Bolsonaro insinua que pai de presidente da OAB foi morto pela esquerda
Guilherme Mazieiro
Do UOL, em Brasília
29/07/2019 17h01Atualizada em 29/07/2019 18h17
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse na tarde de hoje que não foram militares que mataram o pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz. Bolsonaro voltou ao assunto durante uma transmissão ao vivo, enquanto cortava o cabelo. Santa Cruz é um dos 434 mortos e desaparecidos identificados pela Comissão Nacional da Verdade, em 2014.
"Não foram os militares que mataram ele, não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo que acontece. Isso mudou", disse Bolsonaro.
A declaração de Bolsonaro vai contra o material analisado pela Comissão Nacional da Verdade. Em 2014, o relatório de estudos indicou duas possibilidades para o desaparecimento de Santa Cruz, ambas ligadas aos militares.
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Bolsonaro insinuou que Fernando Santa Cruz teria sido assassinato por companheiros, argumentando que havia "justiçamento" dentro da própria esquerda, durante o período militar.
"Não quero mexer com os sentimentos do senhor Santa Cruz, porque não tenho nada no tocante a ele. Eu acho que ele está equivocado em acreditar em uma versão apenas", disse sobre o presidente da OAB.
Pela manhã, ele disse que se o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, quisesse saber onde estava seu pai desaparecido, ele contaria.
"Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", declarou Bolsonaro pela manhã, em entrevista a jornalistas.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, e a Ordem condenaram as declarações de Bolsonaro.
As hipóteses levantadas pela Comissão Nacional da Verdade indicam que após a prisão, Fernando Santa Cruz foi levado ao DOI-Codi, em São Paulo, onde desapareceu. Não há registros na Comissão da Verdade de que o pai de Felipe tenha participado da luta armada.
Outra possibilidade é de que ele e os amigos foram para Casa da Morte, em Petrópolis (RJ) e seus corpos foram incinerados em uma usina de cana-de-açúcar.
À época do desaparecimento, o Exército negou à família que ele estivesse preso nas dependências militares. O pai de Felipe desapareceu quando ele tinha 2 anos de idade.
Corte de cabelo
A transmissão na tarde de hoje começou pouco antes das 16h. Segundo a agenda oficial do presidente, ele teria encontro com o ministro da Europa e dos Negócios Estrangeiros da França, Jean-Yves Le Drian, entre às 15h e às 15h30. Este encontro foi cancelado, segundo a assessoria de imprensa do Planalto, que não divulgou o motivo.
O próximo evento na agenda de Bolsonaro era às 16h, em uma reunião com o ministro da Educação, Abraham Weintraub.