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Empresa declara falência e deixa 15 mil usuários sem ônibus em Natal

Passageiro viaja "colado" ao vidro em ônibus de Natal - Weldson Santana / Via Certa Natal
Passageiro viaja "colado" ao vidro em ônibus de Natal Imagem: Weldson Santana / Via Certa Natal

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

20/08/2012 16h11

Cerca de 15 mil usuários de linhas de transporte coletivo operadas pela viação Riograndense, em Natal, enfrentam dificuldades de deslocamento há oito dias, depois que a empresa anunciou o encerramento das atividades, no último dia 12. Segundo o portal Via Certa Natal, que monitora o tráfego de veículos na capital potiguar, a Riograndense fazia a rota em “nove destinos para o interior, operava uma linha metropolitana e três linhas urbanas”.

Desde a semana passada, os pontos estão lotados, e usuários disputam espaços até nos painéis dos ônibus para que possam chegar perto de seus destinos, pois, até agora, nenhuma outra empresa de transporte coletivo assumiu as linhas que eram operadas pela Riograndense.

“Bairros populosos como Nova Natal, na capital, e Jardim Petrópolis, em São Gonçalo do Amarante (região metropolitana), estão sem suas linhas regulares”, informou Hudson Silvestre, responsável pela publicação da situação do trânsito de Natal no portal.

Apesar de funcionar precariamente, como ônibus sem manutenção e desconfortáveis, usuários afirmam que ainda tinham alternativas de condução com a Riograndense. “Nos últimos meses a empresa funcionava precariamente, com muitos ônibus quebrando, sem nenhum conforto, mas mesmo assim tínhamos alternativa para conseguir condução”, disse a garçonete Ângela Costa, 27.

“Perdi as contas de quantas vezes peguei a condução e fiquei no meio do caminho depois que o veículo quebrou. Mas agora saio de casa mais cedo e já estressada, com medo de não conseguir chegar a tempo ao trabalho”, afirmou ela.

A explicação

Em nota, divulgada no último dia 13, a viação Riograndense anunciou que estava encerrando as atividades devido às dificuldades financeiras para se manter no mercado, ocasionadas pela falta de incentivo financeiro do poder público, com tarifas incompatíveis com as despesas da empresa com manutenção e aquisição de novos veículos, do preço do combustível e salários dos funcionários, o que acarretou na falência.

“É sabido por todos que o setor de transporte coletivo de passageiros urbano do país está em crise devido à falta de políticas direcionadas para o setor, indo na contramão do que estabelece a nova Lei da Mobilidade Urbana, incentivando cada vez mais o transporte individual, com subsídios diretos e liberação de impostos para compra de carros e motos”, afirmou a empresa, destacando que a frota vinha enfrentando problemas devido à quantidade de buracos na cidade.

“O preço dos ônibus sofre aumentos superiores aos dos veículos particulares, não recebem benefícios fiscais ou redução de impostos, e o óleo diesel subiu nos últimos anos 100% mais do que o preço da gasolina, demonstrando clara prioridade ao transporte individual. Desta forma, quanto maiores os engarrafamentos, menor é a demanda de passageiros. Com a demanda fraca potencializam-se os altos custos operacionais, e maior será a tarifa”, diz a empresa.

O emprego

Segundo o Sintro-RN (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Norte), filiado à CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), o anúncio da falência da empresa Riograndense deixou 150 trabalhadores desempregados, “muitos deles com quase 25 anos de serviço”.

A diretoria do Sintro-RN passou a manhã desta segunda-feira reunida com o departamento jurídico para analisar medidas que vão ser tomadas nos próximos dias para garantir que os 150 trabalhadores consigam receber pelo menos os salários do mês.

O Sintro-RN impetrou uma ação judicial pedindo o bloqueio dos bens da empresa para que “sejam garantidos os direitos dos trabalhadores”. O sindicato informou ainda que os trabalhadores estão em vigília na porta das duas garagens da empresa para que nenhum veículo seja retirado.

As alternativas

A Prefeitura do Natal informou que está estudando alternativas para que os usuários das linhas de transporte que eram operadas da Riograndense não sejam prejudicados. Uma das alternativas é que empresas aumentem o número de viagens em rotas próximas aos trechos que a Riograndense operava.

Outra é a colocação de outras empresas para operar nas rotas abandonadas ou ainda a readequação de linhas circulares para atender a demanda.  A Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana) informou que o problema não pode ser resolvido de imediato porque deverá ser aberta licitação para contratação de nova empresa.

A secretaria informou ainda que está realizando um levantamento para que seja apontada uma solução rápida para diminuir o impacto do fim das linhas da Riograndense causados e orientou que a população use o transporte de linhas próximas com os cartões, que já farão parte de um sistema de integração, em 70% do itinerário que a Riograndense deixou de operar.