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Família acusa policiais civis por morte de pedreiro em delegacia no Alemão

Segundo a família, atestado de óbito de Fernando de Oliveira Filho diz que ele foi morto por asfixia e golpes - Arquivo Pessoal
Segundo a família, atestado de óbito de Fernando de Oliveira Filho diz que ele foi morto por asfixia e golpes Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

05/09/2017 14h32Atualizada em 05/09/2017 14h32

A Divisão de Homicídios da Capital investiga a morte do pedreiro Fernando de Oliveira Filho, 42, morto no Complexo no Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, no último sábado (2). Segundo familiares, ele foi assassinado por policiais civis dentro da 45ª DP, delegacia que atende a região. A cunhada do pedreiro contou que a vítima chegou a ligar para ela antes de morrer.

“Ele estava angustiado falando que estava na delegacia e que os caras iam matá-lo. Ele falava: 'os caras, não querem deixar eu descer. Vocês vão ver, eu vou morrer hoje. Não saio vivo daqui'”, relatou a parente, que preferiu não se identificar.

A cunhada disse que passou o telefone para o marido, irmão dele, que prometeu buscá-lo na delegacia. “Quando ele chegou, o Fernando não estava mais.”

Ela disse ainda que Fernando tinha marcas de agressão pelo corpo. "Ele foi assassinado com covardia. Era só ter colocado ele na jaula. Não precisavam ter maltratado tanto o meu cunhado. Ele chegou a defecar.”

O irmão, que também pediu para não ter o nome divulgado, conta que Fernando já saiu da delegacia morto. “Ele já saiu de lá morto e, mesmo assim, foi levado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento). O atestado de óbito comprova que ele foi morto por asfixia e golpes. Bateram muito nele”, relata o irmão.

À cunhada, o médico da UPA responsável pelo atendimento da vítima disse que Fernando chegou ao local sem pulsação e sem batimentos cardíacos.

Questionada sobre a presença de Fernando na delegacia, a família não soube explicar os motivos que o levaram até o local, mas informaram que ele não havia sido preso. Na delegacia, ainda segundo os parentes da vítima, estavam dois policiais civis e dois policiais militares, além da ex-mulher dele que não quer dar entrevistas. De acordo ainda com a família, o delegado não estava presente no momento.

O caso foi denunciado à Coordenadoria de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual. Em nota, o MPRJ disse que familiares já foram ouvidos e que o Gaesp/MPRJ (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) vai apurar o caso.

Fernando de Oliveira Filho havia se separado da mulher na semana passada. Ele deixa dois filhos --uma adolescente de 15 anos e um menino de 13.

"Quem vai cuidar das crianças? Quem vai pagar as contas? Botar a comida na mesa? Eu quero que seja feita justiça, só isso que eu peço", disse a cunhada.

Procurada pelo UOL, a Polícia Civil informou que Fernando de Oliveira Filho chegou muito alterado à delegacia e os policiais usaram uma arma de choque (não letal). A Divisão de Homicídios deve ouvir os parentes a partir de quarta-feira (6).

A família nega que o pedreiro tivesse problemas psicológicos e contesta a versão da polícia de que ele chegou alterado à delegacia. "Ele passou por uma separação recente. Estava muito triste, mas só isso." Fernando vai ser enterrado na tarde desta terça-feira (5) do cemitério do Caju, na zona portuária do Rio.