Topo

Cadeirante que se arrastou em aeroporto fez o mesmo na lua de mel

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

11/12/2014 06h00

"Sempre viajei e fui muito bem atendida, mas o raio caiu duas vezes na mesma pessoa", lamenta a cadeirante Katya Hemelrijk, coordenadora de comunicação de uma empresa de cosméticos, que viu um desabafo em seu perfil no Facebook transformar-se em comoção nacional.

Portadora de osteogênese imperfeita, uma síndrome rara que fragiliza seus ossos, ela precisou se arrastar pela escada de entrada da aeronave da Gol no dia 1º de dezembro no aeroporto de Foz do Iguaçu (SP) porque não havia na ocasião os equipamentos necessários para facilitar seu acesso.

A "segunda queda do raio" a qual se referiu Katya, em entrevista ao UOL, é porque ela já havia passado por isso durante sua lua de mel, em 2006 --ela não lembra por qual companhia. "Aconteceu comigo duas vezes em um período de oito anos. Mas pela incidência de pessoas que ouço falar que subiram no colo para viajar, sei que acontece frequentemente".

Em Foz do Iguaçu, Katya esperava usar o stair-trac, que consegue subir escadas levando um cadeirante consigo. Mas no momento do voo a bateria do aparelho estava descarregada. "Foi um erro humano, eles simplesmente esqueceram de carregá-lo", diz.

Sem máquinas, ela afirma que subir se arrastando é a forma mais segura para alguém na condição dela. "Conheço meus movimentos e sei a hora de parar e de continuar. Do chão eu não passo", conta Katya, que adota essa técnica em outras oportunidades em prédios e estabelecimentos de São Paulo. "Já fiz isso para não perder um treinamento da empresa em que trabalho. Não deixo de fazer as coisas por conta disso mas não é algo que me agrade".

Katya não aceitou ser levada no colo e se arrastou para subir em avião da Gol - Divulgação - Divulgação
Katya não aceitou ser levada no colo e se arrastou para subir em avião da Gol
Imagem: Divulgação

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) notificou na terça (2) a Gol e a Infraero, órgão que administra aeroportos no país, para que prestassem esclarecimentos sobre o embarque. Segundo a Anac, os envolvidos poderão pagar multas de até R$ 300 mil.

No entanto, Katya prefere que o dinheiro de uma eventual multa seja investido para trazer melhorias ao atendimento a cadeirantes. Ela não pretende processar a Gol e diz manter contato com a companhia para tentar implantar um grupo de trabalho para capacitar funcionários e adquirir equipamentos que atendem a portadores de necessidades especiais, idosos e outros clientes que requeiram cuidados extras.

"Pelo caminho de processar, de multar, de receber benefícios, outros já conseguiram. Mas não quero tirar vantagem de ninguém. Prefiro que a Anac fiscalize melhor do que receba o dinheiro da companhia apenas por obrigatoriedade de multar. Quero que os paratletas venham para cá em 2016 sem ter que passar por isso", destaca Katya, fazendo referência às Paralimpíadas que ocorrerão no Rio de Janeiro daqui a dois anos.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Gol não confirma a informação de que estaria em contato com Katya para implementar um grupo de trabalho para auxiliar passageiros cadeirantes.

A companhia também enviou nota dizendo que "realiza investimentos significativos na questão da acessibilidade, tanto em suas aeronaves quanto no atendimento ao cliente, promovendo revisões constantes em todos os seus procedimentos".

Em comunicado, a Infraero diz que não recebeu a notificação da Anac até o momento e diz que, segundo a resolução 280/2013 da agência, os procedimentos de embarque/desembarque são de responsabilidade das empresas aéreas, "podendo a Infraero oferecer suporte de infraestrutura quando necessário".