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Cheia alaga casas doadas pelo governo do AC a ex-moradores de área de risco

Véssia Alves, 25, mostra objetos perdidos com a cheia na semana passada no condomínio Vale do Carandá - Odair Leal/UOL
Véssia Alves, 25, mostra objetos perdidos com a cheia na semana passada no condomínio Vale do Carandá Imagem: Odair Leal/UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em rio Branco

19/03/2015 06h00

Entre os 86 mil afetados pela enchente do rio Acre, os moradores do Vale do Carandá, na região da Baixada do Sobral, na periferia de Rio Branco, têm motivos de sobra para reclamar dos prejuízos. Inaugurado há pouco mais três anos, o local foi doado pelo governo do Estado a pessoas que moravam em áreas de risco. 

Mas o que seria solução se tornou problema: o loteamento costuma ficar alagado durante as chuvas e, com a enchente das últimas semanas, a água invadiu casas e causou muitos prejuízos. Com isso, pessoas que antes não sofriam tanto com a cheia passaram a entrar no mapa crítico da capital acriana.

No conjunto, a água chegou a mais de um metro de altura dentro de algumas casas. Os moradores tiveram que abandonar as residências às pressas. “Onde eu morava antes alagava, mas não entrava água dentro de casa. Agora, aqui, a água entrou e, se não tivesse pego um barco para socorrer, tinha perdido tudo”, contou Jaílson Matos de Souza, 39.

Moradores do loteamento afirmam que, quando chove, a falta de drenagem faz com que as ruas fiquem cheias de água. Em julho do ano passado, o Ministério Público do Acre chegou a debater a qualidade da obra e questionou a falta de estrutura do local.

Daniele Souza, 28, mora no loteamento desde a inauguração da primeira etapa, há três anos, e conta que foi escolhida para receber uma casa porque tem um filho deficiente. “A água entrou mais de um palmo aqui dentro. Minha casa antiga não era atingida”, afirmou.

Os moradores dizem que, quando foram transferidos para o conjunto, foram informados que se tratava de uma área segura, sem riscos de alagamento. “Nunca imaginaria que aqui iria sofrer com alagação, nunca disseram. Desde que chegamos aqui, há dois anos, notamos que a água sempre chegava aqui à rua e já era ruim. Mas agora foi pior, entrou em casa”, relatou Véssia Alves, 25. “Perdi sofá, fogão, móveis.”

Nem mesmo as casas que têm batente escaparam da água desta vez. “Entrou a água com tudo, a gente não imaginava que isso ia ocorrer. Seria muito bom que vissem um novo local para a gente, porque aqui se tornou complicado de morar nessa situação”, afirmou José Batista da Silva, 39.

Segundo o governo do Acre, o loteamento possui 214 unidades habitacionais entregues e teria sido planejado, à época, como um espaço que pudesse atender as necessidades educacionais, de saúde e de segurança. O local escolhido obteve todos os requisitos.

"Nunca havia tido registro de que alguma enchente havia atingido aquele local até a cheia histórica ocorrida neste ano. A área foi atingida por água represada e, para os próximos anos, um plano de contingência será executado, onde o lençol do entorno será rebaixado", informou, em nota.

Ainda segundo o texto, o governo federal participou da construção das casas por meio do Programa Pró-Moradia. Cada casa teve o custo de R$ 28 mil.