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Corpos não identificados passam mais de um ano em necrotério de Sumaré (SP)

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

02/06/2014 15h20

Dois corpos de pessoas não identificadas estão há um ano nas gavetas do necrotério municipal de Sumaré (a 118 km da capital de SP). Eles aguardam a identificação por parte de familiares ou a liberação judicial para o sepultamento.

Funcionários da instituição reclamaram da lentidão da Secretaria de Segurança Pública na execução dos procedimentos. A SSP, por sua vez, não deu prazo para que os corpos sejam retirados do local.

Segundo funcionários do necrotério ouvidos pelo UOL, a demora na liberação dos corpos incomoda. “Temos seis gavetas, e duas estão ocupadas há um ano. Existe um risco sério de não termos onde colocar os corpos”, disse um empregado que não quis se identificar. “Além disso, se houver um problema, esses corpos vão entrar em decomposição muito rápido. Eles já deveriam estar enterrados.”

Quando um corpo chega ao necrotério, a identificação normalmente ocorre em até 15 dias. Nesse tempo, geralmente familiares encontrados pela polícia fazem a liberação do corpo para o enterro.

Na falta de parentes, ou caso os corpos apresentem impossibilidade de reconhecimento --caso de queimados, por exemplo --, outros exames, como identificação através de DNA, são realizados. Depois de 15 dias, no entanto, os corpos só podem ser enterrados por determinação judicial.

O corpo que está há mais tempo no local é de um homem que se suicidou em maio do ano passado em Hortolândia. Em 8 de maio de 2013, ele foi levado ao Hospital Municipal Mário Covas após ter jogado álcool e ateado fogo no próprio corpo. Ele morreu em decorrência de queimaduras de segundo e terceiro graus. No boletim de ocorrência, consta que o nome do homem seria Graciliano, e o apelido, "Mineiro".

Após a morte, o corpo foi encaminhado para o necrotério em Sumaré. Na ficha de entrada, consta que a vítima foi para o local no dia 9 de maio do ano passado. Nenhum parente foi ao local identificar o corpo. A polícia tampouco conseguiu encontrar, nas investigações, ninguém que o conhecesse.

Depois de sete meses, segundo informações do necrotério, as autoridades policiais requereram que o IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), ligado à SSP (Secretaria de Segurança Pública), fizesse o reconhecimento. Segundo funcionários do necrotério, isso ainda não foi feito.

Atropelado

Outro caso envolve um homem atropelado na noite de 23 de junho de 2013. No registro da ocorrência feito pela Polícia Civil, um engenheiro afirmou que trafegava de carro pela rodovia Anhanguera (SP-330) quando atingiu uma pessoa que tentava cruzar a pista no km 108, trecho localizado na área rural de Sumaré.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi chamado e encaminhou a vítima para o Hospital Estadual de Sumaré, onde ela morreu. O homem foi levado para o necrotério no dia 24 de junho do ano passado e, da mesma forma, não foi identificado pelas autoridades. Houve solicitação para que o IIRGD fizesse a identificação por DNA para que parentes fossem encontrados. O resultado ainda não foi entregue.

A SSP e o IIRGD foram procurados para comentar. A reportagem questionou a data da solicitação dos procedimentos e quais seriam os prazos para sua realização. Em nota, a Superintendência da Polícia Técnico Científica limitou-se a informar, no entanto, que “não há limite legal para que um corpo seja mantido na câmara fria do IML”. “Os corpos podem ficar à disposição da Polícia Civil enquanto não forem esgotadas todas as possibilidades de identificação da pessoa.”

Ainda segundo a instituição, “as vitimas foram submetidas a exame datiloscópico, mas não foi possível a identificação. Parentes e familiares não foram localizados para coleta de material e confronto de DNA".

"Foram realizados exames necroscópicos e coleta de material genético. A polícia ainda tenta localizar parentes das vítimas e, esgotadas todas as possibilidades, será solicitada autorização judicial para que os corpos sejam enterrados.”

"Estou esperando chegar o resultado [dos exames], e a polícia terminar o inquérito. Depois, vai para o juiz, que autoriza o enterro. Enquanto isso tudo não acontecer, não tem o que fazer”, disse Alexandre Nascimento, proprietário da funerária responsável pelo enterro dos dois corpos.