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Crea diz que incêndio em boate em Santa Maria foi causado por 'combinação de fatores'

Peritos realizam perícia na boate Kiss, em Santa Maria (RS) - Juliano Mendes /UOL
Peritos realizam perícia na boate Kiss, em Santa Maria (RS) Imagem: Juliano Mendes /UOL

Carmelito Bifano

Do UOL, em Porto Alegre

04/02/2013 14h36

Após a análise das informações divulgadas e da perícia feita na boate Kiss na semana passada, o Crea-RS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul) divulgou nesta segunda-feira (4) relatório técnico que aponta que uma série de fatores contribuíram para que pelo menos 237 pessoas morressem na casa noturna na madrugada do dia 27, em Santa Maria.

“A análise das informações disponíveis até o momento aponta como causas fundamentais para a ocorrência do incêndio a combinação do uso de material de revestimento acústico inflamável, exposto na zona do palco, associada à realização do show com componentes pirotécnicos”, revela o relatório, produzido por especialistas em segurança contra incêndios.

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Segundo o conselho, “muitas dessas falhas provavelmente teriam sido evitadas se houvesse um projeto de segurança contra incêndio, por profissional habilitado e com formação específica", continua a nota, divulgada durante a entrevista coletiva dos responsáveis pelo parecer técnico feito sobre o episódio.

O coordenador da comissão, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, resumiu as causas: “O emprego de revestimento acústico inflamável sem licença e sem informar a autoridades; ausência de requisito de normas; ausência de projeto de segurança contra incêndio e pânico; uso de material pirotécnico, sem licença, sem informar as autoridades e uso de material inadequado”. “Precisamos de legislação específica e unificada, com multas e penalidades. Sem isso não teria ocorrido o sinistro.”

A falha no funcionamento dos extintores de incêndio, a dificuldade de evacuação, a deficiência nas saídas e na iluminação de emergências, a falta de um mecanismo para retirar a fumaça e a utilização de materiais inadequados, como a espuma emborrachada que queimou e liberou o gás cianeto, que intoxicou a maior parte das vítimas, foram apontados como fatores determinantes para a ocorrência da tragédia em Santa Maria.

 

Segundo o Crea-RS, o objetivo do relatório técnico não é sobrepor ao trabalho que vem sendo feito pela Justiça, mas promover uma analise técnica detalhada do incêndio e suas repercussões para buscar identificar as lições a serem aprendidas e as ações necessárias para que se modifique a realidade vigente.

"Independentemente da responsabilização civil e criminal, é fundamental reconhecer que existem problemas e deficiências sistêmicas, que necessitam ser reconhecidos e entendidos para permitir que se façam avanços efetivos na busca por redução de risco."

No relatório, a comissão especial do Crea-RS recomenta uma série de ações, em regime de urgência, para que novos episódios como o de Santa Maria não voltem a se repetir.

Entre eles, alteração nas normas para materiais de isolamento, modificação na formação de técnicos de prevenção contra incêndio, criação de forças-tarefas em municípios para analisar a legislação, elaborar um código estadual de segurança contra incêndio e pânico, criação de campanha institucional para mostrar a sociedade os riscos, além da criação de um departamento técnico dentro do Corpo dos Bombeiros. 

O Crea-RS é uma entidade autárquica, sem vínculo com o governo, e fiscaliza o exercício e as atividades profissionais da engenharia, da agronomia, da geologia, da geografia e da meteorologia do Estado do Rio Grande do Sul.