Moradores comem carne de baleia que encalhou em Salvador: "Parece boi"
"Fazer churrasco agora. Parece carne de boi mesmo", diz um homem enquanto manuseia o cardápio que prepara à mesa de um bar no bairro de Coutos, no subúrbio de Salvador (BA). Foi ali que, na última sexta-feira (30), uma baleia da espécie jubarte encalhou durante a madrugada.
O mamífero foi localizado por pescadores, que tentaram mantê-lo vivo jogando água sobre o seu corpo. Um grupo de biólogos também se deslocou no início da manhã, mas o animal não resistiu após passar cinco horas na superfície. Restou à equipe apenas recolher amostras para a realização de exames que possam indicar a causa da morte.
A operação para a retirada da carcaça exposta na margem da praia duraria então exatos três dias —foi finalizada somente na noite de ontem (2).
Enquanto agentes de limpeza urbana trabalhavam no local, moradores da região não perderam tempo diante da 'novidade' de 15 metros de comprimento e 39 toneladas: munidos de facões, retalharam o corpo do mamífero e levaram o que puderam para casa. A Vigilância Sanitária e Zoonoses do subúrbio informou que, até a tarde de hoje, não houve registro de casos de intoxicação alimentar por ingestão da carne.
Há risco de intoxicação, diz especialista
Mas, afinal, consumir carne de baleia oferece perigos à saúde? A resposta é sim. Além de tal violação ser configurada como crime ambiental, há risco de contaminação por bactérias que, em muitos casos, pode levar à morte, segundo especialista ouvido pelo UOL.
"A carne apodrece, o que significa que fica com germes que produzem substâncias capazes de dar diarreia, vômitos etc. O mais comum é uma bactéria chamada Clostridium. Ela tem uma toxina que também induz à diarreia em churrascos, por exemplo. Outras bactérias podem também provocar quadros semelhantes. Pode vir ao óbito sobretudo se for criança ou idoso, que sofre mais com a desidratação. Ou se já for doente, como diabético", explica o gastroenterologista Jorge Guedes, do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, o Hospital das Clínicas, na capital baiana.
O especialista diz que, ainda que a carne esteja aparentemente saudável, sua ingestão deve ser evitada. "Mesmo parecendo saudável, a bactéria já proliferou e produziu a toxina. Não se trata de um veneno da baleia. Mesmo cozinhando a carne, algumas toxinas permanecem."
Segundo Guedes, os sintomas de uma possível intoxicação podem surgir cerca de 12 horas após o consumo. Entre eles, vômitos, falta de apetite, enjoos, cólicas e diarreia.
"[Os sintomas] Duram até dois dias e podem desidratar. Febre não é comum", diz.
De acordo com o gastroenterologista, ao sinal do primeiro sintoma o ideal é procurar um médico. "Também deve-se beber água de coco, sucos, sobretudo se estiver com diarreia."
Consumir carne de baleia é crime ambiental
Ao UOL, a bióloga Luena Fernandes, do Instituto Baleia Jubarte, diz que tanto o consumo de carne de baleia quanto a captura do animal são vedados pela Lei nº 9.605/98 -que dispõe sobre sanções penais e administrativas decorrentes de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
"A baleia é um animal da fauna silvestre, que vive em rota migratória. Não é permitido o seu consumo, seja vivo ou morto", assinala.
"Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente", afirma a bióloga, citando o capítulo 5º da legislação de proteção ambiental.
Sobre as situações de encalhe de baleias, Luena Fernandez afirma que a população deve evitar qualquer tipo de aproximação. "Isso só pode ser feito por profissionais, que contam com equipamentos de proteção, como respirador, roupas especiais, dentre outros itens."
Restos foram levados para aterro sanitário
A Limpurb (Empresa de Limpeza Urbana de Salvador) informou ter finalizado na noite de ontem (2) a remoção dos restos mortais da baleia jubarte. Foram retirados do local do encalhe, segundo o órgão, o total de 28.930 quilos [cerca de 29 toneladas] do material em decomposição — encaminhados posteriormente para um aterro sanitário.
Para que a operação fosse concluída seguindo o protocolo de remoção do Instituto Baleia Jubarte, a solução foi rebocar os restos do animal morto para uma praia próxima, com o uso de um barco.
"O novo local permitiu o acesso dos equipamentos necessários para a total remoção dos restos da carcaça. Foram utilizados uma retroescavadeira, dois caminhões, duas caçambas, um munck (veículo com guindaste) e dois contêineres de 20 metros cúbicos", afirma a Limpurb, que diz ter usado 120 mil litros de água e 240 litros de sabão aromatizante para limpar as duas praias.
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