Força Aérea treina para missões da ONU em exercício militar com os EUA em Natal
Membros das forças aéreas do Brasil, dos Estados Unidos e de ao menos outras dez nações estão participando de um exercício militar regular e de grandes proporções em Natal (RN). Um dos principais objetivos da manobra deste ano é treinar para uma possível participação de aeronaves e pilotos brasileiros em uma missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas).
O Cruzex (Exercício Cruzeiro do Sul) acontece regularmente no Brasil desde 2002 e está em sua oitava edição, segundo a FAB (Força Aérea do Brasil). É a quarta vez que os Estados Unidos participam --eles trouxeram ao país seis caças F-16, um avião de transporte de tropas e reabastecimento e cerca de 120 militares.
Segundo o brigadeiro Luiz Guilherme Silveira de Medeiros, diretor do exercício, estão sendo treinadas manobras aéreas de guerra convencional (para proteção do país). Mas um dos principais focos da ação é preparar militares brasileiros para participar de missões de paz da ONU, uma vez que neste ano foi concluído o processo administrativo que permite que aeronaves militares brasileiras façam parte regularmente de operações de paz das Nações Unidas.
Foram homologadas para uso nessas missões os caças Supertucano, os helicópteros H60 Blackhawk e os aviões de transporte de tropas C105 Amazonas.
“Quando treinamos para missões de paz é um cenário diferente da guerra convencional. Em geral são ações contra insurgentes que não podem gerar danos colaterais para a população civil”, disse o brigadeiro Medeiros.
Estão sendo treinadas situações nas quais aeronaves brasileiras podem atacar guerrilheiros em solo a partir de aviões de caça Supertucano ou helicópteros Blackhawk; proteção de áreas ou tropas terrestres amigas sob ameaça e também missões de transporte de militares para áreas de conflito ou evacuação de população civil em risco.
A aeronave Supertucano é de fabricação brasileira e já foi comprada e usada por militares colombianos para combater as extintas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O Blackhawk, de fabricação americana, é usado largamente em missões militares em diversos países.
A participação em missões de paz da ONU é um dos objetivos estratégicos das Forças Armadas brasileiras. As últimas participações de tropas foram na Força Tarefa Naval da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), que tem participação brasileira desde 2011, e na Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), entre os anos de 2004 e 2017.
A Aeronáutica realizou durante essa missão a maior “ponte aérea” emergencial de sua história recente, com diversos voos diários entre cidades brasileiras e a capital haitiana Porto Príncipe em um esforço de socorro às vítimas do terremoto de 2010, que deixou centenas de milhares de mortos no país caribenho.
O Brasil estudava participar em 2018 da missão de paz da ONU na República Centro-Africana, mas o projeto foi cancelado devido à falta de recursos e à necessidade de empenho de tropas e verba na intervenção federal no Rio de Janeiro.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, com a proximidade do fim da intervenção em dezembro, setores militares já começam a discutir a viabilidade de participação em uma das missões da ONU na África.
Participação dos EUA
Os Estados Unidos não têm participado regularmente de missões de paz da ONU desde a década de 1990. Durante o exercício Cruzex, eles devem transmitir aos brasileiros e demais nações participantes (França, Chile, Peru, entre outras) conhecimentos relacionados a missões de ataque com aviões de caça e também combate aéreo em cenários de guerra convencional.
Segundo o brigadeiro Medeiros, entre as táticas treinadas, está o combate aéreo além da capacidade visual. Ou seja, quando armas são acionadas a grandes distâncias a parir de dados de radar, sem que o piloto veja seu adversário.
Com 120 integrantes, os EUA são a maior delegação estrangeira a participar do exercício. Do total de 1.700 militares participantes, 500 são estrangeiros.
Questionado pelo UOL se o exercício tem relação com o cenário brasileiro atual, no qual o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) prega a aproximação diplomática e militar com Washington, Medeiros disse que não há caráter político na manobra.
“A participação dos Estados Unidos é puramente técnica. É uma troca de experiências. É sem política”, disse o brigadeiro.
O exercício militar começou no domingo (18) e irá até o dia 30 deste mês.
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