Raquel Landim

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Opinião

Macron faz jogada arriscada para enfraquecer extrema direita e perde

Ninguém entendeu direito por que o presidente francês Emmanuel Macron chamou eleições antecipadas para a Assembleia Nacional neste domingo. Alguns dizem que ele não queria se tornar um "pato manco", tendo sua autoridade questionada a cada passo depois do avanço da extrema direita no Parlamento Europeu.

Mas existe uma teoria mais ambiciosa circulando nos meios diplomáticos, que só vale para políticos com ideias arrojadas como Macron: deixar a extrema direita se enforcar na própria corda. A ideia seria deixar o jovem Jordan Bardella, 28 anos, presidente do Rassemblement National (RN), assumir como primeiro-ministro e fracassar.

Diferente do Reino Unido e da Itália, o parlamentarismo francês preserva muito o poder do presidente. Enquanto o primeiro-ministro cuida do Orçamento e de questões internas, cabe ao presidente as delicadas decisões da política internacional.

Tanto que o primeiro-ministro da França é Gabriel Attal, 34 anos. Premiê mais jovem a assumir o cargo em janeiro desse ano, é também o primeiro abertamente gay e ficou conhecido pela proibição das abayas (véus) muçulmanas quando era ministro da Educação. Fora isso mal se fala nele, a figura central é Macron.

Como os franceses estão sempre insatisfeitos - é o país do "mal-estar" e da "greve" - a aposta de Macron é que Bardella se desgastaria rapidamente com dificuldades para encontrar soluções para problemas crônicos como falta de emprego ou imigração. E com ele também se desgastaria o mito da extrema direita, reduzindo as chances na eleição que realmente importa.

É só em 2027 que os franceses vão escolher um novo presidente. Ou seja, Marine Le Pen apenas terá a chance de se eleger presidente da França, levando a extrema direita ao poder no coração da Europa, daqui três anos. Se continuar crescendo como força política até lá.

Se a jogada de Macron é realmente essa, a extrema direita parece ter entendido o movimento. Bardella já anunciou que não assume o cargo se não tiver sozinho a maioria do parlamento. As pesquisas indicam que seu partido alcançou 34,5% dos votos - na dianteira, mas longe de maioria absoluta. Qualquer novo governo vai precisar fazer alianças.

Até o segundo turno no dia 7 de julho, o cenário pode mudar. O voto é distrital, e candidatos podem desistir. A questão para Macron é que seu partido tende a sair massacrado das eleições com apenas 22,5% dos votos. Espremido não apenas entre a extrema direita, mas também entre partidos de esquerda cada vez mais fortes.

Macron pode, portanto, não conseguir desgastar Le Pen e ainda passar os próximos anos lidando com um primeiro-ministro de oposição, independente do espectro político. O mundo depositou muitas esperanças em Macron quando ele foi eleito, boa parte delas frustradas. O sistema político francês é intrincado. Até mesmo o general Charles de Gaulle foi obrigado a renunciar após perder um referendo. Macron parece não ter aprendido com a história.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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