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Julgamento de fazendeiro acusado da morte de Dorothy Stang pode terminar hoje

Carolina Sarres*

Da Agência Brasil, em Brasília

19/09/2013 20h42

A expectativa do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) é a que a sentença do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, seja anunciada ainda nesta quinta-feira (19). Ele é acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005. O fazendeiro está sendo julgado pela quarta vez.

De acordo com a promotoria do caso, Bida ofereceu R$ 50 mil aos executores de Dorothy. O acusado nega.

Durante o dia, foram ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação. O julgamento é realizado em Belém (Pará). A sessão está em fase de debates entre as partes. Em seguida, os jurados irão se reunir para deliberar.

Os advogados de Bida convocaram o ex-policial federal Luiz Fernando Raiol, considerado a principal testemunha de defesa. Raiol alega que foi segurança pessoal da missionária e que o fazendeiro não foi o mandante do crime. Em depoimento, o ex-policial disse que investigou o caso e não constatou a participação de Bida. Para Raiol, a morte da missionária teve motivação política.

Questionado pelo juiz Raimundo Moisés Alves Flexa, o ex-policial confirmou ser amigo pessoal de Bida.

A família de Dorothy e integrantes da congregação Irmãs de Notre Dame Namur, à qual pertencia a missionária, informaram à Agência Brasil que Raiol não foi segurança de Dorothy nem tinha proximidade com ela. Em depoimento, a irmã Rebeca Spires, da mesma congregação de Dorothy e que foi testemunha de acusação, disse que Raiol não era segurança ou amigo da missionária.

Raiol está preso por formação de quadrilha e extorsão, condenado a mais de 15 anos de prisão. Ele testemunhou por meio de autorização e chegou ao fórum em viatura policial.

Outra testemunha ouvida foi Amair Feijoli Cunha, conhecido como Tato, condenado a 18 anos de prisão pelo envolvimento com a morte de Dorothy. Tato também está preso e testemunhou em condição de corréu, ou seja não prestou depoimento sob juramento, pois, pela legislação brasileira, não é obrigado a produzir provas contra si.

Do lado da promotoria, testemunharam a irmã Rebeca Spires, da congregação de Dorothy, o delegado da Polícia Civil que presidiu o inquérito sobre o crime, Waldir Freire, e o funcionário do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) Bruno Kemper.

A missionária Dorothy Stang foi morta a tiros no município de Anapu, no sudoeste paraense, em 12 de fevereiro de 2005. De acordo com o Ministério Público, ela foi assassinada porque defendia a implantação de assentamentos para trabalhadores rurais em terras públicas que eram disputadas por fazendeiros e madeireiros da região.

As investigações das polícias Civil e Federal na época do crime indicaram que Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Batista foram os autores do assassinato. Amair Feijoli Cunha, o Tato, foi apontado como intermediário. Ele foi contratado por Bida e por Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, que pagaram R$ 50 mil pelo assassinato da missionária, conforme a investigação.

A defesa de Bida alega que não há evidências suficientes que comprovem o envolvimento do fazendeiro no caso.

Condenado a 30 anos no primeiro julgamento, em 2007, Bida teve direito a novo júri em 2008, quando foi absolvido. O segundo julgamento, no entanto, foi anulado por fraude processual. No terceiro julgamento, que durou mais de 50 dias, Bida voltou a ser condenado, mas os advogados conseguiram a anulação alegando cerceamento de defesa. Na ocasião, o fazendeiro foi a júri representado por um defensor público, que admitiu posteriormente não ter tido acesso a todo o processo, o que foi usado pela defesa posterior de Bida para pedir a anulação do julgamento.

* Colaborou Ivan Richard