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Com duplicação atrasada, BR-101 em AL vira rodovia mais perigosa do país

Carlos Madeiro

Do UOL, em Messias, Pilar e São Miguel dos Campos (AL)

03/04/2015 06h00

São apenas 248 km de rodovia, mas que se transformaram no maior tormento de motoristas e passageiros de ônibus no país. Em obras de duplicação há cinco anos, a BR-101 em Alagoas é a campeã nacional em assaltos, segundo levantamento da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), concentrando quase 10% da ocorrências de 2014.

Ao todo, foram 24 casos no ano passado --um a cada 15 dias, em média. O total de ocorrências é maior que o número de todos os assaltos nas rodovias de São Paulo em 2014, quando foram registrados 20 casos. No país, foram 277 registros. Com a maior malha viária, Minas Gerais lidera, com 66 relatos.

Na BR-101 alagoana, os assaltos ocorrem à noite ou madrugada, com rendição do motorista pelos passageiros, desvio do veículo para canavial e roubo a todos os ocupantes. 

Para fugir dos assaltos, um das medidas tomadas pelas empresas há alguns anos é evitar que ônibus circulem sozinhos à noite. Assim, eles formam comboios de pelo menos três veículos.

Curvas e obras

O UOL percorreu os trechos considerados mais perigosos, nas cidades de Pilar, Messias e São Miguel dos Campos, e conversou com motoristas de ônibus que trafegam rotineiramente pelo local para entender o porquê de tantos casos.

Parte dos assaltos é atribuída à própria pista --com muitas curvas, ladeiras e falta de iluminação-- e ao atraso das obras, que deixa o tráfego mais lento em alguns pontos. Também citam o pouco policiamento e a alta criminalidade na região --Alagoas é o Estado com maior taxa de homicídios do país desde 2006.

Helenildo Laurindo é motorista de ônibus há nove anos e sofreu seu primeiro assalto na noite do dia 20 de dezembro, quando deixava a rodoviária de São Miguel dos Campos, às margens da BR-101.

“Quando estávamos no embarque dos passageiros, seis homens chegaram armados e roubaram tudo de todos”, contou o motorista, que guiava o ônibus no trajeto João Pessoa-Rio de Janeiro.

O controlador de tráfego de empresa de ônibus José Roberto relata que a BR-101 em Alagoas se transformou numa rota do medo. “Existe uma determinação para que os ônibus parem em Feira de Santana (a 100 km de Salvador) e só venham para cá em grupos de três. A partir de Maceió, existe outra parada e ordem para seguir em comboio até Natal”, explicou.

Segundo o coordenador, os ataques a ônibus são marcados pela ousadia dos assaltantes. “Eles quase sempre ultrapassam o carro e, pela janela, mostram as armas e obrigam o ônibus a parar. Eles desviam o veículo para um canavial e lá roubam tudo. A gente praticamente não vê viatura da polícia”, disse.

PRF faz operações

A Polícia Rodoviária Federal informou que o número de ocorrências registradas pela corporação é menor que o da ANTT. “Como, por questões de seguro, as empresas não são obrigadas a fazerem o boletim na PRF, eles buscam direto a Polícia Civil, e a gente acaba subnotificado. É importante que as empresas nos procurem, porque só assim temos um mapeamento de onde estão ocorrendo os assaltos”, contou a inspetora Mariana Silveira, responsável pela comunicação da PRF no Estado.

Sobre os dados de 2014, Silveira conta que cerca de 70% dos assaltos se concentraram nos meses de novembro e dezembro. “Quando começou essa onda de assaltos, a PRF tomou providências: fez a operação Rota Segura e desarticulou duas quadrilhas. Neste ano, por exemplo, registramos cinco casos de assaltos em rodovias federais, e o último foi em fevereiro", afirmou.

Sobre o atraso da obra, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) informou que ele ocorreu em função do licenciamento ambiental e da necessidade de adequação do projeto. Segundo o órgão, a previsão de término da duplicação é dezembro de 2016.

A ANTT informou ao UOL que não iria comentar o levantamento, porque apenas recebe os dados que são repassados pelas empresas. Para a agência, cabe aos órgãos de segurança fazer análises, cruzar dados e estipular medidas.