Policiais civis ligados ao PCC são acusados de extorsões, tráfico de drogas e sequestro
Extorquir e sequestrar traficantes, fazer vistas grossas ao comércio ilegal de drogas em troca de dinheiro e até manter uma casa de prostituição. Essas são algumas das acusações contra 30 policiais civis de São José dos Campos, a 106 km de São Paulo, que estão sendo investigados por ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Por ordem da Justiça, membros do grupo suspeito começaram a ser presos nesta quinta-feira. Além dos policiais, há mandados de prisão contra seis pessoas, entre elas uma advogada, um ex-policial e narcotraficantes.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que abriu uma investigação interna para apurar os fatos e disse que os policiais presos estão sendo levados para um presídio da Polícia Civil.
A investigação foi feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que é um órgão do Ministério Público. Um dos crimes que mais chocou os promotores é o caso de três policiais que, ao invés de prenderem um traficante de drogas, resolveram sequestra-lo.
Em julho do ano passado, os três policiais encontraram um traficante transportando ao menos 31 quilos de maconha. Em vez de encaminhá-lo à delegacia, eles o levaram a um cativeiro e telefonaram para sua família.
Segundo promotores, os policiais falaram com a mãe do traficante e exigiram R$ 10 mil para libertar o filho dela e devolver as drogas apreendidas com ele para os traficantes que tinham encomendado o entorpecente.
A mulher aceitou a exigência e os policiais cumpriram o prometido. "Os referidos policiais não só liberaram o sequestrado como também devolveram aos traficantes as drogas com ele apreendidas”, diz a denúncia do Gaeco.
Ao recolocar a droga em circulação, os policiais cometeram não só o crime de sequestro como o de tráfico de drogas, segundo o Gaeco.
No dia seguinte, a mesma droga foi apreendida com outro traficante em outra ação da polícia.
Moto roubada
A investigação apontou que, também em julho do ano passado, o furto de uma moto de um policial deu origem a uma crise entre o grupo de policiais suspeitos e integrantes do PCC -- que dominavam o tráfico de drogas em um bairro chamado Campo dos Alemães.
Após o crime, policiais da Delegacia de Investigações Gerais pararam suas atividades para tentar encontrar a moto Kawasaki/Z750.
Eles descobriram que o autor do furto seria um morador do Campo dos Alemães e passaram a pressionar o chefe do tráfico local, Lúcio Monteiro (morto em 2017 em confronto com policiais militares), para que a moto fosse devolvida.
Segundo o Gaeco, o grupo de policiais suspeitos não só tinha contato com o chefe do tráfico, como receberia dinheiro para não combater a venda de drogas na região.
“O fato (do furto da moto) gerou repercussão entre os membros da facção criminosa de Lúcio, pois os policiais chegaram a ameaçar interferir no comércio de drogas da 'biqueira' se não fosse atendida pelos traficantes a solicitação de localização da motocicleta", diz a denúncia.
O Gaeco afirmou que, como o traficante se negou a atender à exigência dos policiais civis, em 28 de julho de 2016 foi montada uma operação policial para combater o tráfico de drogas no bairro.
A ação resultou na apreensão de drogas e de dois adolescentes envolvidos com o tráfico, além de um usuário de drogas.
Casa de prostituição
As investigações do Gaeco também levaram à identificação de um policial civil que, além de ter recebido R$ 14,4 mil em propina de traficantes, mantinha sociedade com um fornecedor de drogas em uma distribuidora de gás e em uma casa de prostituição.
"O patrimônio deste policial civil é incompatível com a renda auferida pelo exercício de seu cargo público, sendo proprietário de um Chevrolet Camaro e de uma Mitsubishi Pajero Dakar, circunstâncias que evidenciam o seu envolvimento com a traficância de drogas", diz a denúncia.
Propina
A investigação do Gaeco começou em junho de 2016 para verificar a ligação do PCC com o tráfico de drogas no Campo dos Alemães. Porém, depoimentos de traficantes presos fizeram a investigação se direcionar à participação dos policiais.
De acordo com o Gaeco, quase todos os 30 policiais suspeitos costumavam frequentar um ponto de venda de drogas no bairro da zona sul da cidade. Eles cobravam propinas que variavam entre R$ 500 e até R$ 100 mil dependendo do envolvimento de cada policial.
Um deles, segundo os promotores, chegava de BMW para recolher a propina.
Em troca, o grupo criou um esquema de “segurança e proteção” para os traficantes, de acordo com a denúncia.
Os membros do grupo de policiais devem responder principalmente por extorsão, tráfico de drogas e crimes contra a administração pública, além de outros crimes específicos.
Em nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que "a Corregedoria da Policia Civil informa que será instaurado procedimento administrativo disciplinar para apurar a conduta de 30 policiais da região de São José dos Campos que tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça”.
Segundo a pasta, os policiais serão levados para o Presídio da Polícia Civil.
“A Polícia Civil esclarece que não compactua com desvios de condutas e todos os fatos serão devidamente apurados", disse a nota.
A reportagem tentou entrar em contato com a defesa dos policiais acusados através da SSP e de cada delegacia envolvida na investigação. No entanto, não conseguiu contactá-los e nem localizar seus advogados.
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