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PM do Rio retira manifestantes acampados em frente à casa de Cabral

Manifestantes que permaneciam acampados em frente à casa de Cabral recolhem pertences - Osvaldo Praddo/Agência o Dia/Estadão Conteúdo
Manifestantes que permaneciam acampados em frente à casa de Cabral recolhem pertences Imagem: Osvaldo Praddo/Agência o Dia/Estadão Conteúdo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

02/07/2013 09h05Atualizada em 02/07/2013 13h36

Os cerca de 15 manifestantes que permaneciam acampados na esquina da avenida Delfim Moreira com a rua Aristides Espínola, no Leblon, zona sul do Rio, onde mora o governador Sérgio Cabral (PMDB), foram retirados do local pela Polícia Militar por volta das 2h30 desta terça-feira (2).

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A PM informou que a retirada dos manifestantes ocorreu para desobstruir a via que estava sendo bloqueada por eles e para manter o direito de ir e vir dos moradores. No total, 18 policiais participaram, junto com a Secretaria Municipal de Ordem Pública, da operação.

Segundo um dos porta-vozes da ocupação, o bacharel em direito Bruno Cintra, 29, o número de PMs era quase três vezes maior que o informado pela polícia. "Chegaram uns 60 policiais armados até os dentes. Eles nos abordaram com muita truculência. O objetivo não era desobstruir a via?", questionou. "Mesmo depois que nos colocaram na calçada, eles continuaram a pegar nossas barracas e pertences. Só não deram tiro lá porque não foi na (comunidade da) Maré. No Leblon, é muito caro politicamente."

Segundo a PM, policiais do 23° BPM realizaram a retirada do acampamento. Um dos manifestantes, Jair Seixas Rodrigues, 37 anos, foi encaminhado a 14ª DP (Leblon), após "se posicionar agressivamente contra a desocupação", segundo a polícia. De acordo com a Polícia Civil ele também danificou uma viatura da PM.

Rodrigues foi autuado por dano ao patrimônio público, pagou fiança de R$ 800 e vai responder em liberdade pelo crime. O dinheiro foi arrecadado pelos próprios ativistas em uma "vaquinha". Cintra afirmou que o amigoestava dormindo dentro de uma barraca e foi acordado a chutes por policiais. "Ele já tinha apanhado da polícia no domingo [30], no Maracanã, e ficou apavorado, muito agitado. Os policiais arrastaram o Jair pendurado pelas mãos e pelos pés e o colocaram no porta-malas da viatura", contou o ativista.

"Eu não queria deixar ele sozinho. Insisti para entrar no carro. Deus sabe o que poderia ter acontecido com ele", disse o manifestante. "Ele não estava armado. Só quebrou o vidro porque estava espremido no porta-malas." Cintra ainda reclamou da conduta dos policiais. "Perguntamos onde estava o mandado e disseram 'mandado coisa nenhuma, isso aqui acabou'", disse.

Ainda segundo a Polícia Civil, os pertences pessoais dos manifestantes foram devolvidos. No entanto, cartazes, colchonetes, edredons foram apreendidos e encaminhados para a perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Às 9h45, os manifestantes ainda prestavam depoimento na delegacia.

Mapa dos protestos

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A ação foi informada por volta das 3h na página em uma rede social do "Ocupe Delfim Moreira". Segundo um manifestante que pediu para não ser identificado, um policial militar que participou da ação disse que a desocupação do acampamento foi uma "operação normal de desobstrução de via pública".

No momento da operação, chovia muito na cidade. A maioria dos ativistas dormia dentro das barracas. O grupo chegou ao local no dia do maior protesto das últimas semanas, que levou cerca de 300 mil pessoas às ruas do centro do Rio, segundo estimativa da PM.

Segundo representantes do "Ocupe Delfim Moreira", as principais reivindicações do movimento são a realização de uma audiência para investigar os gastos excessivos na obra do Maracanã (orçado em R$ 500 milhões, mas que custou mais de R$ 1 bilhão e 500 milhões) e na Copa do Mundo; a reabertura da investigação do caso da Delta Construções, do empresário Fernando Cavendish; e uma explicação sobre a relação que a mulher de Cabral teria com grandes empresários do setor de transporte público.

