 19h02

Os indiciados pela morte da adolescente Gabriela Nichimura, 14, no parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo (79 km de São Paulo), foram “negligentes, relapsos, omissos e imprudentes”, segundo conclusão do delegado Álvaro Santucci Júnior, que chefiou o inquérito de quase 500 páginas. A jovem morreu no dia 24 de fevereiro após cair do brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador.

No total, 11 pessoas foram indiciadas por homicídio culposo (sem intenção de matar) nesta terça-feira (17). Entre eles estão o presidente do parque, Armando Pereira Filho, o vice, Claudio Pinheiro Guimarães, e nove funcionários ligados aos setores de operação e manutenção dos brinquedos. 

Em entrevista coletiva na delegacia de Vinhedo, Santucci afirmou, que na véspera do acidente, foi realizado um serviço de manutenção do brinquedo e ele foi liberado para funcionar horas antes da ocorrência, registrada por volta das 10h30 de uma sexta-feira.

A cadeira ocupada por Gabriela estava há cerca de dez anos inoperante, mas não tinha nenhuma sinalização para alertar os frequentadores. Segundo o delegado, na manutenção de véspera, uma trava de acionamento manual, localizada atrás da cadeira, não foi acionada de volta --era esse dispositivo que impedia o uso do assento, ao impedir que o cinto se abrisse. “É um erro grosseiro e que revela imperícia, negligência, despreparo e, em alguns indiciamentos, até omissão”, afirmou.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Conforme Santucci, os dois representantes da diretoria contribuíram para o homicídio à medida que desrespeitaram artigos do Código de Defesa do Consumidor que tratam sobre a necessidade de o prestador alertar sobre eventual periculosidade do serviço ofertado. “Além de uma manutenção mal feita, se a cadeira estava inoperante há tanto tempo, deveria haver sinalização sobre isso. Não havia, e a Gabriela teve a infelicidade de conseguir se sentar nela.”

Em nota, a administração do parque afirma que irá aguardar a decisão judicial antes de se manifestar. O Hopi Hari, no entanto, afirmou que o acidente foi uma “fatalidade” causada por uma “série de falhas humanas”.

Funcionários indiciados

Sobre os funcionários indiciados --entre os quais três operadores do brinquedo, o supervisor deles, o técnico de manutenção e o gerente-geral de manutenção do parque--, Santucci classificou: “Eles foram imprudentes, negligentes e relapsos, uma vez que todos estavam trabalhando e todos sabiam que a cadeira estava inoperante”.

“Todos deveriam checar se a trava da cadeira estava fechada após o serviço de manutenção. Isso vale também para o supervisor de operações, que deu instruções via rádio, e para o gerente, que foi omisso de não acompanhar in loco uma tarefa tão importante”, afirmou o delegado.

O relatório final do caso será encaminhado ao Ministério Público até o final da semana que vem. Santucci não descartou que parte dos indiciados seja denunciada também por dolo eventual, ou seja, quando se assume o risco de morte.

Veja a lista completa dos indiciados fornecida pela Polícia Civil:
Vitor Igor Spinocci de Oliveira – Atendente de Operação
Marcos Antonio Tomaz Leal – Atendente de Operação
Edson da Silva – Atendente de Operação
Lucas Martins Figueiredo – Supervisor de Operações (Atendente Sênior)
Juliano Ambrósio – Técnico de Manutenção/Formação em Mecatrônica
Rodolfo Rocha de Aguiar Santos – Técnico em Eletrônica e Eletrotécnica
Adriano César de Souza – Técnico de Manutenção Mecânica
Luiz Carlos Pereira de Souza – Sênior Mecânico
Stefan Fridolin Banholzer – Gerente Geral de Manutenção e Projetos
Claudio Luis Pinheiro Guimarães – Vice-Presidente do Hopi Hari
Armando Pereira Filho – Presidente do Hopi Hari

Perícia em cadeira errada

A investigação sobre a morte de Gabriela sofreu uma reviravolta quando a mãe da adolescente mostrou fotos tiradas minutos antes do acidente e verificou-se que a primeira perícia policial no brinquedo havia sido feita no assento errado. Uma segunda perícia foi realizada, desta vez na cadeira efetivamente usada pela jovem, e constatou-se que a trava abria quando o brinquedo era colocado em atividade.

Questionado sobre o fato, o delegado não descartou que as investigações prossigam para apurar a responsabilidade do parque em uma eventual tentativa de modificar a cena do crime –já que os funcionários teriam indicado a outra cadeira aos peritos, após relatos também de usuários do parque, naquele dia, mesmo sabendo qual cadeira de fato estava com problemas.

“Essas são questões secundárias, mas forjar provas é crime, pois pode atrapalhar os trabalhos da pericia e até os resultados da investigação. É lamentável, pois é uma atitude que ludibria os trabalhos”, afirmou Santucci, que disse acreditar em "má-fé".

Carta dos pais

Antes de iniciar a apresentação dos indiciados, o delegado leu um email enviado hoje do Japão pelos pais de Gabriela, para onde retornaram no último dia 31. Eles passavam férias no Brasil quando ocorreu o acidente. No texto, lido aos jornalistas pelo delegado, eles agradeceram os trabalhos da polícia e do MP e concluíram que “o indiciamento destas pessoas não irá fazer com que esqueçamos o pesadelo que estamos vivenciando”.

“A Justiça irá demonstrar que os responsáveis não ficarão impunes e suas consciências carregarão para a eternidade a responsabilidade pela morte de nossa filha”, completaram os pais.

O acidente

O acidente ocorreu por volta das 10h30 do dia 24 de fevereiro deste ano, uma sexta-feira. A garota caiu de uma altura de cerca de 25 metros e foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes. O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do parque.