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Em menos de um ano, duas servidoras do Ministério das Relações Exteriores morrem após contrair malária na África

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

10/11/2012 06h00

O Ministério das Relações Exteriores informou na noite de sexta-feira (9), em nota oficial, a morte da assistente de chancelaria, Berenice Ferreira de Araújo, no último dia 7 de novembro. Berenice morreu após contrair malária e febre tifoide em Malabo, capital da Guiné Equatorial, onde trabalhava.

 No final de dezembro do ano passado, a diplomata brasileira Milena Oliveira de Medeiros morreu após também contrair malária no país. Milena fez uma viagem de trabalho, em novembro de 2011, a Malabo, onde contraiu a doença. De volta ao Brasil, ela chegou a ser internada em Brasília, mas não resistiu e morreu.

No documento do ministério não há mais detalhes sobre as condições da morte da servidora, nem se sua família  recebeu assistência ou se o órgão chegou a tomar medidas que possam evitar novos casos em outros funcionários brasileiros em missão na África. 

O Sinditamaraty (sindicato nacional dos servidores do Ministério das Relações Exteriores) protocolou na sexta uma carta ao Secretário Geral, o embaixador Ruy Nogueira, sobre o falecimento de Berenice e questionando o que foi feito por parte do ministério desde a morte da primeira servidora.

“Neste momento trágico, o Sinditamaraty questiona o que o Ministério empreendeu, até agora, desde o falecimento da colega Milena Oliveira de Medeiros, do mesmo mal, no mesmo Posto”, diz a carta.

Segundo informações do sindicato obtidas com o filho de Berenice, de 30 anos, a assistente de chancelaria morreu no domingo de derrame após cirurgia realizada em Brasília.

“Para nós, é insuficiente [o que se fez até agora]. Depois da experiência da Milena, ainda não vimos, nada, absolutamente nada que pudesse evitar que a situação da Milena venha a se repetir”, afirmou ao UOL o presidente do sindicato, Alexey van der Broocke.

Já a nota oficial divulgada pelo Itamaraty apresenta apenas condolências do ministro e equipe à família de Berenice.

Procurado pelo UOL, o ministério ainda não retornou os contatos da reportagem para dar mais detalhes sobre o caso. 

Repercussão

Na página do MRE, no Facebook, já há manifestações de repúdio à situação que funcionários do órgão em missões no exterior em locais onde há epidemias.

“Quantos mais precisarão morrer até que finalmente alguma providência efetiva possa ser tomada? Quantos mais precisarão perder a vida? Isso precisa ser divulgado para toda sociedade, para aqueles que, por desconhecimento, muitas vezes pensam que nós vivemos vida de luxo no exterior.  Casos como o da AC Berenice não são divulgados, mesmo sendo o retrato da realidade. Fica aqui o meu manifesto, o meu repúdio à falta de estrutura no exterior. Queremos DIGNIDADE!”, diz trecho do post posto sobre o assunto.

O oficial de chancelaria e secretário geral do sindicato Rafael de Sá afirmou ao UOL que a entidade pretende encaminhar até o final do mês uma proposta ao ministério para fazer uma parceria com o Ministério da Saúde e o governo do Distrito Federal para por em prática algum programa que oferece cuidados médicos aos funcionários do ministério que participam de missões especiais em países em epidemias.

Depois da morte de Milena, a única atitude do ministério, segundo os funcionários do órgão ouvidos pela reportagem, foi a de fazer com que os servidores que participam de missões assinem um documento, no qual confirmam que estão cientes do risco de contrair doenças.

Estudo divulgado em fevereiro deste ano, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, mostra que a malária é responsável pela morte de 1,2 milhão de pessoas ao ano em todo o mundo. Não há vacina contra a doença.