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Ativistas de favelas prometem monitorar intervenção federal na segurança do Rio

Mais do mesmo: três mil homens do Exército ocuparam o Complexo da Maré por 14 meses entre 2014 e 2015 - Fábio Teixeira
Mais do mesmo: três mil homens do Exército ocuparam o Complexo da Maré por 14 meses entre 2014 e 2015 Imagem: Fábio Teixeira

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

19/02/2018 04h00

Organizações não governamentais e ativistas que atuam em favelas e subúrbios da capital fluminense estão se mobilizando para tentar monitorar a ação de forças de segurança durante a intervenção federal na segurança do Estado do Rio de Janeiro. Representantes do Observatório de Favelas, da Redes da Maré e outras entidades se reunirão na terça-feira (20) para discutir como fiscalizar a nova política e tentar evitar eventuais ações violentas contra moradores.

“Estamos criando uma rede monitoramento dessa intervenção. Queremos criar meios de acompanhar, denunciar, criticar e propor soluções. Precisamos criar um manual de procedimentos e evitar que determinados conflitos ocorram. Vamos usar a experiência que temos de modo a não cair nos mesmos problemas que tivemos do passado”, afirmou o geógrafo Jailson de Souza Silva, fundador e diretor de Políticas Urbanas do Observatório de Favelas.

O decreto de intervenção na segurança do Rio foi assinado pelo presidente Michel Temer na última sexta-feira. Embora já esteja em vigor, eventuais mudanças na tática das operações só devem começar a ocorrer depois que o decreto for votado no Legislativo -- o que deve ocorrer nesta semana.

“Tivemos a experiência (no passado) de tanques apontados para as favelas, para os morros, cercos com arame farpado, soldados armados, um estado de guerra, revistas armadas da população, inclusive de crianças. Estamos colocando a população numa situação de risco num quadro que não vai trazer solução".

"Como o Exército não pode ficar indefinidamente, não tem cabimento esse tipo de estratégia. Essa política não tem futuro. Nosso desafio é fazer com que ela tenha o menor dano possível à população.”

Nem o interventor nomeado, general Walter Braga Netto, nem o governo federal divulgaram detalhes sobre as ações de segurança que serão tomadas. Não se sabe, por exemplo, se haverá ou não ocupações de favelas pelas Forças Armadas.

Uma das referências históricas usadas pelos ativistas foi a ocupação do conjunto de favelas da Maré, na zona norte do Rio, pelo Exército entre 2014 e 2015.

No ano passado, a organização Redes da Maré publicou o livro “A Ocupação da Maré pelo Exército Brasileiro”, baseado em estudo coordenado pela pesquisadora Eliana Sousa. O trabalho mostrou que quase 70% de mil moradores entrevistados disseram que a sensação de segurança piorou ou não mudou nada com a presença das tropas na região.

Edson Diniz, diretor da Redes da Maré, disse que teriam ocorrido diversos conflitos entre militares mais jovens com moradores da Maré. Esses moradores teriam reclamado de abordagens mais truculentas.

Outro temor de Diniz é que o enfrentamento entre forças de segurança e grupos criminosos armados leve a uma nova escalada de violência e afete a vida de moradores inocentes das comunidades.

Segundo Diniz e Silva, as organizações vão discutir a possibilidade de procurar o general Braga Netto para dialogar sobre a intervenção.

"Interesses políticos"

Na opinião dos ativistas, os militares serão colocados em uma situação de enorme risco. “Estamos lidando com dois governos [o federal e o estadual] absolutamente incapazes, que estão utilizando o Exército como instrumento para seus interesses políticos específicos e imediatos”, disse Silva.

“Com esse governo federal, o mais impopular da história, e com esse governo estadual, que não tem credibilidade, autoridade e competência técnica, nós não teremos nenhuma condição de avançar”, afirmou.

Para o diretor do Observatório de Favelas, o Rio precisa de uma nova política de segurança pública, com o uso de inteligência e de tecnologia para enfrentar o crime. “Temos que procurar formas inteligentes de lidar com os grupos criminosos, formas que não penalizem a população da favela e das periferias e que permitam construir uma política com metas e participação popular”, disse Silva.