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BA: Médico é investigado por assédio sexual a 24 clientes durante consultas

Favor_of_God / iStock Photo
Imagem: Favor_of_God / iStock Photo

Mário Bittencourt

Colaboração para o UOL, em Vitória da Conquista (BA)

15/05/2019 15h49

Um médico especializado em ginecologia e obstetrícia que atende em Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, está sendo investigado pela Polícia Civil por suspeita de assédio sexual às pacientes que atende na rede pública e privada da terceira maior cidade do estado, com 338 mil habitantes.

A denúncia foi feita por um grupo de 24 mulheres que buscou apoio jurídico na Subseção local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) nessa segunda-feira (13), quando os casos foram relatados diante da delegada titular da Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), Dercimária Cardoso Gonçalves. O grupo com mulheres entre 18 e 30 anos foi formado após uma das supostas vítimas ter criado um perfil no Instagram (diganaovca) e relatado o seu caso de assédio que sofreu do médico Orcione Júnior.

Depois disso, outras mulheres procuraram o perfil e relataram seus casos. Alguns deles ocorreram há pelo menos seis anos. Até o momento, cinco mulheres já prestaram queixa na polícia. A defesa do médico afirmou que Orcione está sendo vítima de "linchamento virtual" e alega inocência do seu cliente. Devido as denúncias, o médico deixou de fazer atendimentos por conta própria.

Em entrevista ao UOL, uma das vítimas, que pediu para não ser identificada, relatou como foi o assédio sofrido neste mês no consultório de Orcione Júnior.

Ele tocava meu clitóris de forma sensual, massageando, como se estivesse me estimulando para o sexo. No momento de tirar a pressão, eu ainda deitada na maca, ele colocou meu braço de modo a ficar esticado e abriu minha mão, depois encostou o pênis dele na minha mão, senti que estava ereto e tirei, fiquei assustada e não consegui falar mais nada
Vítima, que pediu para não ter identidade revelada, denuncia assédio de médico

Um dos relatos no perfil criado no Instagram tem características parecidas com os elogios. "Ele estava colhendo o meu material, até que eu senti que ele estava tentando estimular o meu clitóris, mas como ele ainda estava colhendo o material eu até achei que seria normal, foi quando ele tirou o espéculo [instrumento usado para dilatação], mas ainda sim continuou na tentativa de me estimular", relata uma das vítimas, que também não se identificou.

A vítima diz que, em seguida, o médico pediu que ela retirasse a blusa para examinar os seios e que logo depois tentou guiar o braço dela em direção ao pênis, que estava ereto, segundo o relato. "Foi aí que eu tirei meu braço de perto dele e só tremia. Depois, me pediu pra ir vestir minha roupa e assim eu fiz. Quando voltei, ele me pediu para sentar e foi aferir minha pressão. Ele segurou meu braço de uma forma que queria que a minha mão passasse novamente no pênis dele, mas eu esquivei e coloquei em cima da mesa", recorda.

Outras vítimas fizeram relatos semelhantes à delegada responsável pelo caso, com as carícias nos órgãos genitais e elogios às partes íntimas. Segundo a delegada, as vítimas disseram ter se sentido incomodadas com massagens nos seios por parte do médico, durante os exames. "O que elas relatam são casos de assédio sexual e pode ser enquadrado até como abuso sexual, mas vamos analisar os casos para ver em que tipo de crime podemos tipificar os relatos", disse Dercimária.

Relato de vítima de assédio sexual feito supostamente por médico na Bahia - Reprodução/Instagram/diganaovca - Reprodução/Instagram/diganaovca
Relato de vítima de assédio sexual feito supostamente por médico na Bahia
Imagem: Reprodução/Instagram/diganaovca
A OAB, que acompanha o caso, explicou que além de apoio jurídico, as mulheres vão receber assistência psicológica no Centro de Referência Albertina Vasconcelos, pertencente à rede pública de saúde municipal.

"O que se percebe é uma semelhança na forma de atuação do médico com relação ao assédio que denota um 'modus operandi'. Os relatos são muito parecidos", explica a advogada Andressa Gusmão, que acompanhou os depoimentos e integra a Comissão da Mulher Advogada da OAB em Vitória da Conquista.

Andressa diz ter sido procurada ainda por mais mulheres que alegam ter sido vítimas de Orcione Júnior. "São mulheres de outras cidades da Bahia, algumas de Salvador e até de fora do Brasil. Não sei precisar quantas mais, contudo elas demonstraram interesse também em realizar a denúncia. Acredito que devido a esse movimento, muitas vítimas vão tomar coragem e decidir por denunciar", diz.

Segundo a advogada, o Ministério Público da Bahia já foi notificado para dar acompanhamento ao caso. Já com relação ao Cremeb (Conselho Regional de Medicina da Bahia), a comunicação sobre os supostos assédios deverá ser realizada pela Deam.

Outro lado

O advogado Paulo de Tarso, que defende o médico Orcione Júnior, disse que entrou com ação judicial contra o Facebook, dono do Instagram, para que o perfil seja retirado do ar. "O que está ocorrendo é um linchamento virtual contra o médico Orcione Júnior, vítima de calúnia e difamação", explica.

Tarso disse que já havia identificado a autoria da mulher que criou o perfil "diganaovca" e fez o relato, mas a pessoa citada pelo advogado negou ao UOL ter sido atendida pelo médico e informou que apenas compartilhou a informação recebida sobre a denúncia: "Eu nem conheço a autora da denúncia, só achei o caso absurdo", disse a criadora do perfil, que pediu para não ser identificada.

O advogado diz que Orcione Júnior prefere não dar entrevista sobre o caso. "[Ele] está com o psicológico muito abalado", informou Tarso, que prometeu que o médico deve falar apenas na sexta-feira.

Em relação aos cinco depoimentos feitos na delegacia, o advogado minimizou. "Isso começou com uma notícia falsa, mas as pessoas foram lá. Vai ver se realmente fez, se não fez, o que estou combatendo e estou indignado é que independente do resultado de um processo desse, o fato é que ele já foi condenado, já estão chamando ele até de estuprador...Não pode condenar um cara antes para depois apurar. A Justiça vai apurar, e o médico nega que tenha assediado as mulheres", criticou.

Questionado se há alguma investigação contra o médico Orciole Júnior, o Cremeb informou que "não pode compartilhar informações sobre denúncias e processos que tramitam no Tribunal de Ética Médica, pois estes conteúdos estão sob sigilo processual".

A Sogiba (Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia) e o Ministério Público da Bahia informaram que não comentarão o assunto.