Com "gringos" e pouco policiamento, praia de Ipanema tem roubo "todo dia"
Às margens de um dos mais valorizados bairros do Rio de Janeiro, a praia de Ipanema, na zona sul da cidade, vive hoje uma rotina de insegurança. "Todo dia é isso", comenta um policial civil da Deat (Delegacia Especial de Atendimento ao Turismo) enquanto conduz um suspeito de cometer um roubo no local. De lá, foram registrar a ocorrência na unidade.
A constatação se repete em conversas com quem frequenta ou trabalha na praia, que passou a receber maior número de turistas estrangeiros desde agosto por conta dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos --estes ainda em andamento. Na opinião de comerciantes que atuam na área, a presença dos "gringos" atrai mais assaltantes. Frequentadores, por sua vez, reclamam do pouco patrulhamento da Polícia Militar na orla do bairro.
Dados divulgados pelo ISP (Instituto de Segurança Pública) do Rio, órgão ligado à Secretaria de Segurança, apontam que em julho deste ano, o último mês disponível, foram registrados 48 casos de roubo a pedestre em Ipanema. O número é 78% maior que o registrado em julho do ano passado (27). É também maior que o contabilizado no último mês de março (38), em pleno verão, quando os índices geralmente são os maiores do ano.
No acumulado dos sete primeiros meses de 2016, as 396 ocorrências representam aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2015, quando foram registrados 345 casos. O crescimento inverte a curva descendente dos sete primeiros meses de 2014 --472 casos-- em relação a 2015.
"Não adianta, lugar que tem gringo, tem dinheiro, e vai ter assalto. De vez em quando passa um turista por aqui gritando 'policía'", diz um comerciante que pediu para ser identificado apenas como Roberto, simulando um sotaque espanhol na última palavra. "Mas às vezes eles [turistas] dão muito mole. Já vi gente deixando a bolsa aberta e dormindo na areia. A ocasião faz o ladrão."
Durante o dia, conta o vendedor, poucos policiais ficam no local. "Acho que é por causa do calor", ironiza.
Uma funcionária do Posto 9, que também pediu para não ter o nome divulgado, diz ter notado que a atuação dos PMs e dos homens das Forças Armadas --no Rio desde o fim de julho-- ficou "muito concentrada" em Copacabana, bairro vizinho e ainda mais visado por turistas.
O UOL percorreu a orla de Ipanema no fim da manhã e início da tarde desta quarta-feira (14) e avistou apenas dois soldados do Exército, no calçadão, próximos ao Posto 10. Pouco depois, na orla de Copacabana, havia pelo menos nove trios de militares ao longo da avenida Atlântica. Horas depois da passagem da reportagem pelo local, 92 pessoas foram levadas para a delegacia, sendo 82 menores de idade, após vários tumultos e tentativas de arrastão.
A Polícia Militar foi procurada pela reportagem do UOL para comentar a situação e afirmou que "o policiamento na zona sul do Rio é realizado de forma dinâmica através de rondas com viaturas e motos, quadriciclos e patrulhamento a pé". Segundo a corporação, o planejamento operacional e a distribuição do efetivo são feitos pelo comando de cada unidade --no caso, o 23º Batalhão da PM-- com base na análise da mancha criminal.
"Se colocassem policiais à paisana na areia, poderia resolver o problema", sugere o segurança Hélio França, 51, que vai à praia com frequência e presenciou um roubo no local momentos antes de dar entrevista.
"Decepcionante"
Na cidade há uma semana, uma família argentina já havia sido alertada sobre a insegurança no Rio, e acabou entrando para as estatísticas de roubo nesta quarta. "Estávamos na praia, tomando sol, quando um jovem passou, pegou a minha mochila e saiu correndo", conta Martin Fiandrinho, 44, enquanto registra a ocorrência na Deat, situada no Leblon, bairro vizinho, ao lado da filha, Rafaela, 10.
"É decepcionante", comenta o turista, que mora em Córdoba. O grupo, de cinco pessoas, tem a viagem de volta marcada para a Argentina para o próximo domingo (18) e veio ao Brasil para assistir às Paraolimpíadas. O prejuízo, segundo estimativa de Martin, foi de aproximadamente US$ 2.000 --o equivalente a R$ 6.700, na cotação atual. Entre os pertences roubados, estavam o próprio celular e o da filha e a carteira com dinheiro, documentos e cartões de crédito.
Na delegacia, o argentino ouviu do agente que o atendeu que os turistas devem levar não os documentos originais, mas suas cópias.
Também na tarde desta quarta, outro roubo foi registrado na especializada. Agentes da Deat seguiam para outra ocorrência quando viram uma correria no calçadão. Por coincidência, dois policiais federais que esperavam pelo reboque do carro quebrado em um quiosque perceberam a movimentação e conseguiram deter dois suspeitos. Outros dois foram capturados pelos policiais civis. Duas mulheres haviam sido assaltadas pelo grupo e conseguiram reaver seus celulares.
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