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Grande Rio tem tiroteio a cada 1 hora e meia; veja áreas mais violentas

Estado teve o semestre mais violento desde 2009 - Ellan Lustosa/Código19/Estadão Conteúdo
Estado teve o semestre mais violento desde 2009 Imagem: Ellan Lustosa/Código19/Estadão Conteúdo

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

18/08/2017 04h00

No último ano, a cidade do Rio de Janeiro e a região metropolitana registraram ao menos um tiroteio a cada aproximadamente uma hora e 30 minutos (102 minutos). Ao todo, foram 5.345 trocas de tiros entre os dias 5 de julho de 2016 e 5 de julho de 2017, de acordo levantamento do aplicativo Fogo Cruzado, vinculado à Anistia Internacional, obtido com exclusividade pelo UOL.

A cidade de São Gonçalo aparece como a área mais violenta, com 323 tiroteios e ao menos uma pessoa morta a cada três dias vítima de disparo de arma de fogo (114, no total).

Em seguida, aparecem o município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com 228 notificações de tiroteios e 81 mortos, e o Complexo do Alemão, na zona norte da capital, com 225 registros e 38 vítimas fatais

Em quinto lugar no ranking de tiroteios, com 179 notificações, a cidade de Nova Iguaçu, também na baixada, destaca-se pelo grande número de mortes. Em um ano, o local registrou ao menos 129 mortos.

Única área da zona sul entre os dez locais com mais registros de trocas de tiros, Copacabana teve 150 notificações, a maior parte nas favelas da região.

Pesquisadora e gestora de dados do Fogo Cruzado, Cecília Olliveira, chama atenção para o fato de os bairros vizinhos do Alemão e da Penha registrarem, juntos, quase o mesmo número de tiroteios que as cidades de São Gonçalo e Nova Iguaçu. Ela também lembra que boa parte das áreas listadas possuem UPP (Unidades de Polícia Pacificadora). “É urgente rever a política de segurança no Estado”, defende.

O Fogo Cruzado é uma plataforma colaborativa que registra a incidência de tiroteios e disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro cruzando dados de moradores, da polícia e da imprensa.

São Gonçalo

Com cerca de 1 milhão de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), São Gonçalo tem um histórico de violência. No fim de julho, 63 policiais e 22 traficantes foram presos acusados de participar de um esquema de propina para favorecer bocas de fumo na cidade. O batalhão de São Gonçalo tem cerca de 700 policiais --o número de PMs com mandado de prisão decretado pela ação equivale a 13% do efetivo.

Em 2011, a juíza Patrícia Acioli foi assassinada com 21 tiros, quando chegava a sua casa, em Niterói, região metropolitana. Ela havia condenado cerca de 60 agentes do 7º BPM ligados a milícias e grupos de extermínio. Onze PMs foram condenados pelo assassinato, entre eles, o então comandante do Batalhão de São Gonçalo, tenente-coronel Claudio Luiz Oliveira.

Crise na segurança

A crise no Rio levou o governo federal a autorizar o uso das Forças Armadas para fazer a segurança no Estado. Foi a 12ª vez em dez anos que o Estado recorreu formalmente à intervenção militar devido à violência.

Desde a última sexta-feira (11), há confrontos diários entre policiais e traficantes na favela do Jacarezinho, na zona norte da capital. Escolas na região seguem fechadas e cinco pessoas morreram, incluindo o policial Bruno Guimarães Buhler, 36, da Core (Coordenadoria de Operações Especiais).

O número de mortes violentas no primeiro semestre deste ano (3.457) cresceu 15% em relação ao mesmo período de 2016, o pior primeiro semestre desde 2009 (3.893).

Desde o dia 28 de julho, cerca de 10 mil homens das Forças Armadas, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional reforçam a segurança do Rio. Num primeiro momento, militares com tanques de guerra e pesado armamento se fizeram notar pela população com uma presença ostensiva nas ruas.

Segundo o Ministério da Defesa, os homens das Forças Armadas podem retornar às ruas a qualquer momento, mas o principal objetivo é que eles atuem junto às polícias em operações de combate ao crime organizado, cujo objetivo é reduzir a quantidade de armas e drogas do poder paralelo.

Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança informou que toma como base para políticas de segurança os dados divulgados mensalmente pelo Instituto de Segurança Pública. O Estado também defendeu a política de pacificação.

“A Secretaria de Estado de Segurança tem como prioridade a preservação da vida e a redução de índices de criminalidade no estado. Por isso, investe desde 2007 no processo de pacificação nas comunidades e implantação do Sistema de Metas e acompanhamento de resultados, dentre diversas outras iniciativas”, afirma a pasta.