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Avião que caiu com Gabriel Diniz fazia voos panorâmicos ilegais em Maceió

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/05/2019 04h01Atualizada em 29/05/2019 12h15

O avião Piper Cherokee PT-KLO, que caiu matando o cantor Gabriel Diniz, 28, o piloto Abraão Farias, 27, e o copiloto Linaldo Xavier Rodrigues, 37, realizava voos panorâmicos pelo litoral de Alagoas sem autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação).

De acordo com o Registro Aeronáutico Brasileiro, o monomotor tinha registro para "privada instrução", e não tinha autorização para táxi aéreo. O avião aparece como propriedade do Aeroclube de Alagoas.

Uma norma da Anac permite que aeroclubes realizem voos panorâmicos, mas os aviões utilizados precisam estar homologados, o que não era o caso da aeronave que caiu.

Apesar disso, desde 2016, o aeroclube oferecia passeios panorâmicos com o avião entre Maceió e a praia do Gunga, no município de Roteiro, litoral sul de Alagoas.

Os voos eram operados pelo monomotor de modelo PA-28-180, prefixo PT-KLO e fabricação da Piper Aircraft, em 1974, que caiu há dois dias em Sergipe.

Demonstrações de habilidade

A jornalista Thacia Simone Gomes participou de um desses passeios em fevereiro do ano passado, com mais duas passageiras.

O piloto era o Abraão Farias, sem copiloto.

"Fui convidada pelo aeroclube para voar e fazer a divulgação do voo panorâmico na minha coluna de empreendedorismo. Quando soube do acidente, que o piloto era o Abraão [Farias], olhei a foto que fiz na frente do avião e identifiquei que foi nele que voei com minha irmã e outra colega jornalista", contou.

Ela diz que Farias demonstrou ter habilidade.

"Ele mostrou que sabia o que fazia. O voo ocorreu sem problemas e ele brincou se queríamos com emoção fazendo acrobacias", relembra.

Kassia Gomes também fez voo panorâmico no avião que matou Gabriel Diniz. A aventura foi mostrada em fotos e vídeos no Instagram. Ela afirmou em uma das publicações que recomendava o passeio.

"Me perguntaram se queria com emoção e lógico que respondi 'sim', no mar, no ar, seja lá onde for. @pilotofarias me passou confiança, então topei a aventura. Voo superseguro! Agende o seu com o @aeroclubedealagoas", escreveu.

Outra pessoa que participou de voo panorâmico no monomotor foi o digital influencier "Dinho Papa Capim". Ele aparece em um vídeo com o piloto Farias em frente ao avião, após o voo recomendando o passeio.

"Você quer fazer o voo panorâmico que viu o Dinho voando é só entrar em contato com o aeroclube de Alagoas ou então fazer o curso de piloto, se é o seu sonho ", diz Farias.

Fretamento irregular

O comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Alagoas, coronel André Madeiro de Oliveira, afirma que o avião que trazia o cantor Gabriel Diniz para Alagoas não poderia transportá-lo.

"Eram para estar apenas piloto e copiloto, instrutor e aluno. No máximo um piloto a mais que fosse repassar instrução para o aluno", afirma o coronel, que é piloto de helicóptero.

Oliveira destaca ainda que não se pode pagar por voo em um avião de instrução. "Se o cantor contribuiu no combustível por estar de carona ou pagou pelo fretamento é irregular", afirmou.

O UOL entrou em contato com o Aeroclube de Alagoas, mas as ligações não foram atendidas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que disse o comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Alagoas, coronel André Madeiro de Oliveira, é o Cenipa que irá investigar o acidente que vitimou o cantor Gabriel Diniz.
Diferentemente do informado na reportagem, a sigla Decea significa Departamento de Controle do Espaço Aéreo. O texto foi corrigido.