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Campeã do IDH, São Caetano (SP) orgulha-se de "provincianismo" e começa a sofrer com trânsito

Clique na imagem e confira o Índice de Desenvolvimento Humano da sua cidade; infográfico traz dados de educação, renda e longevidade em 1991, 2000 e 2010 - Arte UOL
Clique na imagem e confira o Índice de Desenvolvimento Humano da sua cidade; infográfico traz dados de educação, renda e longevidade em 1991, 2000 e 2010 Imagem: Arte UOL

Marcelo Moreira

Do UOL, em São Caetano do Sul (SP)

30/07/2013 06h00

O trânsito pesado do meio da tarde é um terror para os caminhões de entrega de mercadorias nas estreitas ruas de São Caetano do Sul, cidade do ABC paulista que, pela terceira vez, ficou em primeiro lugar no IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) 2013, divulgado nesta segunda-feira (29) pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

O aumento do tráfego, no entanto, não incomoda os motoristas de automóveis novos e seminovos -- a cidade já tem 1,1 automóvel para cada habitante com idade suficiente para dirigir. É grande a quantidade de SUVs (utilitários esportivos) de várias marcas, mas não se ouvem buzinas. Parece que a “novidade” dos engarrafamentos, ainda que pequenos, não é suficiente para tirar os moradores do sério.

As 20 cidades com os melhores IDHs em São Paulo

Ranking do IDH das cidades no Brasil

CidadePontuação no IDHM
São Caetano do Sul (SP)0,862
Águas de São Pedro (SP)0,854
Florianópolis (SC)0,847
Vitória (ES)0,845
Balneário Camboriú (SC)0,845
Santos (SP)0,840
Niterói (RJ)0,837
Joaçaba (SC)0,827
Brasília (DF)0,824
Curitiba (PR)0,823
  • Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013

"Até que demorou bastante para que o trânsito ficasse complicado. Pela quantidade de carros que a cidade tem, já era para estar tudo parado há tempos. Tem muito dinheiro por aqui, é natural que haja carros demais mesmo", diz tranquilamente a comerciante Ana Paula Marques, 56 anos, a bordo de um utilitário esportivo recém-comprado, numa  esquina movimentada do bairro Santa Paula, de classe média alta.

Provincianismo

O sul-sancaetanense faz questão de destacar o poderio econômico da cidade e sente orgulho de morar na "província", como alguns gostam de se referir à cidade com IDH de 0,862 (em uma escala que vai de 0 a 1).

Os 15 quilômetros quadrados de área, ínfimos para os quase 150 mil habitantes, reúnem uma população que faz o que pode para trabalhar, estudar e viver no município. Neste caso, orgulho facilmente se confunde com autossuficiência, para irritação dos moradores dos municípios vizinhos -- maiores, mais populosos, com orçamentos mais ricos, mas com qualidade de vida pior.

Segundo a prefeitura, há 100% de pavimentação nas ruas, 100% de esgoto tratado, 100% de crianças nas escolas e quase nenhum analfabetismo. Mas o provincianismo aflora mesmo quando o morador típico enche o peito para falar que a cidade não tem favelas - nem poderia ter, por absoluta falta de espaço. Preconceito e discriminação socioeconômica? O habitante de São Caetano não está nem aí.

"Aqui não há favelas, é fato, goste-se ou não. É uma cidade limpa, com gente bem educada e trabalhadora. As pessoas gostam daqui, ao contrário de outras cidades da Grande São Paulo. É possível viver de forma digna, com um pouco do clima de interior", diz o engenheiro Ricardo Costa, de 39 anos, nascido e criado no bairro Barcelona, com escritório no centro da cidade.

Questionado sobre a violência, o morador relativa. "Claro que existe, é uma cidade com bastante gente com dinheiro, mas com certeza é menor do que em São Bernardo ou Santo André. Eu me preocupo, mas minha mulher e meus dois filhos vivem bem aqui."

As raízes italianas estão em todo lugar: nos nomes das ruas, das praças, das cantinas, das padarias, das lojas. "Meu bisavô fundou São Caetano no século 19, tem uma rua com o nome dele, Antonio Gallo. Nasci e cresci na cidade, trabalhei aqui na maior parte da minha vida", brada com orgulho Pedro Mamana, 89 anos, ex-metalúrgico que brigava para conseguir uma vaga na cancha de bocha do centro da terceira idade Moacyr Rodrigues, no bairro Santa Paula.

DNA da cidade

Mamana tem o DNA do habitante típico da cidade: faz questão de ressaltar as origens e de como as raízes são fortes o suficientes para não serem quebradas. "Tenho tudo o que preciso aqui. Sempre tive. Ajudei a educar meus netos pagando colégios e faculdades. Estudaram sempre perto de casa e trabalham na cidade o que não tem preço. Por que sair daqui?"

Entenda o que é e como é calculado
o IDH dos municípios

  • Arte/UOL

A quantidade de "superlativos" impressiona mesmo quem gosta de morar na megalópole vizinha, São Paulo. São títulos e mais títulos concedidos por entidades como ONU, Fiesp e diversos organismos multilaterais. São Caetano foi apontada como o quinto melhor município brasileiro para se trabalhar, de acordo com a pesquisa "As 100 Melhores Cidades para Fazer Carreira", coordenada pelo professor Moisés Balassiano, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ).
 
Em 2009, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), apontou a cidade como a mais desenvolvida do país - ela conquistou a nota 0,9524, em uma escala em que 1 é o maior índice possível. Isso significa que São Caetano é a melhor cidade entre os mais de 5.500 municípios brasileiros para se viver.
 
Na saúde, são 38 estabelecimentos ligados ao SUS (Sistema Único de Saúde), sendo cinco deles hospitais de bom nível. 

Também em 2009, São Caetano do Sul foi apontada como a cidade com menor mortalidade infantil no Estado de São Paulo. No município, a média é de 4,1 óbitos de crianças menores de um ano para cada mil bebês nascidos vivos, índice comparado ao de países desenvolvidos como Alemanha, Áustria, Bélgica e Dinamarca e menor do que o dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, segundo o relatório Situação Mundial da Infância de 2009 da Unicef - o índice médio do Brasil é de 19,3 e no Estado de São Paulo, 12,5 mortes para cada mil nascidos. Para completar, existem 71 Escolas municipais, com cerca de 25 mil alunos.

Na área de educação, não existe déficit de vagas nas escolas municipais, nem para a educação infantil em período integral (creche), segundo a prefeitura.

"São Caetano é uma cidade cara? É, mas ela oferece de tudo e devolve em dobro. Possibilita uma boa vida para quem trabalha e não reclama. Mesmo quem não é rico, como eu, vive muito bem. Não quero mais do que isso e não trocaria São Caetano por nada", diz Pedro Mamana.