Topo

Acidentes, atropelamentos e assalto marcam primeiro mês do "Ligeirão" no Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

16/07/2012 06h01

Orçado em R$ 900 milhões, o primeiro corredor exclusivo de ônibus do sistema BRT Transoeste, o "Ligeirão", que liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz em uma faixa de 56 km, na zona oeste do Rio de Janeiro, teve em seu primeiro mês de funcionamento problemas relacionados à segurança do sistema. Ao todo, foram quatro casos de atropelamento, duas colisões e um assalto ao guichê de uma das estações.

Veja imagens do "Ligeirão"

  • Vídeo feito no começo de junho mostra como funciona o sistema no Rio de Janeiro

Em uma das ocorrências registradas, na sexta-feira (6), o jardineiro Paulo César de Macedo, 26, morreu após ter sido atingido por um dos veículos que trafegam pelo corredor. Dois dias depois, um homem armado rendeu uma funcionária da bilheteria da estação Alvorada, na Barra, e roubou R$ 300. O criminoso se passou por um passageiro comum, tendo inclusive entrado na fila para adquirir a passagem.

Os acidentes envolvendo os ônibus articulados do sistema e outros veículos também preocupam a gerência do BRT Transoeste. Logo no primeiro dia de funcionamento experimental do sistema –no dia 6 de junho–, após cerimônia de inauguração que contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ônibus colidiu com um automóvel que tentava fazer o retorno na avenida das Américas, a principal via da Barra da Tijuca. Ninguém se feriu.

No mesmo dia do assalto ao guichê do terminal Alvorada, em 8 de junho, mais um acidente envolvendo o Ligeirão: dessa vez, o ônibus do sistema se chocou com um caminhão na altura da estação Magarça, em Guaratiba. Também não houve registro de feridos.

Para o comerciante Marcelo Serpa, 39, que costuma utilizar o BRT para se deslocar até o Recreio dos Bandeirantes, a antecipação da inauguração da Transoeste pode estar relacionada com os problemas de segurança registrados no primeiro mês de funcionamento. No entanto, ele diz acreditar que as dificuldades são naturais em função do processo de adaptação dos usuários.

"O que nós ouvimos é que o Ligeirão entraria em funcionamento no fim desse ano, mas houve uma antecipação, provavelmente por causa das eleições. Pode ser que esses problemas de segurança estejam relacionados com isso, mas também não teria como o Ligeirão estar 100% logo no primeiro mês. Eles têm que trabalhar para corrigir essas falhas, mas os passageiros também são parte disso. As pessoas ainda estão conhecendo o sistema", argumentou.

Já a diarista Valéria Santos, 47, afirma que a principal reclamação dela e das pessoas com as quais tem contato e que também utilizam o Ligeirão diz respeito à lotação dos ônibus. Para ela, os casos de atropelamento e colisões estão mais relacionados com a imprudência dos moradores da região.

"Todo dia a gente vê algum espertinho querendo invadir a faixa, além dos moradores da Barra da Tijuca que acham que esse pedaço [o corredor exclusivo] é ciclovia. Ainda falta sinalização em muitos lugares, mas as pessoas têm que aprender a respeitar", disse.

Em nota, o consórcio Santa Cruz, responsável pela administração do BRT juntamente com o Rio Ônibus, afirmou ao UOL estar "coordenando seus esforços com os da SMTR [Secretaria Municipal de Transportes] e CET-Rio [Companhia de Tráfego], que desenvolvem neste momento uma campanha educativa para evitar que novos eventos ocorram".

Além da campanha educativa, a gerência do BRT providenciou a instalação de mais 70 placas em toda a avenida das Américas a fim de alertar pedestres e motoristas. No entanto, os responsáveis pela Transoeste reconhecem que o alcance das medidas adotadas é "limitado".

"Por envolver elementos externos à estrutura física do corredor Transoeste Ligeirão e ser fortemente influenciado por aspectos culturais da população, inclusive de pessoas que não utilizam o BRT, o alcance das ações preventivas do consórcio operador é muito limitado", afirma em nota.

Atropelamentos

O primeiro caso de atropelamento na faixa do Ligeirão foi registrado no dia 27 de junho, quando um homem identificado como Marlon Martins Barbosa foi atingido por um ônibus articulado no momento em que caminhava pelo corredor exclusivo. O acidente ocorreu perto do terminal Novo Leblon, no Recreio. Não houve ferimentos graves.

Um dia após, em Guaratiba, um operador da CET-Rio conduzia uma motocicleta quando foi atropelado por um dos ônibus do sistema. O órgão não informou se o funcionário sofreu alguma lesão mais grave em função do acidente.

No dia 3 de julho, um jovem de 18 anos, identificado como Felipe de Freitas, também não conseguiu se esquivar de um ônibus articulado no momento em que tentava atravessar fora da faixa de pedestres e acabou sendo atingido.

Segundo informações do operador do sistema, o acidente ocorreu nas proximidades do Bosque da Barra, e Freitas teria sido atendido no Hospital Municipal Lourenço Jorge --não foram divulgadas mais detalhes sobre seu estado de saúde.

O caso mais grave ocorreu com o jardineiro Paulo César de Macedo, 26, que morreu após ter sido atingido por um ônibus que trafegava no sentido Santa Cruz. De acordo com o consórcio Santa Cruz, a vítima também tentava atravessar fora da faixa.

Policiamento

As estações Alvorada e Santa Cruz contam, desde 9 de julho –dia seguinte ao assalto a um dos guichês–, com segurança reforçada por policiais militares cadastrados no Programa Estadual de Integração na Segurança (Proes), que permite a contratação de policiais para trabalhar nos períodos de folga. A informação é do consórcio responsável pela operação do sistema BRT Transoeste.

"Eles [PMs uniformizados] estão trabalhando em conjunto com os agentes de segurança privada, que gradualmente serão substituídos em todas as 33 estações abertas. Serão 324 policiais militares atuando no eixo Santa Cruz x Alvorada e, com a entrada de mais estações em operação, esse número irá crescer", explica a Santa Cruz.

O consórcio classificou o assalto registrado no terminal Alvorada como um "crime de ocasião". Segundo a empresa, em razão de uma obra na bilheteria, o atendimento passou temporariamente a ser feito em cabines individuais alocadas em outra posição.

O criminoso "agiu de forma discreta" e "muito rápida", de acordo com o consórcio, e "conseguiu se evadir antes que os agentes de segurança percebessem a ação".