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Professor diz que vítima 'colabora' com estupro; alunos pedem afastamento

Do UOL, em São Paulo

19/04/2021 10h35Atualizada em 21/04/2021 10h52

O delegado e professor de Direito Fábio Alonso disse durante uma aula que que algumas vítimas de estupro 'colaboram' com o crime. Após as declarações, alunos da instituição pediram o afastamento do docente em uma nota que foi compartilhada nas redes sociais. No texto, os estudantes alegam que as falas são "machistas" e "misóginas".

"Isso é inadmissível nos tempos em que vivemos e, por sermos aqueles que mantêm essa instituição com nossas mensalidades, queremos, o quanto antes, que o professor Fábio Pinha Alonso seja imediatamente afastado de suas funções", declararam.

Na nota, divulgada pela Associação Atlética Acadêmica de Direito, os estudantes dizem que tentaram dialogar com o docente após a aula, mas que ele tem demonstrado em entrevistas recentes que "não entendeu em nada o que foi explicado, ainda culpando os alunos" pela divulgação do vídeo em que as declarações foram feitas.

"Já não é de hoje que existem reclamações acerca do modo que o professor trata determinados temas em sala de aula, ao contrário do que defende em sua posição. Ex-alunos relatam que, em tempos de aulas presenciais, não gravadas, alguns comentários desnecessários e desrespeitosos eram corriqueiros, principalmente com mulheres", diz outro trecho da nota.

O caso

Durante uma aula que acontecia de forma remota, o professor e delegado Fábio Alonso disse que algumas vítimas de estupro "colaboram" para que o crime aconteça.

"Vejam até o comportamento da vítima. Vamos pensar, o que é mais fácil estuprar: uma freira de hábito ou aquela menininha com a cinta larga? Fala para mim, que vítima colabora mais?", disse o delegado que atua como docente em uma universidade particular do interior de São Paulo.

Segundo os estudantes, a aula em questão era sobre as circunstâncias judiciais da primeira fase de dosimetria, um ponto em que o juiz da causa deve levar em consideração quando está definindo a quantidade da pena a uma pessoa que cometeu o crime.

Outro exemplo foi dado por Alonso durante a aula, desta vez sobre casos de violência doméstica contra as mulheres.

"Quem apanha mais: a mulher passiva, que fica quietinha quando vê que o marido chegou 'de cara cheia', ou aquela que chega e diz 'olha ai, vai trabalhar seu vagabundo'. Quem apanha mais, a quietinha ou a 'bocuda'?", questionou o delegado.

Em uma nota de esclarecimento fixada na página da universidade em que o professor leciona, uma nota de esclarecimento diz que a instituição preza pela "liberdade de cátedra".

Ao mesmo tempo, a instituição alegou que "dada a polêmica gerada a respeito do posicionamento jurídico do professor", repudia qualquer tipo de descriminação ou ato de preconceito, seja por deficiência física ou mental, cultura, religião, nacionalidade, raça, classe social ou identidade de gênero.

A universidade disse que está apurando os fatos para uma "análise de eventual necessidade de adoção de providências".

O UOL entrou em contato com o professor Fábio Alonso para saber se ele gostaria de se posicionar sobre o caso.

O professor encaminhou um e-mail informando que o posicionamento dele estaria em um vídeo que foi encaminhado ao UOL. Nas imagens, não é possível identificar com quem Alonso conversa, mas parece uma aula aos estudantes da universidade em que ele leciona.

"O estudante tem que ser combativo, tem que correr atrás, é isso que muda o mundo. Se vocês não têm essa forma de pensar, se não tem essa preocupação, vamos ficar na mesmice. O fato de vocês estarem revoltados, pra gente que tem uma certa vivência, é algo que pode ser classificado como esperança. A gente está vendo que as coisas podem mudar, realmente", disse o professor no trecho do vídeo compartilhado com o UOL.

Também entramos em contato com a instituição, que afirmou que se posicionaria futuramente por nota. Ainda não recebemos.