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Após 30 anos da abertura da vala de Perus, 5 ossadas foram identificadas

27.set.2017 - Uma das mais de mil ossadas achadas numa vala comum clandestina no cemitério Dom Bosco, em Perus (04.set.1990) - L.C Leite/Folhapress
27.set.2017 - Uma das mais de mil ossadas achadas numa vala comum clandestina no cemitério Dom Bosco, em Perus (04.set.1990) Imagem: L.C Leite/Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

08/09/2020 15h47Atualizada em 09/09/2020 14h49

Passados 30 anos da descoberta da vala de Perus, cemitério clandestino da ditadura militar (1964-1985) em São Paulo, as investigações para identificar as ossadas não avançaram como esperado, e até hoje apenas cinco restos mortais foram identificados.

"Ela foi uma espécie de comprovação de que havia um movimento deliberado do Estado para desaparecer com pessoas", afirma o jornalista, escritor e colunista do UOL Camilo Vannuchi, que lançou um livro sobre o tema.

As vítimas que estavam enterradas em Perus ocupavam as quadras 1 e 2 do cemitério, destinada a indigentes, e são corpos de enterros clandestinos feitos entre 1971 e 1973.

As ossadas estão sob posse da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) desde 2014, em armazenamento seguindo protocolos arqueológicos.

Depois de uma primeira análise, descobriu-se que metade daquelas pessoas foi morta de forma violenta, muitas à bala. "Eram cinco, seis, sete tiros, pessoas que estavam já rendidas", completa Vannuchi.

Grupo de trabalho na Unifesp conta com uma pessoa

Para o coordenador do Caaf (Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Unifesp, Edson Teles, a demora em obter as identificações ocorreu por falta de organização na pesquisa, que em 2014 veio a ter apoio internacional e verbas da União e da prefeitura paulistana.

Segundo Teles, os familiares das vítimas "desde os anos 1990 foram os pesquisadores principais do caso".

Aline Oliveira, antropóloga do Caaf da Unifesp, conta ao UOL que os trabalhos estão com ritmo bem reduzido desde ano passado. "A equipe foi sendo reduzida por falta de contratação de novos profissionais. Este ano as duas peritas que estavam vinculadas tiveram seu contrato encerrado em julho. Desde então a única funcionária destacada para o processo sou eu, como servidora da Unifesp", conta

Ela lembra que no ano passado houve a revogação de grupos de trabalho pelo governo federal, que resultou no fim do GT de Perus. "Apesar disso, nosso grupo de trabalho era sustentado por um instrumento técnico chamado Acordo de Cooperação Internacional. Esse acordo expirou ano passado e não foi mais renovado, por isso, o GT Perus não existe mais", conta.

Ministro diz que busca segue

Em resposta ao UOL, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanosinformou que o laboratório para fazer as análises já teve contrato renovado. Segundo a pasta, os resultados das análises do material enviado em 2019 devem sair em dezembro deste ano.

Ainda de acordo com o governo, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos garante que dará continuidade às atividades de identificação das ossadas "cujo prazo estimado é em 2022."

"Note-se que a Comissão teve o cuidado de contratar o ICMP [International Commission on Missing Persons], que lidera soluções de identificação humana por DNA de alto rendimento, do ponto de vista da capacidade de processamento de dados ou de informação do DNA. Deve-se ressaltar que está prevista a realização, quando necessário, de testes adicionais quando o teste inicial não houver fornecido resultado conclusivo a fim de garantir a identificação das ossadas", afirmou o ministério.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A primeira versão da reportagem errou ao dizer que duas ossadas foram identificadas desde a descoberta da vala de Perus. A informação correta é de que cinco pessoas foram identificadas a partir de restos mortais encontrados no cemitério clandestino em São Paulo.