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Rivais da gestão do Sindicato dos Motoristas negam participação em greve

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

21/05/2014 18h14

Os principais adversários da atual gestão do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de São Paulo (Sindmotoristas), presidido por José Valdevan, conhecido como Noventa, negaram em entrevista ao UOL que estejam por trás da paralisação que parou a capital paulista nos últimos dois dias.

A reportagem entrevistou, por telefone, Isao Hosogi, o Jorginho, antecessor de Valdevan na presidência do sindicato; Luiz Gonçalves, ex-diretor do sindicato e atual presidente estadual da NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores); e o vereador Vavá dos Transportes (PT), que também participou da gestão anterior.

Os três integravam a direção anterior do sindicato, à qual Valdevan e outros membros da atual gestão também faziam parte e que estava no comando do Sindmotoristas desde 2004. Em abril de 2013, a três meses das eleições, Valdevan rompeu com o grupo de Jorginho, até então seu grande aliado, e lançou sua candidatura ao comando do sindicato.

“Vi uma entrevista do presidente [Valdevan] querendo culpar opositores, mas 90% do pessoal da nossa chapa foi demitido depois que as eleições acabaram”, disse Jorginho. “Fiquei um pouco distante do sindicato depois que fui derrotado”, acrescentou o ex-presidente.

Para Jorginho, a paralisação ocorre porque a campanha salarial foi mal conduzida pela atual gestão. “Acabaram fazendo uma assembleia no escuro. Convocaram os trabalhadores para fazer um ato na segunda-feira até a prefeitura e acabaram fazendo uma assembleia para aprovar a proposta do patrão.”

Apesar de se opor a Valdevan, o ex-presidente critica a paralisação. “Não apoio esse tipo de coisa porque não dá para apoiar. A população não pode pagar”, afirmou Jorginho.

Ontem, em entrevista ao UOL, Valdevan disse não acreditar na participação de Jorginho na paralisação, mas afirmou que trabalhadores ligados à gestão anterior poderiam estar por trás da greve.

Vavá dos Transportes afirmou que está afastado do sindicato desde o ano passado e que na sua região de influência, a zona leste, não foi afetada pela paralisação. “A zona leste foi a única região que não teve problemas. Ontem eu sai da Câmara às 23h30. Para mim eles estão com problema interno e querem jogar o foco em outras pessoas.”

Luiz Gonçalves, presidente da Nova Central, também afirma que está distante do sindicato e acredita que a paralisação seja fruto da insatisfação dos motoristas e cobradores. “Os trabalhadores que se insurgiram não são dissidentes, não são ex-diretores. É uma insatisfação dos próprios trabalhadores que acham que teve uma tentativa de golpe [da atual gestão].”

Nesta terça-feira, a reportagem ligou várias vezes para os celulares de Valdevan e de seu assessor, mas as ligações não foram atendidas.

Tanto Valdevan, quanto os três opositores não acreditam na participação das empresas de ônibus na atual paralisação.

Entenda a disputa

Após o racha a três meses da eleição, Valdevan conseguiu apoio da UGT (União Geral dos Trabalhadores), central sindical ligada ao PSD. Até então, o Sindimotoristas era filiado à NCST, central fundada por dissidentes da CUT (Central Única dos Trabalhadores). As duas centrais apoiaram a chapa de Jorginho.

A campanha pelo sindicato foi marcada por troca de acusações entre os antigos aliados. Na campanha, Valdevan distribuiu panfletos acusando o antigo aliado de ser o “Jorginho do Patrão”. Em 10 de julho de 2013, no mesmo dia da eleição sindical, o grupo liderado por Valdevan chegou a bloquear 17 terminais de ônibus, em manifestação semelhante à que ocorre atualmente na capital.

Na noite do mesmo dia, pouco antes de iniciar a apuração dos votos, houve uma briga na sede do sindicato que terminou com ao menos oito feridos, três deles baleados. A Justiça do Trabalho decidiu adiar as eleições, que só foram realizadas em setembro. A chapa de Valdevan ganhou a disputa com 58% dos votos –ao todo, mais de 20 mil dos 37 mil motoristas e cobradores votaram.

Acusações e mortes

Nas fichas de Valdevan e Jorginho há acusações de formação de quadrilha, lavagem e desvio de dinheiro, enriquecimento ilícito e suspeitas de ligações com o crime organizado. Ambos foram presos em 2003, acusados de comandar uma máfia que organizava greves em conluio com as empresas de ônibus, prática conhecida como Locaute. No ano seguinte, os dois foram soltos e retornaram à atividade sindical.

Valdevan chegou a ser indiciado em inquéritos policiais com acusações de roubo, homicídio e estupro, mas não sofreu nenhuma condenação. Em 2010, Jorginho foi suspeito de participar de um esquema de desvios de verbas do sindicato em contratos com planos de saúde, convênios com empresas e na compra de cestas básicas. Ele nega todas as acusações.

De acordo com investigações do Ministério Público, 16 pessoas morreram nos últimos 20 anos em função da disputa pelo poder dentro do Sindicato dos Motoristas de São Paulo.