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Defesa de fazendeiro acusa delator de ser o mandante da chacina de Unaí

Julgamento da chacina de Unaí no plenário da Justiça Federal, em Belo Horizonte - Rayder Bragon/UOL
Julgamento da chacina de Unaí no plenário da Justiça Federal, em Belo Horizonte Imagem: Rayder Bragon/UOL

Rayder Bragon

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

30/10/2015 17h08

O delator é o mandante do crime. Essa é a tese apresentada pela defesa do fazendeiro Norberto Mânica, conhecido como “rei do feijão”, acusado de mandar matar três auditores fiscais e um motorista do  Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em janeiro de 2004, na cidade de Unaí (MG).

Mânica e o empresário José Alberto de Castro, acusado de ter intermediado a contratação dos executores, estão sendo julgados em Belo Horizonte.

O advogado de Mânica, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, acusou o cerealista Hugo Pimenta, delator da “chacina de Unaí”, de ter sido o verdadeiro mandante do crime. 

As quatro vitimas foram emboscadas em uma estrada vicinal da cidade mineira, quando os fiscais checavam denúncias de trabalho escravo em fazendas da região.  

“Esse homem [Pimenta] é um psicopata. Ele manipulou o Ministério Público [Federal], que se deixou manipular e teria o dever legal e moral de pedir a anulação das delações”, disse Kakay, referindo-se a acordo feito entre Pimenta e o Ministério Público. O cerealista acusou Mânica de ser o mandante das mortes durante as investigações. Kakay quer a anulação dessa delação.

Apesar de ser o delator, Pimenta também é réu no mesmo processo - também é acusado de ter feito contato com os assassinos. Como colaborou com a Justiça, teve o processo desmembrado e começará a ser julgado no próximo dia 10 dia de novembro.

Segundo Kakay, a motivação para o crime é simples: Pimenta seria psicopata. “Essa pergunta se faz para pessoas normai.s Você não pode fazer essa pergunta para uma pessoa que tem esse grau de manipulação (....). Eu não tenho nenhuma dúvida, há provas no autos disso.”

Lúcio Adolfo, defensor de Pimenta, rebateu as acusações e desqualificou a fala de Kakay. “O psicopata não manda, ele faz. Eu não sabia que o Kakay era psiquiatra e nem se teve oportunidade de poder examinar o meu cliente. Qual o motivo que meu cliente teria para o mando? Por que eles falaram isso só agora? Tiveram oito anos para apresentar provas [e não o fizeram]."

O julgamento teve início na terça-feira (27). Estava anteriormente  marcado para começar no dia 22, mas, após pedido da defesa, que alegou não ter tido acesso a uma nova prova, a Justiça remarcou o júri.

Durante as sessões feitas nesta semana, foram ouvidas testemunhas de acusação e defesa, e os jurados assistiram a vídeos sobre o caso. Entre os depoimentos, constou o de Hugo Pimenta que, mais uma vez, acusou Mânica de ter sido o mandante dos crimes.

Durante seu interrogatório, feito nesta quinta-feira (29), José Castro confessou sua participação no crime, mas apenas do fiscal Nélson José da Silva. O advogado dele já havia sinalizado que o cliente faria a confissão.

Apesar de negar relacionamento com Mânica, Castro afirmou que teve conhecimento, por meio de Hugo Pimenta, delator da chacina, de um interesse do fazendeiro na morte de ao menos um dos fiscais.

Por sua vez, Norberto Mânica negou participação no crime. Anteriormente, já havia sido apontado como sendo o mandante por Pimenta. Antério Mânica, irmão de Norberto e também réu no processo, começara a ser julgado no próximo dia 4 de novembro.

Emboscada

As mortes ocorreram na manhã do dia 28 de janeiro de 2004, na zona rural da cidade de Unaí, situada no noroeste do Estado. Na época, Nélson José da Silva, João Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, auditores fiscais, além do motorista do Ministério do Trabalho Ailton Pereira de Oliveira, foram assassinados a tiros em uma estrada vicinal do município enquanto fiscalizavam denúncias de trabalho escravo em fazendas região.

Os quatro foram atacados quando estavam dentro de uma caminhonete, que fora interceptada pelos pistoleiros, segundo a acusação. As vítimas morreram no local.

Após os crimes, Antério Mânica, irmão de Norberto, elegeu-se prefeito da cidade mineira por dois mandatos [2005 a 2012]. O julgamento de Norberto, conhecido na região como o “Rei do Feijão", e dos dois outros acusados, estava previsto para ser realizado em setembro de 2013, mas a defesa conseguiu adiá-lo após ter entrado com pedido de habeas corpus para que fosse transferido para Unaí.

No entanto, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em abril deste ano, decidiu que o julgamento seria realizado pela Justiça Federal, em Belo Horizonte.

Condenações

Outros três réus foram condenados pela Justiça Federal, em 2013, pela morte dos funcionários federais. Apontados como executores dos assassinatos, Rogério Allan Rocha Rios foi condenado a 94 anos de prisão; Willian Gomes de Miranda recebeu uma pena de 56 anos.

Erinaldo de Vasconcelos Silva, que delatou os outros dois e confessou participação nas mortes, foi beneficiado por uma delação premiada e apenado com 76 anos e 20 dias de prisão. No entanto, pela legislação brasileira, a pena máxima que um condenado pode cumprir é de 30 anos.