Doria diz que cracolândia virou "tentativa frustrada" de PCC reimplantar tráfico
Pouco mais de um mês depois de afirmar que a cracolândia em São Paulo havia acabado, o prefeito João Doria (PSDB) e secretários municipais deram três versões, nesta segunda-feira (26), ao problema: que ele "foi reduzido em um terço" e "reduzido a um terço" quanto ao volume de usuários e de tráfico no local, e, finalmente, que ele "acabou, sem a menor hipótese de voltar a existir". "O que você tem ali é uma concentração de usuários e a tentativa frustrada do PCC [Primeiro Comando da Capital] --que é a facção criminosa que domina esta área --de reimplantar a cracolândia. Não vai conseguir", disse o prefeito.
As versões foram apresentadas em entrevista coletiva na prefeitura na qual integrantes da administração municipal e do governo estadual fizeram um balanço das ações das duas instâncias de poder na cracolândia desde a operação de 21 de maio passado das polícias Civil e Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana), na região da rua Helvétia com a alameda Dino Bueno, no âmbito do programa Redenção. No mesmo dia, o fluxo de usuários se deslocou cerca de 400 metros, até a praça Princesa Isabel, onde permaneceu até a noite da última quarta-feira (21).
Ao lado do secretário estadual de segurança pública, Mágino Alves, Doria afirmou que desde as ações em maio, houve na região a "redução de um terço dos usuários e um terço da da venda de entorpecentes na área", uma vez que, segundo o secretário de segurança do Estado, 180 pessoas foram presas até 20 de junho. "É uma ação conjunta que permitiu resultados concretos e efetivos", definiu o prefeito, para quem, apesar das reuniões presenciais ou não dos envolvidos no trabalho, "não terminamos. Ainda há muito o que fazer".
Indagado sobre a base de comparação utilizada pela administração ao definir a redução de usuários e de tráfico em um terço, uma vez que a ação de 21 de maio dispersou usuários e tonificou minicracolândias na região central, o secretário municipal de assistência social, Filipe Sabará, resumiu que se trata de "uma questão visível". Nesse momento, foi interrompido pelo prefeito, que informou haver "monitoramento com drones e câmeras 24 horas por dia" para se chegar ao cálculo. "Em 1º de janeiro, eram 1.800 pessoas no fluxo, e agora são 300 a, no máximo, 600 pessoas", arrematou Sabará.
Diante dos números, o secretário municipal de saúde, Wilson Polara, corrigiu: "Não é que reduziu um terço, mas a um terço", ponderou, mencionando que recebe, todos os dias, tanto via agentes de assistência e saúde quanto pela GCM, relatórios com base em "observação local" sobre quantas pessoas estão no fluxo de dependentes químicos. "Ontem, mesmo, havia de 250 a 300 pessoas", completou Polara. "Houve redução, sim, de uusários, e de traficantes também --espero que vocês tenham anotado", declarou o prefeito, dirigindo-se aos jornalistas, referindo-se aos dados de prisões (180) e apreensões de crack (36,5kg) apresentados pelo secretário estadual e referentes a um mês (21 de maio a 20 de junho).
"Não tem a menor hipótese de voltar o shopping center de drogas a céu aberto. Não há mais ocupação do tráfico nem utilização de prédios onde havia refino da droga -- isso não existe mais", acrescentou Doria, segundo o qual, assim como de acordo com o chefe da SSP, o tráfico lucraria cerca de R$ 180 milhões ao ano só na região da cracolândia.
Questionado sobre o que é, portanto, a atual concentração de dependentes químicos na Helvétia com a alameda Cleveland --a menos de 100 metros do cruzamento com a Dino Bueno, onde ficava o cerne da cracolândia antiga --, tendo em vista que as ações de combate ao tráfico e o consumo da droga persistem, o prefeito retornou ao discurso de maio.
"O consumo ainda existe, foi reduzido; o tráfico existe, mas foi reduzido. O que você tem ali é uma concentração de usuários e a tentativa frustrada do PCC [Primeiro Comando da Capital] --que é a facção criminosa que domina esta área --de reimplantar a cracolândia. Não vai conseguir, não há a menor hipótese de reconquistar aquela área, de reocupar prédios nem armar barraca. A orientação do prefeito e do governador é de não haver espaço físico permanente que possa permitir o acobertamento de traficantes e o acolhimento de armas, de pasta-base de cocaína ou de crack", respondeu o prefeito.
Doria afirmou ainda que está sendo investigado pela GCM e pela Polícia Civil uma espécie de "delivery de drogas" com motociclistas que estariam a serviço do tráfico na área da cracolândia. "Fisicamente a cracolância, onde existia, não existe mais e não existirá --não há a menor hipótese disso. Às vezes a memória de vocês [jornalistas] é seletiva", ironizou, afirmando que mostrará, nas próximas coletivas, imagens da região "para mostrar o que era e o que é hoje".
Balanço de um mês
De acordo com o balanço apresentado pelas secretarias estadual da Saúde e municipal de Assistência Social, em um mês, foram realizados 7.243 atendimentos, dos quais 619 de pessoas encaminhadas para internação e tratamento, pelo programa Recomeço (do governo). Pelo Redenção, da prefeitura, foram 7.500 atendimentos na região desde 21 de maio --com 616 internações voluntárias feitas pelo município.
Conforme o secretário de segurança pública do Estado, o período teve ainda 180 presos na região --tanto nas imediações da Helvétia quanto nas da Princesa Isabel --, dos quais 17 são menores. Desse total, 108 foram presos em flagrante e outros 12 tinham mandados de prisão decorrentes de investigação do Denarc do ano passado. Também foram apreendidos 260 kg de entorpecentes, 36,5 kg na forma de crack, além de 43kg de maconha. Ainda nas apreensões, a SSP totalizou 16 simulacros de armas, 13 armas, 615 munições, 106 facas, 131 celulares e 76 balanças de pesagem de droga, mais três máquinas de cartão de crédito.
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