Topo

Acusados de matar ambulante são transferidos; polícia analisa novas imagens

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo*

28/12/2016 19h17Atualizada em 28/12/2016 21h38

Os dois homens acusados de espancarem até a morte o ambulante Luiz Carlos Ruas, 54, na noite do último domingo (25) na estação Pedro II do Metrô de São Paulo foram transferidos na tarde desta quarta-feira (28) para o 77º DP, no bairro de Santa Cecília, na capital paulista. A causa da morte do camelô também foi divulgada nesta tarde: traumatismo craniano grave.

Alípio Rogerio dos Santos, 26, e Ricardo do Nascimento, 21, estavam na Delpom (Delegacia do Metropolitano), dentro da estação Barra Funda da linha 3, onde passaram por reconhecimento de 14 testemunhas. Nascimento foi preso na noite de ontem em Itupeva, a 73 km de São Paulo. Já Dos Santos foi detido hoje de manhã no bairro de Itaquera, zona Leste da capital.

28.dez.2016 - Multidão aguarda as saídas de Ricardo do Nascimento e Alípio Rogerio dos Santos da Delpom (Delegacia do Metropolitano), na estação Barra Funda. A dupla foi transferida para o 77º DP, no bairro de Santa Cecília - Robson Ventura/Folhapress - Robson Ventura/Folhapress
Multidão aguarda as saídas de Ricardo do Nascimento e Alípio Rogerio dos Santos da Delpom
Imagem: Robson Ventura/Folhapress
A saída dos dois acusados foi marcada por um princípio de tumulto na estação Barra Funda. Policiais do GOE e do Garra foram chamados para fazer a segurança da delegacia, já que dezenas de pessoas estavam em frente ao local, à espera da passagem dos dois homens, aos gritos de “assassinos” e “justiça”. Um tiro de alerta chegou a ser dado. "Mesmo eles tendo cometido esse crime bárbaro, temos que preservar a integridade deles", disse o delegado Rogerio Marques, titular da Delpom.

Nascimento e Dos Santos, que tiveram prisão provisória decretada na terça-feira, já passaram por exame de corpo de delito no IML e permanecerão por 30 dias no 77º DP. Quando esse prazo terminar, o delegado poderá pedir a prisão preventiva da dupla.

Segundo o delegado Marques, não há indícios de crime de intolerância ou homofobia, ainda que, de acordo com as testemunhas, Ruas tenha sido perseguido e agredido por defender um travesti e um homossexual do lado de fora da estação. O policial também informou que a hipótese de uso de um soco inglês por parte dos acusados não foi confirmada, já que as primeiras imagens divulgadas não eram claras.

Legítima defesa e novas imagens

A defesa dos dois rapazes alega que eles foram vítimas de uma tentativa de assalto por parte de moradores de rua da região enquanto urinavam na praça ao lado da estação e que Alípio Rogerio dos Santos levou uma garrafada de Ruas antes de agredi-lo. O homem apresentava diversas lesões pelo corpo - na cabeça, nos ombros, nas pernas e nas costelas - ao ser detido hoje, mas ainda não se sabe se eram decorrência do momento do crime.

O delegado, porém, contesta a tese de legítima defesa apresentada pelos acusados, que também disseram estar bêbados no momento do crime. "Nada justifica o que eles fizeram, eles foram lá para matar o ambulante", disse Marques, complementando que houve contradições nos depoimentos dos rapazes e que eles estão bem orientados pelo advogado.

Luiz Carlos Ruas é espancado até a morte por dois homens em uma estação de metrô na cidade de São Paulo - Reprodução - Reprodução
Luiz Carlos Ruas foi espancado até a morte dentro da estação Pedro II
Imagem: Reprodução
A polícia ainda analisará cinco novos vídeos com imagens do ocorrido. Em um deles, exibido pelo delegado para a imprensa nesta tarde, os dois acusados são vistos três minutos após as agressões, andando tranquilamente, no que o delegado chamou de "postura fria". Na cena, Alípio Rogerio dos Santos aparece com um sangramento na cabeça - inicialmente confundido com uma tatuagem nas primeiras imagens -, e Ricardo do Nascimento carrega um saco plástico grande nas costas.

Segundo o delegado, os presos tiveram que ser encaminhados para a Delpom, apesar de a unidade estar localizada dentro de um terminal rodoviário que integra metrô e ônibus e com grande aglomeração de pessoas, porque esta será a delegacia responsável pela investigação. "Se fosse feito em outro lugar, poderia gerar uma tese de defesa para os advogados deles", explicou Marques.

Denúncias e recompensas

Na terça-feira, o delegado Osvaldo Nico, responsável pelas investigações, revelou que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) ofereceria uma recompensa de R$ 50 mil a quem tivesse informações sobre o paradeiro dos acusados, então foragidos.

Na tarde desta quarta, o delegado Ricardo Marques informou que a polícia recebeu, ao todo, 35 denúncias, vindas da cidade de Santos e das regiões Norte e Leste de São Paulo. Segundo ele, uma delas dizia exatamente a localização de Alípio Rogerio dos Santos. A polícia, no entanto, já estava bem próxima do local antes de receber a informação. Por isso, agora a SSP decidirá sobre o pagamento ou não de recompensas.

* Com Agência Brasil