Habib's cita laudo e diz que João Victor foi vítima de abandono e drogas
O Habib’s divulgou um longo comunicado oficial nesta terça-feira (14) afirmando que a morte do garoto João Victor de Souza Carvalho, 13 anos, no último dia 26, foi fruto de uma soma de fatores, entre eles da falta de estrutura familiar e da exposição do garoto às drogas.
“Como todo menino de apenas 13 anos, poderia ir à escola, fazer amigos, crescer, trabalhar, apaixonar-se por alguém, formar uma família e bem lá na frente, concluir seus dias rodeado pelos filhos, netos e outros que o amassem. No entanto, caiu vítima do mais trágico conjunto de circunstâncias a que milhares de crianças brasileiras estão vulneráveis nos nossos tempos: falta de assistência social, falta de educação, falta de alimentação, falta de estrutura familiar e a devastadora exposição às drogas”, diz o texto divulgado pela assessoria de comunicação.
A morte de João Victor esteve cercada de dúvidas. Testemunhas acusaram dois funcionários de uma lanchonete do Habib’s, na zona norte de São Paulo, de agredirem o garoto. Os empregados, por sua vez, disseram que o menino, que estava rodeando a loja pedindo dinheiro e comida, desmaiou após ter um mal súbito ao sair correndo.
O laudo divulgado pelo IML no último dia 7 informou que o menino sofreu um infarto cardíaco por ingestão de drogas. Em seu organismo, foram encontrados resquícios de substâncias tóxicas, como as relacionadas à cocaína. O relatório também negou a existência de qualquer lesão cervical ou na cabeça de João.
O advogado da família, Francisco Carlos da Silva, contesta o resultado e pedirá a exumação do corpo. “Se ele não tivesse sido agredido, ele estaria morto? Quero respostas como esta da [nova] perícia”, disse ele ao UOL.
No comunicado divulgado nesta terça-feira, o Habib’s citou boletins de ocorrência registrados contra João Victor anteriormente. Um de 2014, num episódio de roubo e ameaça à vítima, e outro de 2015. Neste último caso, segundo o texto, o garoto foi encaminhado ao Conselho Tutelar porque sua família não foi encontrada.
“João Victor fazia parte dos 24 mil meninos e meninas em situação de rua nas 75 principais cidades do país, por motivo de discussão com os pais, violência doméstica e uso de álcool e drogas (dados da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal). Ele foi mais uma vítima da dependência química e do abandono de instâncias que teriam a obrigação social e moral de lhe estender a mão. Um garoto de apenas 13 anos, sozinho, não tem como vencer tais obstáculos e a realidade, a triste realidade, acaba se impondo da forma como se impôs”, diz o comunicado.
No texto, o Habib’s volta a se defender das acusações de que seus funcionários tenham agredido o menino. A empresa diz que “sofremos boicotes, funcionários foram ameaçados, clientes foram intimidados e recebemos manifestações nas nossas portas, além de acusações, críticas e imputações injustificadas vindas das mais diversas fontes”.
Segundo o Habib’s, há dois registros telefônicos feitos por funcionários da loja no dia da morte de João, um para a Polícia Militar, relatando a presença do garoto e seu comportamento com os clientes, e outro para o Samu, pedindo resgate após o desmaio.
O comunicado diz ainda que a postura dos funcionários, filmados por câmeras de segurança carregando João sem cuidado e permitindo que o menino se chocasse contra o asfalto, foi fruto da “falta de experiência em situações de resgate” e tomou proporção maior do que a morte.
“Nem tudo ainda está 100% claro para nós, assim como não está para a sociedade. O que sabemos é que as cenas chocantes dos funcionários retirando João Victor do meio da rua movimentada — somadas à sua falta de experiência em situações de resgate — tornou-se assunto maior que o problema social existente no país e ainda maior que as causas que originaram sua morte, descritas pelos socorristas, pelos médicos do hospital e pelo médico legista do Instituto Médico-Legal”.
A empresa conclui o comunicado lembrando de sua participação em projetos sociais. “O Habib’s e seus 18.000 funcionários lamentam profundamente os fatos ocorridos e se comprometem a manter e ampliar seus projetos sociais direcionados às crianças, acreditando num futuro melhor para nosso país”.
Nesta quarta-feira (15), a rede informou que os dois funcionários, afastados no dia 2 de março, continuarão fora de suas funções até o término das investigações.
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