Aposentado desaparece após vender imóvel sem conhecimento da família
O aposentado David Soares de Abreu, de 67 anos, desapareceu há cerca de um mês da casa onde morava há 7 anos, em Mongaguá, litoral de São Paulo, após vender o imóvel sem o conhecimento da família.
Os filhos alegam ter descoberto sobre o suposto negócio após familiares irem ao local e verem que uma outra pessoa estava morando na residência, que teria sido vendida por ele um dia antes de sumir e logo alugada para a inquilina, apenas dois dias depois.
O último contato que a família teve com David foi no dia 19 de março. Dois dias antes, ele procurou a filha, Lívia Abreu, mas ela não pôde atender ao telefonema. Quando a mulher retornou a ligação, o pai não atendeu.
Ela e uma irmã tentaram contato nos dias que se seguiram, mas ele também não respondeu. David era separado da esposa há 20 anos e, tanto a mulher quanto os quatro filhos do casal moram na capital paulista.
"Como ele teve há uns dois anos um AVC, ficamos preocupados que ele pudesse estar precisando de alguma coisa. Então pedi ao meu irmão, que ia trabalhar numa reforma no litoral, que passasse na casa dele. Isso foi no dia 19, por volta das 22 horas. Eles conversaram, a gente já sabia que ele queria vender o imóvel e voltar para São Paulo, para ficar perto da gente. Mas ele não comentou que já havia vendido a casa", contou Lívia.
O contrato de compra e venda do imóvel, que fica no bairro Jardim Praia Grande, no valor de R$ 30 mil, foi registrado na tarde do dia 19 em cartório, com firma reconhecida, no Tabelionato de Notas e de Protestos de Letras e Títulos de Mongaguá. Segundo discriminado no documento, o pagamento foi em espécie.
A família soube da venda do imóvel somente no dia 21 de março, quando Lívia e o irmão foram até Mongaguá para apurar o que estava acontecendo, já que, no dia 20, não conseguiram mais contato com ele. Além disso, um familiar teria comparecido ao local para tentar falar com o idoso, mas alega que encontrou outra pessoa ocupando o imóvel.
"Conseguimos contato com a compradora, que nos contou sobre o contrato, dizendo que já estava negociando com meu pai há algum tempo. Estranhamos, porque aquela casa vale uns R$ 85 mil. Não reconhecemos a assinatura dele no contrato. Sem falar que meu pai não era divorciado, então para vender a casa ele precisava da assinatura da minha mãe."
Lívia conta que o parente que esteve na residência da família no dia 20 garante que já encontrou uma outra pessoa morando no local. E que, inclusive, esse morador estaria doando e jogando fora vários objetos e pertences do aposentado. Entre eles, um par de óculos que o pai, segundo ela, dificilmente teria deixado para trás.
"A compradora alega que meu pai disse a ela que precisava vender rapidamente a casa para poder ajudar a ex-esposa, no caso, minha mãe, que estaria agonizando numa cama no Rio de Janeiro. Acontece que moramos em São Paulo e, no Rio de Janeiro, moram apenas a minha avó e os meus tios. Não sabemos o que pensar, mas eu temo pela vida do meu pai. Sinto que ele pode não estar vivo", concluiu.
Desde o dia 24 de março, a família vem publicando posts nas redes sociais, informando sobre o desaparecimento do aposentado. Mas, até o momento, não há pistas sobre seu paradeiro.
Arrependida do negócio
Compradora identificada no contrato de compra e venda, a comerciante autônoma Aline Cristina Cardoso, de 31 anos, declarou ao UOL estar arrependida de ter adquirido o imóvel.
A casa em que David morava fica em um terreno compartilhado por outras três residências. Em uma delas, a comerciante vive com os filhos pequenos há cerca de dois anos.
"Foi ele (David) quem ofereceu a casa dele para mim. Ele contou essa história de que a ex-esposa não estava bem de saúde e queria R$ 60 mil. Mas a casa não tem acabamento, não tem piso, está tudo no bloco ainda. E ela é bem menor que a que eu comprei, com todos os acabamentos e paguei R$ 50 mil. Então ofereci os R$ 30 mil e ele aceitou na hora".
Aline afirma que ainda não há ninguém morando no imóvel vendido pelo aposentado e que a pessoa que viram limpando a casa seria a sua futura inquilina, que precisava se mudar rapidamente para lá, pois a residência onde morava, no mesmo bairro, havia sido vendida e ela não teria onde morar.
"Mas ela não pôde se mudar. A casa estava toda detonada, o sofá estava imundo, o guarda-roupa todo estragado, com as portas caindo, roupas espalhadas por todo o lado, um nojo. Nós éramos vizinhos, e as histórias que chegavam para mim a respeito dele (David) não eram boas. Tanto que o contrato anterior, de quando ele comprou a casa, nem estava com ele. Mas com o proprietário de uma adega lá do bairro, que pegou o contrato como garantia de que ele pagaria uma dívida de R$ 1.500,00 que o David tinha com ele", declarou.
Um boletim de ocorrência pelo desaparecimento foi registrado pela família do aposentado na delegacia de Mongaguá e o caso segue sob investigação da Polícia Civil.
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