Moradores de Copacabana relatam dia de tiros, mortes e medo: "era guerra"
Após um dia de intensos tiroteios, os morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, foram ocupados por policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais). Os confrontos começaram pela manhã e resultaram em três policiais baleados, três suspeitos mortos e oito presos.
As trocas de tiros obrigaram os comerciantes a fechar as portas dos estabelecimentos e forçaram a interrupção do tráfego de veículos em ruas, avenidas e túneis do bairro. À noite, parte do comércio permanecia fechado, e os moradores das favelas diziam estar com medo de subir o morro e voltar para suas casas depois do trabalho.
"Enquanto a bala estiver voando eu só deixo meia porta aberta. É melhor ter prejuízo do que morrer", contou o dono de um bar na rua Sá Ferreira, próximo a um dos acessos ao Pavão-Pavãozinho. "Isso aqui não parecia guerra, era a própria guerra", acrescentou.
Os tiroteios começaram quando uma equipe da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) que atende a comunidade encontrou um grupo de traficantes armados.
Um homem identificado como André Lourenço, 22, morreu durante o confronto da manhã, segundo a Polícia Civil, que abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte. De acordo com a PM, ele estava armado com um fuzil AK-47.
Ainda pela manhã, o Batalhão de Choque da PM foi acionado para reforçar o policiamento, com auxílio de helicóptero. Os tiros voltaram a ocorrer no início da tarde, quando o comandante da UPP, capitão Vinícius Apolinário de Oliveira, foi ferido com estilhaços.
O oficial foi levado para o Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio, e liberado após receber medicação. Outros dois policiais do Batalhão de Choque foram atingidos, mas passam bem.
"Eu saí de casa 6h e pouco, e lá no alto já tinha tiro. Agora são 18h e está do mesmo jeito. O jeito é me arriscar e subir", contou um eletricista que mora há 16 anos na comunidade. Com medo de represálias, ele preferiu não se identificar.
O confronto provocou reflexos até mesmo em Ipanema, bairro vizinho a Copacabana. O metrô chegou a fechar um dos acessos da Estação General Osório por medida de segurança. Moradores da região relataram ter ouvido tiros e barulhos de explosão, que acreditaram ser de granadas.
"Eu estava no banco, na avenida Nossa Senhora de Copacabana, quando muita gente procurou se esconder da agência. Então eu corri para casa, porque moro perto, e vi traficantes tentando queimar um ônibus. Dava para sentir o cheiro da gasolina. As pessoas desceram do ônibus correndo e chorando", contou a bacharel em Direito Sandra Vieira, 58.
O momento mais tenso foi por volta das 15h30. Os barulhos de tiros podiam ser ouvidos pelo bairro de Copacabana, quando policiais do COE (Comando de Operações Especiais) faziam nova investida contra os traficantes.
Um grupo de sete suspeitos foi acuado pelos policiais no alto do Cantagalo --seis deles se renderam e foram presos, mas um tentou fugir e caiu da encosta do morro. A queda foi filmada por moradores de prédios vizinhos. Ele ainda não foi identificado.
"No confronto, os bandidos foram encurralados na parte alta do morro, devido à geografia do local", explicou o tenente Daniel Puga, coordenador de comunicação do COE. "Quem se rendeu, foi preso. O que tentou fugir acabou morto", acrescentou.
Com o homem que caiu, a polícia diz ter encontrado uma mochila com 8 kg de pasta base de cocaína. Segundo Puga, ainda não é possível afirmar se o ele chegou a ser baleado antes de cair.
Entre os seis presos estava Samuel de Freitas e Silva, 30, o Samuca, apontado como gerente do tráfico na comunidade. Dois dos suspeitos presos foram baleados e socorridos pelos policiais.
Ao todo, a polícia apreendeu seis fuzis, uma pistola adaptada para funcionar como fuzil e uma pistola normal.
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