Procurado pelo UOL, o Governo do Estado informou, por meio de nota, que respeita o direito de qualquer cidadão se manifestar pacificamente. "Esse direito, no entanto, não pode ser exercido em prejuízo da ordem pública e do direito de ir e vir das pessoas", diz o texto.


"O governador (Sérgio Cabral) se dispôs a receber todos os acampados na rua da sua residência. Alguns deles aceitaram o convite e efetivamente se reuniram com o governador no Palácio Guanabara. Um outro grupo se recusou a manter um diálogo com o governo e manteve o propósito de ocupar uma rua da cidade, afetando o trânsito e o direito de ir e vir das pessoas, apesar de ter sido feita ontem [segunda-feira] uma última tentativa de diálogo", afirma a nota.

Segundo Bruno Cintra, o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, foi ao acampamento conversar com os manifestantes na tarde desta segunda. "Ele perguntou o que a gente queria e dissemos que gostaríamos de falar com o governador com a presença da imprensa. Ele não gostou e negou. Não podemos fazer somente nas circunstâncias que eles querem", disse Cintra. "Mas em nenhum momento ele disse que aquela seria a última tentativa de diálogo."

Reunião

Os manifestantes haviam informado que só sairia do acampamento no Leblon depois que tivesse representantes recebidos por Cabral.

Na última quinta-feira (27), cinco pessoas que disseram ter acampado na Delfim Moreira participaram de uma audiência com o governador no palácio Guanabara, em Laranjeiras, zona sul do Rio.

Na saída do encontro, um homem que se identificou como Eduardo Oliveira disse que o grupo não tinha uma pauta de reivindicações pronta para tratar com Cabral.

"Pedimos um controle das manifestações e segurança, pois as pessoas não estão se sentindo seguras para se manifestar", disse ele. "Estamos tentando fazer uma ponte entre todos os que têm algo para falar e o governo."

Ele evitou falar com a imprensa e orientou todos que tivessem dúvidas sobre a conversa com o governador e os próximos passos do movimento entrassem no site do grupo, batizado de Somos o Brasil. O site, no entanto, não existe. Mesmo a página do Facebook, criada na quinta, não contava com nenhuma publicação além da descrição "Movimento Social Somos o Brasil".

Na porta do palácio, o ator Vinícius Fragoso, 20, disse que Eduardo nunca acampou na porta da casa do governador e "é um infiltrado que está tentando desestabilizar o grupo". Fragoso chegou ao local acompanhado de dois membros do grupo que permanece no Leblon.

"Ele [Eduardo] tentou convencer as pessoas de que o movimento já tinha acabado e que aquela não era uma luta do povo. Eles não falam por nós. São oportunistas que se aproveitaram a situação", disse Fragoso. "Nosso movimento não vai acabar, nós vamos continuar lá", afirmou o ator.

Após a reunião, o governador declarou, por meio de nota, que está "aberto a todos os movimentos que desejarem participar e colaborar para a melhoria dos serviços públicos". Sobre o encontro com os cinco jovens -- que segundo informou o Governo do Estado eram o analista de sistemas Eduardo Oliveira, o tradutor Rafael Garcia, a  estudante de engenharia Danuza Medeiros, a vendedora Julia Sinder e o estudante de fotografia Sven Waddington -- o governador afirmou que percebeu “grande sede de participação entre os jovens, que se mostraram dispostos a exercer de boa fé a cidadania”.

Outra audiência foi solicitada pelo grupo e agendada para o dia 1º de agosto. Na ocasião, os jovens se comprometeram a apresentar uma pauta de ações e acompanhamento, principalmente nas áreas de educação, saúde e segurança."

Polícia

A única ocorrência policial registrada durante o protesto até esta terça havia sido a prisão de um motorista que avançou o bloqueio da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro) no último sábado (22).

Ele foi levado para a delegacia do Leblon e preso por embriaguez ao volante e injúria por preconceito. O homem foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal), mas se recusou a fazer exame de verificação de embriaguez. Ele pagou fiança e foi liberado.