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"Se tivessem arrombado a porta, não passaria por isso", diz espancada no RJ

25.fev.2019 - A paisagista Elaine Caparroz chega para prestar depoimento no 16º DP - José Lucena/Futura Press/Folhapress
25.fev.2019 - A paisagista Elaine Caparroz chega para prestar depoimento no 16º DP Imagem: José Lucena/Futura Press/Folhapress

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

25/02/2019 17h29

Resumo da notícia

  • Agressor da empresária é indiciado por tentativa de feminicídio
  • Polícia investiga a hipótese de vingança contra o filho da vítima
  • Delegada fala em premeditação e descarta surto psicótico
  • Elaine Caparroz prestou depoimento durante 3 horas na 16ª DP

A paisagista Elaine Caparroz, 55, prestou depoimento durante cerca de três horas na 16ª DP, Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A delegada Adriana Belém, responsável pela conclusão do inquérito, disse hoje que o estudante de direito Vinícius Serra, 27, foi indiciado por tentativa de feminicídio --a pena prevista é de 12 a 30 anos de reclusão. A polícia apura a hipótese de que o crime tenha sido motivado por uma possível vingança contra o filho da vítima, o lutador Rayron Gracie.

Elaine foi espancada durante quatro horas, na madrugada do dia 16, pelo estudante de direito Vinícius Serra, 27. Os dois se conheciam havia oito meses e trocavam mensagens por uma rede social. Ele foi preso em flagrante após o crime. A prisão foi convertida para o regime preventivo.

Elaine, que fez um comunicado à imprensa após o depoimento, disse que é fundamental ajudar uma pessoa que esteja na vizinhança quando ela pede socorro.

Se alguém tivesse ido e arrombado a porta, eu não teria passado tudo o que eu passei. Então é muito importante que, quando alguém ouve um pedido de socorro, deve ir socorrer.

Elaine Caparroz, paisagista espancada no Rio 

Ela agradeceu à polícia e a todas as pessoas que intercederam por ela após o espancamento. "Espero que a justiça ratifique esse trabalho porque estou tendo a oportunidade de expor tudo o que eu passei e contando com a ajuda de todos. Mas muitas mulheres não tiveram ou não têm essa oportunidade", afirmou. 

"Espero, de coração, que isso mude no Brasil, que a Justiça possa dar uma atenção maior para a gente conseguir combater esse tipo de crime e evitar que esses delinquentes fiquem soltos, que eles paguem penas rígidas. Não adianta nada você denunciar e depois eles saem com convívio normal, voltam a cometer novos crimes ou acabar o que eles começaram", prosseguiu. 

Polícia investiga vingança contra filho

A delegada Adriana Belém trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido motivado por uma possível vingança contra o filho da vítima, o lutador Rayron Gracie. Isso porque eles teriam se conhecido após Gracie postar uma foto dele com a mãe na rede social Instagram. A partir daí, a mãe ganhou diversos seguidores, inclusive o autor do crime. 

No entanto, como o prazo de envio do inquérito à Justiça é nesta segunda-feira (25), o esclarecimento acerca das motivações deverá ser feito posteriormente a pedido da Justiça. A delegada também afirmou que o agressor se recusou a falar com os agentes policiais.

"A polícia não tem dúvidas de que ele premeditou. Se houve motivação ou não, até ela tem dúvida. A todo o momento ele fazia perguntas. No dia dos fatos, ela recebeu um telefonema e ele perguntou: 'esse é o seu filho?'", narrou a delegada.

"Um detalhe muito importante que formou a nossa convicção: foi ele quem solicitou ela no Instagram quando o filho, que mora fora do país, postou uma foto. Ali, ela ganhou muitos seguidores, ele pede para que ela o aceite, e ali começa toda uma conversa", explicou Adriana.

A delegada confirmou que Serra "chegava a arrancar pedaços dela --ela tem o corpo todo mordido-- e cuspia. Eu não posso entender isso. Eu não posso entender que uma pessoa dessa possa conviver em sociedade". "Essa moça só não morreu porque até o final ela teve forças para lutar. Ela lutou pela vida", prosseguiu Adriana. 

Polícia não crê em surto psicótico

A policial também não acredita que o espancamento teria ocorrido após um suposto surto psicótico de Serra --a argumentação foi usada pela defesa do suspeito após o crime. A delegada também acrescentou que ninguém --sequer membros da família-- prestou depoimento para falar do comportamento anterior do estudante de direito. 

"Não acredito em surto psicótico, mas também não tenho habilitação técnica para isso. Estamos enviando os autos para a justiça com esse indiciamento e é isso que vai ser mantido", informou.

"A gente pede às pessoas para não se calarem diante de um pedido de socorro. Talvez a Elaine tenha tido a sua vida preservada porque lutou até o final, pediu socorro e foi ouvida. Essa máxima de que 'briga de marido e mulher não mete colher'... Tem que meter, sim. É uma vida que a gente está podendo salvar ali", concluiu a delegada.

O advogado da vítima, Evandio Bianor, afirmou que, em nenhum momento, a paisagista cogitou que poderia estar sob ameaça na presença de Serra.

"Pelo contrário. Até por ela ser muito precavida que levou esse tempo todo [a vítima conversou com Serra por oito meses antes de encontrá-lo]. Porque a insistência [de Serra] foi desde o início. Por se precaver, por tomar cuidado é que levou tanto tempo [para o encontro]", disse ele, que informou que a paisagista está sob acompanhamento psicológico.

O UOL não conseguiu localizar a defesa de Vinícius Serra.

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