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Brasil não está pronto para lidar com protestos populares, diz Anistia Internacional

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

14/06/2013 10h33

O Brasil não está pronto para lidar com os protestos populares e, na grande maioria das vezes, usa a polícia para responder com violência. Essa é a conclusão do diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, que classificou a violência policial na noite dessa quinta-feira (13), em São Paulo, como “muito chocante”.

Segundo Roque,  repressão aos protestos contra o aumento da passagem na capital paulista está sendo acompanhada de perto pela instituição, diante de uma preocupação internacional.

Policiais atiram contra pessoas pedindo fim da violência

“Ficou o claro despreparo do Estado –e não falo só São Paulo, falo de país-- para lidar com protestos populares, de lidar com legítimo direito do cidadão de se indignar contra aquilo que parece ser uma injustiça. Falo isso sem entrar no mérito das questões. Nessas horas, as instituições são colocados em xeque, mas falham e se mostram incapazes e despreparadas”, afirmou.

Cenas do protesto em SP

Elio Gaspari: Os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais
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Vídeo gravado durante os protestos em São Paulo mostra um policial quebrando, com socos, um dos vidros do próprio carro da polícia. Assista

Para Roque, há um claro despreparo das polícias, que tendem a agir com violência contra manifestantes. Mas isso também seria um reflexo claro do discurso inflamado dos gestores, que, no caso de São Paulo, “criminalizam” as manifestações.

“Essas cenas não se reduzem ao despreparo do policial, que recebeu um recado claro do governo, ao chamar de vândalo o manifestante. Há um histórico de não saber conter os protestos de rua sem uso de violência, e você assim está jogando fósforo em combustível. A fala das autoridades foi o principal causador da violência”, disse, referindo-se às entrevistas do prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador Geraldo Alckmin que criticaram, na quarta-feira (12),  a "violência" dos protestos.

Sobre a ação policial na noite dessa quinta-feira (13), em repressão à manifestação em São Paulo, que terminou com mais de 230 presos, Átila disse que a atuação foi desproporcional.

“A sequência de cenas que assistimos foi a polícia agredindo pessoas que não ofereciam qualquer risco, dentro de lojas, de bares, protestando pacificamente, muitas vezes até ajoelhadas. São cenas absurdas de uma ação desproporcional. É muito chocante”, falou.

Explosão de revolta

Roque também disse que não vê organização política nos protestos organizados nas maiores cidades país. “Isso vem pelo discurso da qualificação de vandalismo, de acusar manifestação política, o que não é o caso. O que há é uma explosão de revolta em relação ao custo do transporte, isso em todo país, que afeta diretamente a vida das pessoas”, afirmou.

Outro ponto questionado é a prisão de grande número de manifestantes durante o protesto em São Paulo. “A quantidade pessoas enquadradas em formação de quadrilha só porque vai para rua protestar é preocupante. Essas pessoas são detidas em uma qualificação de um crime inafiançável.” 

O diretor da Anistia Internacional afirma que os protestos de rua ganham legitimidade por conta da falta de diálogo com as autoridades, o que ocorreu em São Paulo. “Outro elemento importante é essa blindagem. Você tem como se fosse uma barreira, que veta qualquer possibilidade de discutir. O Estado, com seu papel de mediador, precisa ouvir para que aquela revolta seja contemplada de alguma forma.”

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Sou da Paz

O Instituto Sou da Paz, de São Paulo, divulgou nota na manhã desta sexta-feira (14) em que diz “repudiar o episódio de violência policial” ocorrido na noite dessa quinta-feira no centro da capital paulista.

“O que aconteceu é inadmissível. A polícia extrapolou todos os protocolos de uso da força, agindo de maneira truculenta e irresponsável, atentando contra tudo o que se espera de uma instituição que deve prestar segurança a todos os cidadãos”, traz a nota.

O instituto diz esperar que o governador [Geraldo Alckmin, PSDB] reveja sua postura para resgatar algum canal de confiança e diálogo entre a polícia e os cidadãos.  “Além de coibir, identificar e punir abusos, ele deveria nomear o quanto antes o ouvidor de polícia. (...) Quem tem a função de fazer a lei ser cumprida deve ser o primeiro a dar exemplo.”

Arte UOL

Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
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