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Perdido da família, deficiente mental vive durante um ano em pronto-socorro na Grande SP

O jovem Walace que, sem pistas da família, morou durante um ano em um pronto-socorro em Embu - Divulgação
O jovem Walace que, sem pistas da família, morou durante um ano em um pronto-socorro em Embu Imagem: Divulgação

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

17/10/2012 06h00

Um jovem de aproximadamente 19 anos, com deficiência mental, morou durante um ano no pronto-socorro da Unidade Mista de Saúde Irmã Annette, no Jardim Vazame, em Embu das Artes (Grande São Paulo), após perder contato com a família.

O paciente, que diz se chamar Walace Fernando de Souza, foi encontrado caminhando sem rumo na altura do km 287 da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), por volta de 20h do dia 7 de outubro de 2011. Na ocasião, ele vestia uma camiseta com o logo do banco Bradesco e calça jeans. Guardas municipais o encontraram e o levaram ao pronto-socorro do Jardim Vazame.

Walace recebeu alta em 18 de outubro do ano passado, mas, por não ter para onde ir, permaneceu na unidade até a semana passada, quando foi transferido para um abrigo em Juquitiba, município vizinho ao Embu.

A transferência ocorreu após a divulgação do caso de Walace em um jornal da região. O fato chamou a atenção do responsável pelo abrigo, que foi até o pronto-socorro e se disponibilizou a acolher o jovem.

Segundo a direção do pronto-socorro, o abrigo destina-se a moradores de rua e dependentes químicos já recuperados --os proprietários do abrigo também possuem um centro de recuperação de dependentes. A Prefeitura de Embu das Artes não quis informar o nome do local, nem fornecer o contato do responsável que acolheu Walace.

De acordo com Marcos Rosatti, controlador-geral do município, o abrigo é provisório, até que a família de Walace seja localizada. “Ele estava vivendo no pronto-socorro em uma situação que não era adequada. O nosso serviço social encontrou um local provisório. Estamos tentando reencontrar familiares e amigos dele, junto com o Ministério Público”, afirmou.

Sem pistas da família

Desde que Walace deu entrada no pronto-socorro, ninguém o procurou. A equipe o acompanhou não conseguiu localizar familiares ou conhecidos do paciente, mesmo divulgando fotos dele pela região. A polícia também não encontrou nenhum indício de algum desaparecido com características semelhantes às de Walace.

  • Divulgação

    Wallace no pronto-socorro do Jardim Vazame

Em uma pesquisa com as digitais do paciente não foi encontrado o seu registro, provavelmente porque ele não tem documento de identidade. Quando questionado, Walace afirma ter pai, mãe e um irmão, mas não demonstra vontade em reencontrá-los, nem sabe dizer o lugar onde vivia. O exame da idade óssea indicou que ele tem cerca de 19 anos.

Não há no município nenhum local ideal para abrigar o paciente. A prefeitura dispõe apenas de abrigos para menores de idade e unidades de recuperação de dependentes químicos.

Sem ter para onde ir, Walace foi acolhido em quarto improvisado do pronto-socorro, recebendo cuidados de psicólogos, assistentes sociais e médicos. Ao longo do último ano, Walace passou as manhãs e tardes em uma unidade no Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) do município --onde faz tratamento psicológico. No final do dia, retornava para o pronto-socorro, onde dormia.

Paciente não tem memória

Os especialistas não sabem exatamente qual é a deficiência de Wallace. O psiquiatra da unidade diagnosticou um possível quadro de esquizofrenia residual --quando o doente convive durante muito tempo com a esquizofrenia, que passa a se tornar crônica. Já os psicólogos e assistentes que tratam do jovem suspeitam que ele tenha apenas déficit intelectual.

De acordo com o Dr. Kauê Serdeira, diretor do pronto-socorro, Walace age como uma criança tímida, não manifesta vontades ou descontentamentos. “Quem o vê pensa que ele é uma criança tímida. Aparentemente, ele não tem vontade de fazer muita coisa.”

O controlador-geral do município afirma que o jovem é dócil, nunca é agressivo e demonstra não ter memória. “Ele é disciplinado, colabora com todos os passos do tratamento, tem um certo nível de entendimento das coisas, mas não consegue se lembrar de quase nada. Ele não tem memória”, diz Rosatti.

O Ministério Público irá ajuizar uma ação para conseguir o registro de nascimento do Walace e facilitar a garantia de direitos básicos. 

Quem tiver alguma informação sobre a família de Walace deve procurar o Serviço Social do município --(11) 4783-9830-- ou a Unidade Mista de Saúde Irmã Annette --4783-9831, ramais 9835 ou 9836.