Rio: 46% dos moradores de favelas querem que UPPs continuem, diz estudo da Universidade de Stanford
Uma pesquisa da Universidade de Stanford, da Califórnia (EUA), divulgada em evento das ONGs Observatório das Favelas e Redes da Maré nesta quarta-feira (28), indica que 46% dos moradores de comunidades do Rio de Janeiro desejam a continuidade das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), implantadas em 2009 em diversas favelas do Rio. Outros 15% rejeitam a ideia e 39% afirmam que concordam "em parte" com a manutenção das UPPs.
Os dados, que foram coletados a partir de longas entrevistas porta a porta com moradores, impressionaram os pesquisadores. Foram feitas 6.588 entrevistas nas favelas Batan (zona oeste), Morro da Providência (centro), Complexo da Maré (zona norte), Rocinha (zona sul) e Cidade de Deus (zona oeste) entre dezembro de 2015 e março de 2016.
Apesar de desejarem a continuidade das UPPs, os moradores defendem mudanças na conduta dos policiais. Eles querem segurança com a perspectiva de respeito aos direitos dos cidadãos --o que se aproxima da proposta inicial da política de UPPs.
A pesquisadora que coordenou o estudo, a professora Beatriz Magaloni, diretora do Laboratório de Pobreza, Violência e Governança da Universidade de Stanford, ressalta que os moradores não querem uma polícia que cometa abusos e violência, como invasão de domicílios, assassinatos ou agressões.
"O que os moradores querem é uma melhor polícia. Uma polícia mais eficiente, menos violenta, menos abusiva e menos corrupta", afirmou Beatriz durante a apresentação do estudo na tarde de hoje.
"A pesquisa tem o objetivo de orientar política pública [para se] fazer política pública. A UPP foi um fracasso no nosso entendimento. É um absurdo que um comandante de UPP vire chefe de favela", disse o ativista Jailson de Souza e Silva, do Observatório das Favelas.
A equipe de intervenção, que comanda a segurança do Rio de Janeiro desde 16 de fevereiro, tem planos de reestruturar o programa de UPPs, extinguindo unidades com baixo desempenho. Na semana passada, o chefe do GIF (Gabinete de Intervenção Federal), general Mauro Sinott, informou que quer esvaziar a UPP da Vila Kennedy --favela que vem sendo usada como palco de experiência piloto de pacificação durante a intervenção-- e transferir seus policiais para o 14º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela área.
Desconfiança, medo e indiferença
Intitulado “Percepção de moradores sobre segurança pública e a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas do Rio de Janeiro”, o trabalho tem como objetivo explorar os temas de segurança pública e violência na visão dos moradores de cinco comunidades do Rio.
Segundo os pesquisadores, a ideia é dar voz aos moradores das favelas e aprofundar as discussões sobre a segurança pública na cidade. O próximo passo é encadear os dados obtidos com a criação de políticas públicas e leis mais eficientes sobre o tema.
Os principais sentimentos de moradores das favelas relacionados a policiais também foram descritos na pesquisa --desconfiança foi o mais citado, seguido por medo e indiferença. Respeito, raiva e admiração foram mencionados na sequência.
Os dados revelam ainda que 13% dos moradores tiveram suas casas invadidas pela polícia.
Segundo o levantamento, 76 famílias relataram ter tido um parente assassinado pela polícia nos últimos seis meses.
Enquanto 20% dos moradores sofreram algum tipo de agressão de policiais, 15% declararam ter algum amigo que morreu assassinado por agentes. Outros 20% relataram conhecer pessoas assassinadas pelo tráfico.
O levantamento ainda identificou que os dados entre comunidades não são homogêneos. "No Batan, a aceitação da polícia e da UPP é muito maior do que na Rocinha", diz Beatriz.
"O maior problema nas favelas hoje são os conflitos armados. Seja com bandidos, seja com milicianos, seja com a polícia", acrescenta o ativista Silva. De acordo com dados do laboratório de dados da violência Fogo Cruzado, 3.014 tiroteios foram registrados em 34 UPPs entre julho de 2016 e fevereiro de 2018.
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