Porto Alegre tem fila em postos e mercados e busca por água: 'Acabou em 4h'
A falta de água potável em Porto Alegre, por causa das enchentes que atingem o estado, levou uma multidão de pessoas aos mercados. Em um estabelecimento, o produto terminou em cerca de quatro horas. Também há postos sem combustível há dias e, naqueles que ainda têm gasolina, motoristas fazem fila para abastecer.
O que aconteceu
Supermercado tem corrida por água. O Zaffari da avenida Otto Niemeyer, no bairro Tristeza, registrou filas próximo do meio-dia de hoje. Ali ainda havia água mineral. Quando o UOL chegou ao local, ainda havia galões de 5 litros, que já estavam nos carrinhos dos clientes.
Produto terminou em cerca de 4 horas. Quando a loja abriu, às 8h, havia água mineral com e sem gás, de diferentes tamanhos. Porém, horas depois, só havia fardos de 500 ml com 12 unidades na versão com gás. Os clientes que chegavam ao supermercado iam direto à seção onde se costuma colocar os galões de 5 litros de água sem gás. Porém, ao verem as gôndolas vazias, se dirigiam a outro ponto do mercado, onde estavam as garrafas menores.
Garrafas terminam em minutos. Em pouco tempo, a pilha de fardos ia se desfazendo. "É só o que tem aqui. Hoje de manhã, tinha cinco pallets e já foi tudo", diz um funcionário. O gerente da unidade —que não quis de identificar— explicou aos clientes que havia previsão de chegada do produto nos próximos dias.
Família foi reabastecer estoque de água. Moradora do bairro Camaquã, Natalia Dornelles, 39, foi ao supermercado com a mãe e os dois filhos, de sete meses e quatro anos. Ao ver que não havia galões, não pensou duas vezes e pegou dois fardos com 24 garrafas de 500 ml.
Lá em casa, não tem água há dois dias. Não dá pra ficar sem
Natalia Dornelles, moradora do bairro Camaquã
Diarista foi ao mercado comprar água, mas desistiu ao ver filas, que já avançavam pelos corredores. "Não vale a pena ficar nessa fila enorme só para comprar um fardo de água. Vamos ver em outro lugar", diz a funcionária de serviços gerais Kellen Praz, 41.
Em outra unidade do Zaffari, na avenida Juca Batista, o movimento era mais tranquilo. Mas já não havia água. No local onde costuma ficar o produto, foram colocados refrigerantes. "A água terminou ontem, mas chegou hoje e já foi" disse um funcionário às 13h.
Mercado de rede catarinense também registra falta de produto. No Bistek da zona sul de Porto Alegre, o produto se esgotou em poucas horas. "Hoje de manhã, o movimento estava grande aqui." Não há previsão de reabastecimento.
Comércios menores também têm escassez de produtos. No Armazém Bom Gado, na Tristeza, não há mais água e gelo, como indica uma placa na entrada da loja. O gerente do local, Eduardo Marcelino, 27, conta que a falta decorre da alta procura e de problemas com dois fornecedores desses produtos, que foram afetados pelas enchentes.
O distribuidor de água é de Canoas, já o de gelo é do Humaitá, na zona norte de Porto Alegre. Esses locais foram bastante afetados pelas enchentes
Eduardo Marcelino, gerente de um armazém
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Quero receberArmazém está sem água desde domingo. Por isso, o comércio parou a produção na confeitaria e está vendendo produtos terceirizados. O estabelecimento também ficou sem luz ontem e só estava aceitando dinheiro, mas hoje o fornecimento de energia foi reestabelecido. "A gente tem uma reserva de água de emergência, uma caixa d'água pequena, mas estamos usando para lavar utensílios. Também temos um minigerador de energia, então nossa câmara fria - onde ficam as carnes- não foi afetada."
Caminhões-pipa tiram água de hidrantes na zona sul. Dali, a água é levada para hospitais da cidade. "Essa água é para abastecer o bairro?", questionou aos funcionários do Dmae uma moradora que passou de carro. "Não, essa é para uso emergencial", explica um deles.
Postos sem gasolina e com filas
Postos registram filas e falta de combustíveis. A reportagem passou por 12 postos e só encontrou gasolina em dois. "Só tem a aditivada. Vai durar só mais uma hora", estimava o frentista de um estabelecimento na avenida Eduardo Prado.
"Vamos ter que enfrentar a fila, não tem o que fazer", diz moradora do extremo sul de Porto Alegre. A estudante Viviane This, 25, contou que abasteceu há uma semana e que tem tentado usar o carro o mínimo possível, mas acaba precisando dele para entregar doações. Ela diz que o posto do seu bairro não tem gasolina há dois dias, então precisou rodar pela cidade até encontrar combustível.
Onde eu moro já faz dois dias que não tem gasolina no posto próximo da minha casa. Só aqui, depois de muitos quilometros que eu encontrei Viviane This, estudantes
Cidade sob racionamento de água
Porto Alegre está oficialmente sob racionamento de água desde ontem. O decreto, publicado em edição extra do Diário Oficial, restringe o uso da água para consumo essencial. A prefeitura pede que se evite lavar carros, calçadas e fachadas. A orientação também vale para regas de jardins e gramados, além do uso em salões de beleza, clínicas estéticas, academias e banho e tosa de animais.
Das seis estações de tratamento disponíveis, apenas duas estão funcionando, segundo nota divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde.
Nesta terça, a Defesa Civil informou que o abastecimento de água para consumo na cidade voltou. Segundo o órgão, a água da torneira é potável, ainda que saia turva.
Já "o consumo de água de fontes não é recomendado", diz a Defesa Civil, nem depois de filtrada ou fervida. Quem, ainda assim, precisar recorrer às bicas de qualidade duvidosa deve priorizá-las para os "usos menos nobres", como limpeza e descarga de vaso sanitário.
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