Agentes criam, por conta própria, robô para ajudar seu trabalho nas prisões
Agentes penitenciários do oeste de São Paulo construíram um robô de varredura para inspecionar pavilhões e evitar rebeliões e mortes dentro das cadeias. Com apenas 27 kg e 26 centímetros de altura, a máquina custou R$ 3.500 e está em fase de testes desde o ano passado.
A novidade, feita a partir da iniciativa dos próprios agentes, chama a atenção de outros estados e do Depen (Departamento Penitenciário Nacional, subordinado ao Ministério da Justiça), que exibiu o robô e outras engenhocas em um evento voltado para diretores de presídios de todo o Brasil na semana retrasada.
O robô foi criado com um motor igual ao usado para subir vidros de portas de carros. Funciona com uma bateria de equipamentos de segurança, como cercas elétricas. Para andar, usa esteira, o que o faz se parecer com um tanque de guerra. É guiado por controle remoto semelhante aos dos aeromodelos. Possui uma câmera, uma sirene e um braço na parte da frente, que pode ser retirado conforme a ocasião.
E essa não é a única engenhoca criada por um time de agentes penitenciários que, antes de virarem funcionários públicos, trabalhavam em tornearias e oficinas mecânicas. O robô faz parte de um projeto para automatizar cadeias em todo o estado de São Paulo. Desde 2013, 126 das 140 unidades prisionais contam com portas, trancas automáticas e salas de controle. Isso já está em uso.
O protótipo do robô e o carrinho-maca -controlado remotamente para resgatar presos feridos nas celas e os levarem até uma unidade de primeiros socorros em segurança -ainda estão em fase de testes. Eles são usados em "situações especiais", de acordo com assessoria da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) de São Paulo.
O robô
Altura: 26 cm
Largura: 30 cm
Comprimento: 50 cm
Peso: 27 kg
Preço: Aproximadamente R$ 3.500
Tempo de construção: dois meses
Máquina entra até debaixo de telhados
O objetivo das tecnologias é isolar os agentes penitenciários dos presos e tentar evitar que o contato desnecessário permita um incidente ou uma rebelião.
"O robô no sistema penitenciário facilita as varreduras dentro dos pavilhões e também em locais de difícil acesso, por exemplo, debaixo dos telhados e locais em que o funcionário não consiga entrar", disse ao UOL Marcos Santana, 46 anos, diretor do Núcleo de Trabalho e Educação na Penitenciária 1 de Presidente Bernardes.
Torneiro mecânico por formação, ele iniciou o trabalho de automação dos presídios em São Paulo em 2012. Hoje, coordena a oficina em Presidente Bernardes, que atende as cadeias da região.
O robô não é a garantia de que as rebeliões deixem de ocorrer, mas evita, pelo menos, que um agente seja ameaçado e se machuque. "Talvez não evitaria a rebelião, mas evitaria de um funcionário ficar de refém", avalia Santana.
Quando o banho de sol termina, os presos voltam às celas. As portas dos pavilhões nos presídios são fechadas a partir de uma sala de controle, com um toque em um botão. As celas se fecham automaticamente. Aí, um agente penitenciário vai ao pavilhão verificar se tudo está certo. A função do robô é fazer uma varredura prévia com uma câmera antes disso, para assegurar que não haja algum presidiário escondido em um "ponto cego" para a sala de controle.
Um episódio deste tipo ocorreu em uma das cadeias do estado, quando um detento escondido atacou um agente. Depois disso, os colegas da oficina na Penitenciária 1 de Presidente Bernardes (SP) pensaram em um robô. Um quarteto começou a planejar tudo no primeiro semestre do ano passado. A parte de robótica ficou com Edmar Regis Goes, 43 anos, com formação em automação industrial. Questões de mecânica ficaram a cargo de Paulo Henrique Aparecido, 45 anos, Clayton Oliveira, 35 anos, e Santana. Em cerca de dois meses, tudo estava pronto. Os testes começaram a ser feitos nas cadeias da região.
As portas automáticas custaram aproximadamente R$ 3.000 cada. O protótipo do carrinho-maca, entre R$ 3.500 a R$ 4.000. Só na região do oeste paulista, existem 23 agentes penitenciários trabalhando na oficina da Penitenciária 1, em Presidente Bernardes (SP), que produz portas e outros equipamentos de automação.
Presos também se beneficiam de reformas
A assessoria da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) de São Paulo disse que ainda não há como medir os resultados da automação na segurança das penitenciárias para os agentes ou mesmo para os presos.
No entanto, Clayton Oliveira de Souza, mecânico de máquinas, estudante de engenharia elétrica e agente penitenciário que também participa do projeto, já percebeu melhoras no ambiente de trabalho.
O ambiente prisional é muito hostil, carregado. A automação impactou positivamente ao garantir a integridade do servidor e, como efeito colateral, melhorou a eficiência na execução dos trabalhos e a qualidade de vida e o nível de estresse do servidor"
Clayton Oliveira de Souza, agente penitenciário
Os presos também são beneficiados. À medida que a equipe faz as obras de automação, os internos que participam do programa de trabalho e reabilitação fazem os serviços complementares. "A gente pede para o diretor pelo menos uns 20 presos que tenham conhecimento de alvenaria ou pintura", conta Santana.
"Se não tiver, a gente capacita. A gente prepara eles, conversa com eles todos os dias, ensina a trabalhar e vai passando para eles: 'Não precisa roubar, fazer coisa errada, traficar. Com uma mão de obra qualificada, você ganha na rua o dinheiro que dá pra sustentar sua família honestamente'". Pela lei, o tempo de trabalho reduz a pena dos réus condenados.
Ministério exibiu tecnologia em encontro nacional
O Ministério da Justiça exibiu os sistemas de automação usados em São Paulo no 1º Encontro de Diretores de Unidades Prisionais, que aconteceu em Brasília na semana passada. No evento, o diretor de Políticas Prisionais do Depen, Abel Barradas, elogiou o uso das portas e trancas automáticas, o robô e o carrinho-maca.
O Depen (Departamento Penitenciário Nacional) do Ministério da Justiça defende que a automação dos presídios é uma das ações de inteligência necessárias para controle das cadeias no país. Por isso, avalia usar o modelo paulista em outras unidades no Brasil.
"A automação, a exemplo do que está sendo implantada em São Paulo, é positiva e está sendo avaliada pela área estratégica do Depen para possível implementação nos presídios federais nos próximos anos", disse a assessoria do ministério ao UOL.
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