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Invasão de mulheres seminuas, silêncio de autoridades e comércio paralelo marcam desfile em Brasília

Ativistas do Femen Brasil invadem a parada militar em comemoração do Dia da Independência, em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters
Ativistas do Femen Brasil invadem a parada militar em comemoração do Dia da Independência, em Brasília Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

07/09/2012 14h38

O desfile de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta sexta-feira (7), foi marcado pelo silêncio das autoridade e pela invasão de duas ativistas do grupo feminista Femen que protestavam com os seios à mostra perto do prédio do Ministério da Defesa.

Segundo o coronel Jaílson, responsável pela operação da PM no desfile, os policiais as prenderam quando elas tinham andado cerca de 25 metros na avenida em direção ao Congresso Nacional.

Entre as autoridades, dos 17 ministros presentes, incluindo Celso Amorim (Defesa), Edison Lobão (Minas e Energia) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), apenas o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) quis falar com a imprensa após o fim do desfile. Ele disse que a redução na tarifa de energia elétrica permitirá um aumento na produção industrial e poderá reduzir a inflação. "Com certeza, a energia com preço reduzido tanto para as pessoas como para as empresas (...) vai significar um arranque na produção e um impacto positivo na taxa média de inflação."

O ministro afirmou que está acompanhando pelo noticiário, mas que haverá redução na conta de luz. "A conta de luz me parece que está decidida já. Não é a minha área, mas a presidente já anunciou ontem e parece que vai falar na terça-feira", afirmou.

Paulo Bernardo afirmou ainda que o governo acredita nesse arranque da produção porque há mercado de consumo no país. "Temos uma coisa que é preciosa: mercado de consumo. O emprego está quase pleno, as pessoas têm poder aquisitivo, os salários estão aumentando. Portanto, se tiver um impulso aí, a produção com certeza vai crescer bastante."

Comércio paralelo lucra

Parte das cerca de 38 mil pessoas que foram nesta sexta-feira (7) até a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, não estava nem aí para o vaivém de tropas e tanques no desfile de 7 de Setembro e a presença da presidente Dilma Rousseff e autoridades. Foram mesmo até lá para tentar faturar algum dinheiro.

De marmita a salada de fruta e gelatina, encontra-se de tudo nas caixas de isopor dos ambulantes. Otimistas, esperam vender bem neste feriado. É que, embora o desfile tenha terminado pouco depois das 11h, o público continua pela esplanada para aproveitar a programação cultural preparada para o evento, que inclui apresentações teatrais e circenses.

Debaixo de sol forte --os relógios de rua chegaram a marcar 29ºC--, a vendedora Maria das Graças Pereira, 53, estava feliz com as suas vendas. Sem querer revelar quanto já tinha ganhado, disse que as suas saladas de fruta estavam saindo que nem água.  “Está muito bom hoje.”

A auxiliar de cozinha desempregada Ailda Maria de Souza Rodrigues, 27, preparou marmitas de bisteca e carne de panela a R$ 5 a unidade para ajudar no orçamento doméstico. O marido, o vigilante Valdo Rodrigues, 51, também veio para ajudar. “Nem chegamos a assistir o desfile. Queremos mesmo é tentar fazer um dinheirinho”, disse Valdo.

O operador de supermercado Marcos Antonio da Silva, 21, aproveitou o dia de folga para fazer um caixa extra. Com um isopor pesado de garrafa d’água, disse que o esforço estava valendo a pena. “Compensa vir porque o movimento é muito grande.”

Protesto e desfile

Mas houve também quem fosse até a Esplanada para protestar. A Marcha da Corrupção chegou a reunir cerca de 3.000 pessoas, segundo os cálculos da Polícia Militar. “Nós que somos da classe mais pobre acabamos sofrendo ainda mais com a corrupção e desvio de verba pública. Só nós sabemos o quanto é difícil o atendimento de saúde de qualidade no nosso país”, afirmou Antônia Márcia Pereira, 35, que se uniu aos manifestantes atrás do carro de som.

Num protesto solitário, o palhaço Roberto da Ema, como diz ser mais conhecido, levou uma ema feita com material reciclável para chamar a atenção para a sua cidade: Recanto das Emas, no Distrito Federal.

Brincando com o público que passava, ele dizia que só iria raspar o bigode quando não houvesse mais nenhum político corrupto no Brasil. “Do jeito que a coisa está, o bigode vai dar para laçar boi.”

Pela manhã, o desfile contou com 3.800 participantes, incluindo 900 civis e 2.900 militares. No total, 19 instituições estavam representadas na parada, incluindo a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.

Além da presidente Dilma Rousseff, estiveram presentes 17 ministros de Estado, sem contar centenas de outras autoridades militares e civis. O governador do Distrito Federal chegou a ficar em uma saia justa ao ser vaiado quando o sistema de som anunciou que ele recepcionaria a presidente no palanque de onde as autoridades assistiram ao desfile. No total, o evento custou aos cofres públicos R$ 800 mil. O valor gasto em comunicação ainda não foi fechado.