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Enfermeira acusa hospital de Pirassununga (SP) de reutilizar material descartável

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

31/05/2012 15h30

O Ministério Público do Estado de São Paulo está investigando uma denúncia de irregularidades no Centro de Especialidades Médicas (CEM) de Pirassununga (120 km de São Paulo). As acusações foram feitas em abril pela enfermeira Royce Victorellu, responsável pelo centro de material e esterilização da prefeitura, que funciona dentro do CEM. Ela foi ouvida pelo Ministério Público nessa quarta-feira (30). 

De acordo com a denúncia, equipamentos estão sendo manuseados com negligência, além de outras irregularidades. A enfermeira, que está no cargo há dois anos, tirou fotos dos locais onde haveria irregularidades. Uma das imagens mostra o suposto reaproveitamento de pinças para endoscopia. O material deveria ser descartado após o uso, mas, segundo ela, não é o que acontecia. “Usavam, lavavam, o paciente saía, vinha o próximo e eles reutilizavam. Eram sete biópsias por dia com a mesma pinça”, disse.

As fotos também mostram outras irregularidades, como toalhas de uso dos funcionários e pacientes sendo guardadas em um armário no banheiro, ao lado do vaso sanitário. Segundo Royce, instrumentos sujos e limpos são transportados no mesmo veículo da prefeitura, provocando a contaminação.

Desde janeiro, quando foi iniciada uma obra no hospital, a sala de material e esterilização, que recebe instrumentos sujos e contaminados, é a mesma onde o material limpo fica guardado. Não há separação dos ambientes, o que, segundo a enfermeira, é contra as normas de vigilância. “Roupa cheia de sangue junto com a roupa limpa”, afirmou.

A situação era para ser provisória e durar um mês até que a reforma da antiga sala fosse concluída. No entanto, segundo ela, já se passaram meses, e a obra ainda não terminou. “Lavamos materiais com sangue, secreção vaginal, do jeito que jogamos o material, tem um ralo embaixo e sobe toda essa água e vem para nosso pé”, afirmou.

Ela também disse que trabalha na sala sem os equipamentos de proteção corretos. Royce afirmou que as luvas deveriam ser de cano longo e material mais resistente. Ela enviou ofícios à prefeitura pedindo os equipamentos de proteção, sendo um deles de 2011.

A enfermeira disse que a prefeitura só enviou os equipamentos de proteção depois que uma funcionária se feriu com uma tesoura contaminada e foi afastada do trabalho. Agora, a promotoria aguarda um relatório de inspeção da Vigilância Sanitária do Estado para seguir com as investigações.

Outro lado

A secretária de Saúde de Pirassununga, Miriam Daisy Calmon Scaggion, que assumiu o cargo em agosto do ano passado, negou e rebateu as acusações. Quanto à suposta reutilização de pinças de endoscopia, a secretária alegou que a re-esterilização com produtos químicos é comum e correta. Porém, ela informou que há um mês os exames foram cancelados, e a prefeitura comprou novas pinças de outro material que permite a esterilização convencional.

“O médico que faz os exames é super conceituado na cidade. Ele já mais aceitaria qualquer tipo de procedimento que pudesse prejudicar um paciente”, rebateu a secretária. Miriam também afirmou que tudo é vistoriado pela Vigilância Sanitária, que, segundo ela, nunca detectou nenhuma falha.

Sobre o transporte de materiais, a secretária disse que eles são feitos em embalagens lacradas, sem risco de contaminação. O armazenamento de toalhas foi feito temporariamente em um banheiro desativado por causa das reformas na unidade. “Não havia uso, por isso ele estava sendo usado como depósito, mas isso também já foi regularizado”, disse.

Quanto à obra, a secretária disse que deve terminar em junho. Ela ainda disse que a sala provisória “foi escolhida pela própria funcionária que responde pelo setor, mas o processo de esterilização deixou de ser feito no local, sendo tudo enviado para a Santa Casa de Pirassununga”.

Já sobre a compra de equipamentos de proteção, ela rebateu dizendo: “Até hoje, só recebi um pedido para a compra de equipamentos de proteção. O pedido foi feito em fevereiro, parte do material foi imediatamente providenciada e o restante está sendo providenciado”, informou.