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Em meio a cinzas, museu ainda é atração para quem busca cultura em SP

Julia Heinemenn (à esquerda) e Fernanda Cruz, no Parque da Luz, em São Paulo. As amigas não desistiram da visita ao Museu da Língua Portuguesa, ao fundo - Gabriela Fujita/UOL
Julia Heinemenn (à esquerda) e Fernanda Cruz, no Parque da Luz, em São Paulo. As amigas não desistiram da visita ao Museu da Língua Portuguesa, ao fundo Imagem: Gabriela Fujita/UOL

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

22/12/2015 19h28

A pedido da amiga francesa que está em férias no Brasil, a professora de Letras Fernanda Cruz, 38, que mora em São Paulo, tinha preparado um roteiro cultural pela capital paulista.

Mesmo com o incêndio que destruiu o Museu da Língua Portuguesa na tarde desta segunda-feira (21), o itinerário não desprezou a importante parada para os que passam pelo centro da cidade. Em vez de desistir da visita, elas decidiram ver como ficou o prédio.

"A gente veio ver esse momento que é, pelo menos, histórico. Um museu pega fogo, mas ainda é um museu. Mesmo incendiado, ele ainda é um museu", disse a professora.

"Fizemos ontem um plano de passeio turístico para conhecer São Paulo, e a gente tinha previsto para hoje de manhã conhecer a Pinacoteca, o acervo da Pinacoteca, a Estação da Luz e o Museu da Língua Portuguesa", ela contou à reportagem do UOL, enquanto caminhavam pelo Parque da Luz, que fica em frente ao museu e de onde se vê bem uma de suas fachadas.

A parede tem manchas de fuligem no primeiro e no segundo andar, e quase todas as janelas estão com os vidros quebrados.

"Vi as fotos ontem do fogo no telhado, e agora vim aqui e vi que são dois andares que pegaram fogo, é horrível", disse a historiadora parisiense Julia Heinemenn, 33.

A rua entre o parque e o museu está interditada desde o incêndio, e a Defesa Civil esperava uma avaliação dos técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), realizada durante a manhã e a tarde de hoje, para decidir sobre a liberação do tráfego de trens partindo e chegando à estação da Luz.

"É uma decisão técnica que requer uma junta para você poder definir, não é uma simples decisão, pela complexidade da estação. Isso, sobre as linhas e os trens, porque o prédio continua interditado", afirmou Milton Roberto Persoli, coordenador da Defesa Civil de São Paulo.

Pela manhã, o IC (Instituto de Criminalística) havia feito vistoria para avaliar as condições iniciais do incêndio e a situação que levou à morte o bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, 39, mas o IC não se manifestou sobre as conclusões.

A francesa Julia, que não fala português, explicou que queria conhecer o museu "pelos manuscritos, a história dos poetas, escritores, e é importante, ao conhecer um país, conhecer a língua do país".

"Para mim fica a memória do que era o museu antes, agora não sei como vai ser a reconstituição dele", disse Fernanda, que visitou o museu umas três vezes.

"É triste não só pela perda do prédio, do acervo, pelo prejuízo, mas o que a gente tem de política de conservação de museus ou patrimonial?", afirmou, lembrando de outros dois graves incêndios em prédios públicos de São Paulo: no Memorial da América Latina, em novembro de 2013, e no Instituto Butantan, em maio de 2010.