Unilever chama contaminação de "fato pontual" por erro de 80 segundos
Em audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor de Câmara dos Deputados, o vice-presidente da Unilever Brasil, Newman Debs, afirmou nesta quarta-feira (27) que esta foi a primeira vez, nos 83 anos que a empresa está no Brasil, que um incidente de erro em fabricação ocorreu, referindo-se ao suco AdeS contaminado com soda cáustica.
Debs frisou que, desde o primeiro momento que a empresa teve conhecimento da falha, foram tomadas todas as medidas para divulgar o fato à população pela imprensa e por meio dos órgãos competentes para evitar que mais pessoas fossem contaminadas.
“A Unilever está presente no Brasil há 83 anos. Há 40 anos existe a fábrica de Pouso Alegre (MG) e há 15 anos a fábrica produz o suco de soja. Este fato, do qual estamos conversando, é um fato pontual de um produto de 15 anos de existência”, destacou Debs.
No último dia 25 de fevereiro, houve uma falha na linha TBA3G – uma das 11 linhas da fábrica de Pouso Alegre – onde foi fabricado o lote AGB25, que seriam de suco de maçã de 1,5l. No lugar do suco, o líquido envasado era uma solução de limpeza da máquina.
“Era um pouco mais de meia-noite, acabava o envasamento do produto e automaticamente a linha de produção entra no processo de limpeza e automaticamente prepara a máquina para o próximo lote. Neste momento, a máquina envasa por 80 segundos este produto de limpeza que estava sendo passado por dentro das tubulações. Não foi a mistura com o produto de soja, foi simplesmente o produto [de limpeza]”, detalha o vice-presidente.
Segundo o diretor do departamento de proteção e defesa do consumidor do Ministério da Justiça, Amaury Oliva, 46 das 96 unidades contaminadas já foram recolhidas.
A empresa disse ainda que ofereceu assistência médica a todos os consumidores que a procuraram. Por questão de estratégia da Unilever, os números de contatos feitos dos consumidores não foram mais divulgados.
As últimas informações anteriores ao dia 22 de março eram de que 14 pessoas comprovadamente adquiriram os produtos contaminados, das quais 12 aceitaram receber assistência da Unilever.
Ainda de acordo com a companhia, elas ingeriram o produto e não estavam em estado grave nem precisaram ser internadas. Não foram dados mais detalhes dos contaminados. O vice-presidente da Unilever afirmou que as demais linhas da fábrica de Pouso Alegre estão funcionamento normalmente e não foram contaminadas.
Newman Debs afirmou também que a certeza de que “apenas” 96 unidades foram contaminadas se deve ao exame do registro da máquina que faz um relatório de todas as suas atividades.
Debs informou que os funcionários passarão por novos treinamentos e que o fabricante da máquina do lote com defeito já passou por revisão. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ordenou a suspensão do funcionamento da linha específica (TBA3G) que apresentou o problema.
Presidente da Unilever pede desculpas
Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o presidente da Unilever Fernando Fernandez justificou que uma combinação de falha humana e mecânica que durou 80 segundos levou à contaminação do lote do suco AdeS. Segundo ele, o operário não detectou o final da produção de um lote e colocou o equipamento para funcionar de novo, quando foi envasada uma solução de higienização. Fernandez reconheceu o erro e pediu desculpas. Na sexta-feira (22), a Secretaria de Saúde de Minas Gerais concluiu que as unidades do suco AdeS foram afetadas por hidróxido de sódio a 2,5% -- soda cáustica diluída
Na Paraíba, um casal denunciou à polícia que o filho de sete anos sofreu lesões na boca depois de consumir o suco de uva AdeS, em João Pessoa. Questionado sobre o episódio, o vice-presidente da Unilever disse que a empresa não foi contatada pelos consumidores e, por isso, ainda não tomou nenhuma providência sobre o caso.
“O relatório [final] não está fechado ainda. Em cima disso, vamos atuar para que se possa ver se cabe ou não a penalização à empresa. Não posso antecipar se vai haver multa ou não”, afirmou o diretor da Anvisa, José Agenor aos parlamentares que cobraram punições pela falha da empresa.
Questionamento dos deputados
Durante a audiência, os deputados questionaram a qualidade do produto, a segurança do sistema de fabricação e chamaram de “demorado” o tempo que a empresa dispendeu para identificar o problema. Foram 17 dias da data da fabricação (25 de fevereiro) até o recall do produto (14 de março).
“Nas amostras que nós tínhamos na fábrica, nós não pegamos os [produtos produzidos nos] 80 segundos [em que houve o problema]. No que analisamos, o produto estava bom. Por isso, foi liberado”, justificou o vice-presidente sobre a demora em detectar o erro.
Debs classificou o erro como “uma falha operacional” - uma conjunção de dois fatores: falha da máquina e falha humana - do operador do equipamento. “A máquina não deveria aceitar um comando para envase e o operador que apertou algum botão e fez a máquina entrar novamente em funcionamento. Foi uma conjugação das duas causas”.
O vice-presidente também negou que o funcionário tivesse cometido o erro por excesso de trabalho ou por falta de treinamento. Segundo ele, a fábrica funciona em três turnos e a carga horária média dos trabalhadores é de 42 horas semanais. “Temos nas linhas controles redundantes que não foram suficientes. Vamos intensificar ainda mais para garantir que volte à normalidade”.
Debs informou ainda que o incidente fez com que a empresa aumentasse o número de produtos fabricados que são utilizados nas amostras para controle de qualidade. As amostras são testadas antes dos lotes serem distribuídos para a venda.
Histórico
Conforme a Unilever, desde o último dia 13 de março nenhum outro produto fabricado na linha TBA3G foi distribuído e a linha de produção afetada pela contaminação está inativa. A empresa afirma que já adotou as medidas corretivas e está "colaborando com a Anvisa com o fornecimento de todas as informações necessárias para a revogação da interdição cautelar que possibilitará o retorno da fabricação, bem como a liberação para a distribuição, comercialização e consumo dos lotes da AdeS com as iniciais AG (exceto AGB25).
A Anvisa e o Departamento de proteção e defesa do consumidor do Ministério da Justiça disseram que ainda é cedo para calcular o quanto quais as punições a empresa poderá ter em função da falha. Com relação ao pagamento de multa, o valor máximo previsto pela Anvisa é de R$ 1,5 milhão, e, pelo Código de Defesa do Consumidor, pode chegar a R$ 6,2 milhões.
Orientações ao consumidor
A orientação da Anvisa é que os consumidores não utilizem os produtos já adquiridos e, em caso de queimaduras ou outros sintomas após consumo, procurem um médico. A solicitação de troca, reembolso ou reparo a quaisquer danos decorrentes do consumo do produto contaminados deve ser feita pelo SAC (serviço de atendimento ao cliente) da empresa por telefone no 0800 707 0044, das 8h às 20h, ou por e-mail pelo sac@ades.com.br.
A Anvisa também dispõe de uma canal de atendimento ao cidadão no 0800 642 9782.
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